quarta-feira, 27 de agosto de 2003

Carta ao meu ex-obstetra

Faria,

Pensei muito antes de te escrever, afinal a minha mãe, Silvia, foi e é sua fã durante esses 20 anos que te conhece. Por causa dela te escolhi para ser meu médico durante esse momento tão especial que foi a minha gravidez. A gestação do meu primeiro filho. Após uma cansativa jornada de muitas angústia, raiva, tristeza e decepção de exatos 9 meses, é chegado o grande dia de lavar a alma.

Escolhi essa data pq é o tempo exato de uma gestação. Talvez você nem se lembre disso, já que as gestantes que entram no seu consultório tem uma chance muito maior de terem suas gravidezes interrompidas aos 8 meses e meio, de uma maneira muito mais tranquila pra você. Uma intervenção cirúrgica.

Depositei toda a minha confiança em você, acreditando que pudesse me proporcionar uma gestação e um parto seguro, baseado no meu desejo. Mas você, a toda consulta, sempre se mostrou distante, técnico e frio, medicalizando minha gravidez e monitorando meu filho através de exames invasivos e sem necessidade, sem incentivar minha participação no processo.

Jamais você se preocupou em me indicar exercícios para fortalecer meu períneo, nem me deu dicas de como me preparar para o parto normal. Toda vez que eu falava em parto, você dizia pra deixar pra depois. Não me explicou nem se quer como eram os estágios do trabalho de parto, e nem como era uma contração. Em nenhum momento você me preparou para um parto normal e não fez isso pq sabia desde o início que seria uma cesárea. Você sempre soube disso, pq sabia como conseguir uma. E conseguiu.

Você nunca foi a favor do parto normal, apesar de ter me dito isso na primeira consulta. Você ignorou meu desejo de parir meu filho de forma natural, me aterrorizou com resultados de exames que muito provavelmente não atrapalhariam o meu parto. E eu sempre fui uma grávida de baixo risco.

Como uma pessoa informada que é, com tantos anos de profissão, você sabe que o índice de bebês que se enrolam em cordões é muito alto. Cerca de 30%. Da mesma maneira você sabe que bebês podem nascer de parto normal, nessas condições. Se você não sabe como faz, pergunte a sua mãe ou a alguma tia sua, como era quando elas nasceram. Quando não existia essa cirurgia que vocês adoram, crianças nasciam enlaçadas, com seus cordões desenrolados no momento do parto. E se não for possível, você sabe que hoje em dia dá tempo de fazer a cirurgia. E você, Faria, também sabe. É muito melhor e mais seguro que a mulher entre em trabalho de parto, pois ele que indica que o bebê está pronto pra nascer. Mas você preferiu me enrolar, dizer que era arriscado pro bebê continuar na minha barriga. Preferiu falar que não valia a pena e que seria muito "arriscado" e poderiam acontecer "imprevistos". Ainda me "tranquilou" (a si mesmo) dizendo que "cesárea não era um bicho de 7 cabeças".

Muito melhor seria pra ele se nascesse numa quarta-feira às 19:00. Engraçado que era bem no horário vago da sua agenda, naquele dia que você não atende no consultório. Talvez seja por isso que você não me disse que numa próxima gravidez já seria considerada uma grávida já não tão de baixo risco. Tenho uma cesárea prévia, e você sabe que aqui no Brasil, poucos médicos fazem parto normal após cesariana. Também não me disse dos riscos de infecção, nem de desconforto respiratório do bebê, nada disso. Afinal, não te interessava. O bom era falar que parto normal era arriscado. E cesárea, super segura, não é mesmo?

Sabe, Faria, o parto não pode ser um evento só seu e da sua equipe. Deixe isso ser vivido pela mulher. Dê a ela, o que é só dela. Ao inventar aquele motivo para me operar, você tirou de mim uma grande oportunidade de vivenciar o momento mais importante da minha vida. Você naquele momento me colocou como coadjuvante no processo (como sempre foi, desde o pré-natal).

Você se aproveitou da minha ingenuidade e inexperiência, para me desencorajar do meu parto, para me fazer acreditar que eu não poderia ser capaz de parir meu filho.

Fico pensando diariamente...

Como alguém pode fazer uma operação em outra, cortar 7 camadas dos seu corpo, retirar seu filho antes do tempo de nascer, por puro e simples comodismo?!

Como alguém pode impedir que mulheres se tornem mais confiantes e seguras, parindo elas mesmas seus filhos, protagonizando seus partos, simplesmente pq é mais fácil que elas fiquem "na mão" da equipe!?

Como alguém pode submeter mulheres e seus filhos a um risco de morte 10x maior, sujeitas a um risco maior de infecção hospitalar, depressão pós-parto, desenvolvimento de endometriose, bebês com sofrimento respiratório (como foi o caso do João, que ficou 14 horas na UTI), entre outros, pq não querem perder seus tempos "respeitando" a hora do nascimento!?

