sábado, 3 de dezembro de 2011

"Continuando o debate com a minha gentil e educada colega sobre riscos de partos domiciliares:

O fato de você querer um parto hospitalar com todos os recursos é um direito seu; uma forma de exercer a sua cidadania e a autonomia sobre seu corpo, sua gestação e (em última análise) sobre seu destino. Para alguém como eu, que defende a liberdade como meta última, seria incongruente me posicionar contra tal decisão. Entretanto, peço que analise bem: trata-se uma posição pessoal, e inquestionável, pois é a SUA escolha. Por outro lado, não será uma forma racional de diminuir riscos, pois ao afastar os medos de permanecer em casa, o hospital vai incluir OUTROS riscos...

Quando você vai para um hospital poderá diminuir a chance de uma intercorrência raríssima, mas que seria mais bem atendida em um hospital. Por exemplo: prolapso de cordão, descolamento placentário e hemorragias pós parto. Entretanto, esses são exemplos de ocorrências mais comumente encontradas pelas intervenções HOSPITALARES, pois parteiros urbanos domiciliares não rompem bolsas e nem usam ocitocina (que aumentam os riscos de prolapsos ou sofrimentos fetais, descolamentos e hemorragias por atonia uterina). Assim, um parto em casa é LIMPO de interferências perigosas!!!

Desta forma, quando você escolhe um hospital, fecha as portas para os riscos de ocorrências raríssimas como as que eu citei (lembrando sempre que parto em casa planejado é para pacientes de BAIXO RISCO), mas abre MUITAS outras portas para eventos que, se estivéssemos nos mantido em casa, dificilmente ocorreriam. Uma mulher que coloca o pé para fora de sua casa em direção a um hospital para parir seu filho tem 52% de chances de que essa história vá terminar em uma grande cirurgia abdominal. E as cirurgias abdominais aumentam em MUITO a morbi-mortalidade do parto, como todos sabemos. Por essa razão, mesmo em locais como a Inglaterra, onde o índice de cesarianas é muito menor que o nosso, os riscos de ter um parto planejado em domicílio são iguais aos de ter seu bebê em um hospital.

Para finalizar, quero comentar a frase que disse no documentário "O Renascimento do Parto": "Diante das evidencias científicas atuais, que demonstram riscos equivalentes para partos em domicílio, Casas de Parto e hospitais, podemos pela primeira vez na história oferecer às mulheres o melhor de dois mundos: um parto empoderador e psicologicamente positivo, e igualmente cercado de segurança. Para algumas mulheres o calor e o afeto de suas casas será o melhor lugar. Para outras, uma Casa de Parto com sofisticação tecnológica, mas que simula o aconchego de um lar, será a escolha natural. Para muitas ainda, o hospital representará o melhor lugar, por lhe garantir acesso aos recursos mais sofisticados. TODAS estas mulheres tem o direito de parir onde se sentem melhor, e nós - governos, profissionais, mídia, políticos e legisladores - temos o dever de garantir o direito de escolha a todas elas.
Um beijo, Ric."

(Ricardo Herbert Jones, Médico Obstetra - http://www.facebook.com/ricardoherbertjones)
Resposta a uma crítica ao Parto Domiciliar planejado feita por uma colega educada e interessada em construir um modelo melhor para as mulheres e seus bebês:

"Caríssima colega, eu entendo perfeitamente sua preocupação e durante muitos anos em minha vida profissional eu compactuei com essa visão. A experiência pessoal como obstetra e o conhecimento de alternativas fora do nosso país me fizeram mudar a minha ideia sobre o evento. Os partos que você acompanha em hospital são artificialmente conduzidos e normalmente são plenos de drogas e intervenções, sejam de ordem química (hormônios), emocional, psicológica e postural.
Assim sendo, os problemas que você normalmente encontra em um hospital são na sua maioria iatrogênicos, produzidos por um ambiente hostil, frio e mecanizado para o nascimento de uma criança. É natural que sua visão sobre nascimentos seja distorcida, pois provavelmente nunca teve a oportunidade de acompanhar um parto totalmente livre de coerções externas.
E isso não é culpa sua, mas de um modelo de assistência iatrocêntrico (centrado no médico), etiocêntrico (centrado na doença) e hospitalocêntrico (que entende o hospital como o único lugar para o tratamento). Nós médicos somos, tanto quanto os pacientes, reféns de um modelo superado, que recebe críticas em todos os lugares do mundo moderno.
Para finalizar, caríssima colega, mais do que a sua opinião sobre essa questão, ou a minha, ambas de caráter pessoal e subjetivo, temos inúmeras publicações atuais que apontam para a segurança do parto planejado em domicílio. A última foi publicada na Inglaterra, com mais de 60 mil pacientes avaliadas, demonstrando a segurança do parto em domicilio e em Casas de Parto quando comparados com partos de baixo risco atendidos em hospital.
Este estudo recente, somando-se a tantos outros (Davis, Klein, De Jonge, etc..) prova que a opção de ter filhos em casa é SEGURA e legítima, pois que trata do exercício da cidadania e da autonomia. Proibir partos domiciliares SEM JAMAIS APRESENTAR UMA PROVA DO RISCO AUMENTADO (mas apenas insinuações ou opiniões pessoais) é tão grave quanto proibir pessoas de se amarem ou se alimentarem em suas casas, permitindo-as fazer isso apenas em hospitais e sob supervisão médica.
Um grande beijo, Ric"

(Ricardo Hebert Jones, Médico Obstetra - http://www.facebook.com/ricardoherbertjones)

Eu adoro o Ric e seus textos...
Faz anos e anos que sempre quando leio palavras dele fico feliz.
Bartira

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Médicos ingleses dizem que mulheres podem ter parto em casa

Pesquisadores não vêem problemas em gestações de baixo risco.
Taxa de complicação é a mesma de hospitais, afirma estudo.

Do G1, em São Paulo - http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2011/11/medicos-ingleses-dizem-que-mulheres-podem-ter-parto-em-casa.html

A mulher com gravidez de baixo risco pode ter a opção de fazer o parto em casa, afirmam médicos ingleses em um estudo publicado nesta semana na revista médica “British Medical Journal”. Segundo eles, embora o risco de complicações seja mais elevado no parto domiciliar, ele não é alto o suficiente para tirar a opção das mães.

A equipe de Peter Brocklehurst, da Universidade de Oxford, analisou mais de 64 mil nascimentos ocorridos após gestações de baixo risco. Ele comparou os problemas apresentados nos nascimentos ocorridos em casa, com uma parteira, em clínicas de parteiras com estruturas básicas de obstetrícia e em hospitais.

A taxa de problemas apresentados foi baixa em todos os partos – 4,3 para cada mil nascimentos –, independente do local onde ele foi feito.

O risco aumenta um pouco para mães de primeira viagem realizando partos em casa (9,3 para cada mil nascimentos), mas ainda continua baixo. Para mulheres que já tinham tido filhos, a taxa se manteve. As clínicas de parteiras não tiveram diferença de risco em comparação com os hospitais.

Segundo o levantamento, mulheres que tenham feito todo o pré-natal, tido acompanhamento médico e não apresentem nenhum problema ao longo da gestação, podem fazer o parto no ambiente em que se sentirem mais confortáveis.