"Mitos e Fatos. São poucos os fatos da vida envoltos
em tanto mistério, medos e tabus quanto o parto. Talvez nem o sexo tenha sido
tão mistificado, alguém aqui já ouviu falar de quem tenha medo de morrer de
sexo? Ou de ter falta de líquido, cordão enrolado, bacia estreita para o sexo?
Quem já esteve grávida fartou-se de ouvir de amigos,
parentes, conhecidos e até de desconhecidos sobre os grandes perigos do parto.
Todo mundo tem uma história trágica a contar. São tantas histórias dramáticas
que não consigo entender como é que as nossas cidades não estão povoadas de
pessoas lesadas, paralisadas, ressecadas e enroladas em cordões assassinos! Sem
contar nas mulheres alargadas e com incontinência urinária no último grau.
Qual é a grávida que não foi parada pela manicure, pela
cobradora do ônibus, pela cunhada da prima da vizinha para ouvir uma história
tenebrosa sobre o bebê que bebeu água do parto, que chorou na barriga, que fez
cocô no líquido amniótico, que secou de tanto que passou da hora, que tinha 30
voltas de cordão no pescoço, que teve um parto seco, que teve um fórceps tão
forte que lhe afundou o crânio de lado a lado?
Se você está grávida e se a sua barriga já aparece,
certamente você já ouviu uma história dessas e não gostou nada dos pulos que
seu coração deu. Pensando em ajudar as mulheres que se encontram nessa
situação, aqui vão algumas dicas para ajudar a desmistificar os "grandes
perigos" que as cercam quanto mais o parto se aproxima.
*** MITO: Falta de Dilatação ***
EXPLICAÇÃO - Muitas mulheres hoje em dia dizem que não
conseguiram ter um parto porque tiveram falta de dilatação.
FATOS - Tecnicamente não existe falta de dilatação em
mulheres normais. Ela só não acontece quando o médico não espera o tempo
suficiente. A dilatação do colo do útero é um processo passivo que só acontece
com as contrações uterinas.
*** MITO: Bacia Estreita ***
EXPLICAÇÃO - Uma mulher com bacia estreita não teria
espaço para a passagem do bebê
FATOS - Existem situações não muito comuns em que um bebê
é grande demais para a bacia da mulher, ou então está numa posição que não
permite seu encaixe. Não mais que 5% dos partos estariam sujeitos a essa
condição. Além disso, tecnicamente é impossível saber se o bebê não vai passar
enquanto o trabalho de parto não acontecer, a dilatação chegar ao máximo e o
bebê não se encaixar.
*** MITO: Parto Seco ***
EXPLICAÇÃO - Um parto depois que a bolsa rompeu seria uma
tortura de tão doloroso.
FATOS - A verdade é que depois que a bolsa rompe o
líquido amniótico continua a ser produzido, e a cabeça do bebê faz um efeito de
"fechar" a saída, de modo que o líquido continua se acumulando no
útero. Além disso o colo do útero produz muco continuamente que serve como um
lubrificante natural para o parto.
*** MITO: Parto Demorado ***
EXPLICAÇÃO - Um bebê estaria correndo riscos porque o
parto foi/está sendo demorado.
FATOS - Na verdade o parto nunca é rápido demais ou
demorado demais enquanto mãe e bebê estiverem bem, com boas condições vitais, o
que é verificado durante o trabalho de parto. Um parto pode demorar 1 hora como
pode demorar 3 dias, o mais importante é um bom atendimento por parte da equipe
de saúde. O que dá à equipe as pistas sobre o bebê são os batimentos cardíacos.
Enquanto eles estiverem num padrão tranquilizador, então o parto está no tempo
certo para aquela mulher.
*** MITO: Bebê passou da hora ***
EXPLICAÇÃO - O bebê teria como uma "data de
validade" após a qual ele ficaria doente
FATOS - Os bebês costumam nascer com idades gestacionais
entre 37 e 42 semanas. Mesmo depois das 42 semanas, se forem feitos todos os
exames que comprovem o bem estar fetal, não há motivos para preocupação. O
importante é o bom pré-natal. Caso os exames apontem para uma diminuição da
vitalidade, a indução do parto pode ser uma ótima alternativa.
*** MITO: Cordão Enrolado ***
EXPLICAÇÃO - A explicação é de que o bebê iria se
enforcar no cordão umbilical
FATOS - O cordão umbilical é preenchido por uma gelatina
elástica, que dá a ele a capacidade de se adaptar a diferentes formas. O
oxigênio vem para o bebê através do cordão direto para a corrente sanguínea.
Assim, o bebê não pode sufocar.
*** MITO: Não entrou/não teve trabalho de parto ***
EXPLICAÇÃO - A idéia aqui é de que a mulher em questão
tem uma falha que a impede de entrar em trabalho de parto
FATOS - A verdade é que toda mulher entra em trabalho de
parto, mais cedo ou mais tarde. Ela só não vai entrar em trabalho de parto se a
operarem antes disso.
*** MITO: Não tem dilatação no final da gravidez ***
EXPLICAÇÃO - A explicação é que o médico fez exame de
toque com 38/39 semanas e diz que a mulher não vai ter parto porque não tem
dilatação nenhuma no final da gravidez.
FATOS - Tecnicamente uma mulher pode chegar a 42 semanas
sem qualquer sinal, sem dilatação, sem contrações fortes, sem perder o tampão e
de uma hora para outra entrar em trabalho de parto e dilatar tudo o que é
necessário. É impossível predizer como vai ser o parto por exames de toque
durante a gravidez.
*** MITO: Placenta envelhecida ***
EXPLICAÇÃO - A placenta ficaria tão envelhecida que não
funcionaria mais e colocaria em risco a vida do bebê
FATOS - O exame de ultra-som não consegue avaliar
exatamente a qualidade da placenta. A qualidade da placenta isoladamente não
tem qualquer significado. Ela só tem significado em conjunto com outros
diagnósticos, como a ausência de crescimento do bebê, por exemplo. A maioria
das mulheres têm um "envelhecimento" normal e saudável de sua
placenta no final da gravidez. Só será considerado anormal uma placenta com
envelhecimento precoce, por exemplo, com 30 semanas de gravidez.
Curiosamente, a amamentação também tem uma maravilhosa
lista de mitos e lendas, sempre no sentido de diminuir a confiança da mãe em
sua capacidade. Se você conhece algum mito interessante do parto ou da
amamentação que queira nos contar, nós poderemos incluir neste quadro!
Aproveite agora para cuidar de você e do seu bebê. Não deixe que os pessimistas
de plantão estraguem esse maravilhoso momento da vida de vocês."
Por Ana Cristina Duarte, obstetriz.
Para o site do Parto do Princípio - Mulheres em Rede pela
Maternidade Ativa