Penso que isso é uma coisa muito grave. Pessoas vão pra cadeia por motivos muito menores que esse.

Atendimentos como o seu e o da maioria dos médicos, principalmente da rede particular, me envergonham profundamente. No Brasil, o parto já perdeu há muito tempo, sua essência feminina, natural e fisiológica. Se transformou em algo que deva ser medicalizado e centrado na figura do médico. A protagonização desse evento foi tomado da mulher e entregue nas mãos dos médicos, que se utilizam do excesso de intervenções e tecnologias, de forma desenfreada, quase sempre pra se encontrar desculpas como as que você inventou, para me fazer uma cirurgia desnecessária.

Por outro lado, tudo isso não foi de todo ruim. Graças a essa imensa decepção, pude me fortalecer. Essa carta também é pra comunicar que após esses 9 meses, nasceu uma nova pessoa. Morreu a alienada, passiva, que não acreditava nas suas capacidades. E nasceu uma mulher mais forte, ativa, corajosa, que acima de tudo ouve os seus desejos, nem que para isso tenha que trocar de médico cem vezes. Passei a ler muito sobre o assunto, e fiz até um site que ajuda mulheres a se safarem de médicos como você. No meu site posso fazer indicações de médicos que realmente acreditam que mulheres podem parir, e tem certeza que o parto é um acontecimento fisiológico e natural. Já consegui ajudar algumas mulheres a não cometerem a besteira de continuar com um médico cesarista. E hoje sou uma grande defensora do parto natural, onde intervenções só são feitas quando realmente necessárias. No final do mês de agosto, farei um curso para que possa acompanhar, informar e confortar gestantes nesse momento crucial das suas vidas, o nascimento dos seus filhos. Sei que a minha presença no parto delas pode reduzir pela metade o número de cesáreas desnecessárias como a que você me fez. E só isso já me deixa muito feliz!

Um abraço. E quem sabe ainda não nos encontramos por aí, em algum hospital da vida.

Ingrid e João (nascido em 23/10/02, de cesárea de "emergência", mas marcada com antecedência)

segunda-feira, 25 de agosto de 2003

Resultado da segunda enquete: Se pudesse escolher, que parto teria?



O resultado confirma: 80,80% das mulheres que visitaram o blog, preferem ter parto vaginal, seja ele normal hospitalar, natural hospitalar ou natural domiciliar. Apenas 19,20% preferem uma cesárea eletiva.

Por que então, no resultado da Enquete: Que tipo de parto você teve tivemos o resultado de 58,18% de cesarianas e 41,82% de partos vaginais?

Será que o alto índice de cesarianas no Brasil se deve realmente a preferência feminina!? Ou será que nossos médicos mesmo preferem fazer cesáreas, mesmo que sejam desnecessárias!?

O índice recomendado pela OMS seria de 15% de cesarianas. No Brasil, em hospitais hospitalares, esse índice muitas vezes ultrapassa 90%.

Veja mais nessa matéria que saiu recentemente no Estadão: Mulheres preferem normal. Médicos, cesárea

quarta-feira, 20 de agosto de 2003

Medo e falta de informação confundem grávidas na hora de escolher o tipo de parto

Patricia Vieitez - Americana

O Brasil já foi campeão mundial em realização de cesáreas. Hoje, quem ocupa a liderança é o vizinho Chile. Aqui a realidade mudou depois que o Ministério da Saúde decidiu acatar, em 2000, as recomendações da OMS (Organização Mundial de Saúde) sobre partos, entre elas, um teto máximo de 15% de cesarianas. Mesmo assim, segundo a co-fundadora do site www.amigasdoparto.com.br e presidente da ONG Parto e Companhia, Adriana Tanese Nogueira, o índice chega a 40%.

Em clínicas particulares o número mais que dobra: entre 70% e 95% dos partos realizados são cirúrgicos. Na opinião dela, o que gera isso é uma desinformação generalizada. Por um lado, a gestante não sabe como e o que considerar para fazer a opção, por outro muitos médicos dão preferência para a cesárea.

A balconista Rosemery Henrique Costola, 24, está para ter o primeiro filho, mas há meses havia se decidido pela cesárea. Segundo ela, não é medo da dor e sim dos riscos que ela acredita passar se fizer um parto normal. "O pessoal fala muita coisa, tem que tomar cuidado que passa da hora do bebê nascer, a placenta pode descolar, acontece tanto erro médico que não dá para confiar", justificou. Seu obstetra chegou a pedir que ela pensasse melhor, mas não se opôs à decisão.

De acordo com o diretor técnico do Hospital Municipal Dr. Waldemar Tebaldi, o obstetra Libório Albim, o que favorece esse tipo de posição é realmente a falta de informação, mas também a cultura popular. "Há um certo mito que o normal gera mais complicações fetais, o que não é verdade".

Inclusive, a verdade está bem longe disso. No parto natural as complicações são menores: há menos incidência de infecções, complicações hemorrágicas pós-parto e a recuperação da paciente é mais rápida.

Entretanto, porquê o alto índice de cesarianas? Adriana acredita que os médicos abusam da prática cirúrgica porque a cesariana é mais prática e econômica. Enquanto um parto normal pode durar entre seis e sete horas e cerca de uma hora é suficiente para uma cesariana, o que significa otimização de tempo e ganhos com outras atividades.

Outro fator que ela considera influente nas altas taxas de cesarianas é a formação médica, "mais voltada para o uso de tecnologia". "Há carência na formação para lidar com um evento sobre o qual não se tem controle", avaliou.

Albim admitiu que existe um "próprio fator médico" nesse quadro, pois os especialistas precisam ter muitos empregos "para ganhar um X", mas a segurança da cesárea, que evoluiu muito, também faz com que alguns médicos realizem mais cirurgias que partos normais.

Além disso, o fator psicológico relacionado à dor e ao sofrimento com a possibilidade de horas de trabalho de parto, faz com que a paciente e a própria família chegue a exigir uma cesariana, relatou.

Ele mesmo não vê grandes desvantagens com a cirurgia. "Pode ser programada, tem segurança muito elevada e limita a dor do trabalho de parto. É muito difícil uma paciente que quer o parto normal".

Totalmente avessa às cesáreas, Adriana explicou que nem o parto normal é feito de acordo com as recomendações da OMS e acaba sendo uma experiência traumática para a mulher. "Ela fica deitada, despida de tudo, deixada sozinha", argumentou, dizendo que o fato de ficar imobilizada e monitorada só gera um estado de ansiedade "porque se supõe que algo pode dar errado".

Segundo Adriana, pesquisas comprovam que quanto mais ela andar, mais estiver amparada pelas pessoas que ama, mais rápido e mais fácil será o processo. Inclusive, no Estado de São Paulo há uma lei que garante à mulher o direito de ter um acompanhante de sua escolha antes, durante e depois do parto, o que nem sempre é permitido nos hospitais.

NORMAL

Em 2002, Nova Odessa e Paulínia registraram mais partos normais que cesarianas, pelo menos no setor público. Mas Americana, apesar de ter acumulado mais cesáreas em 2002, está aumentando o índice de normais, segundo Albim. "Hoje a média de partos normais é, no mínimo, 50% maior que de cesarianas", afirmou. E isso só está acontecendo porque o Hospital Municipal Dr. Waldemar Tebaldi, implantou um plantão efetivo de obstetrícia. Assim, os médicos ficam dentro do hospital cumprindo a carga horária que lhes é devida e não são chamados só na hora que o bebê está para nascer. "Agora eles podem acompanhar tudo de perto".

A auxiliar administrativa Marta Teixeira Lima, 34, não tem dúvidas: quer parto normal. "Vou ficar frustrada se não conseguir", atestou, dizendo que acha o parto normal "mais bonito e mais saudável".

Marta disse não temer a dor, que acredita ser suportável, tanto que nem quer o parto totalmente sem dor, prefere só a anestesia local para o corte do períneo. "Minhas tias e minha mãe tiveram partos normais", lembrou.

E o "dia D" está chegando. O menino, Pedro Lucas, está previsto para chegar a qualquer momento. A expectativa pelo parto normal pode durar até dia 25, data máxima que ela vai poder esperar o sinal. Mas nada de nervosismo. "Estou bem tranqüilona", garante.

quinta-feira, 14 de agosto de 2003

Para obstetra francês Michel Odent, parto humanizado aumenta vínculo entre mãe e bebê

AURELIANO BIANCARELLI
da Folha de S.Paulo


O parto "moderno", realizado por cesáreas ou com a ajuda de hormônios sintéticos que aumentam as contrações, leva a uma diminuição do vínculo entre mãe e filho. No parto natural, o organismo das fêmeas libera uma série de hormônios, entre eles a ocitocina, responsável pelas contrações e pelo forte apego que imediatamente sentem pelo filhote.

O obstetra francês Michel Odent, que defende o parto humanizado, chama a ocitocina de "hormônio do amor". Em um dos seus livros, ele relata que ratas virgens, que receberam sangue de ratas recém paridas, se apegaram imediatamente a filhotes colocados ao seu lado.

Autor de dez livros, entre eles "A Cientificação do Amor" e "O Renascimento do Parto", Michel Odent esteve no Brasil para lançar seu último trabalho, "O Camponês e a Parteira - Uma Alternativa à Industrialização da Agricultura e do Parto" (Editora Ground, 192 páginas, R$ 26).

Odent prega uma atitude "biodinâmica", que proteja e dê segurança à mulher, "radicalmente diferente da atitude médica dominante" na maioria dos países.

Pioneiro

Pioneiro na adoção de práticas do nascimento humanizado, como casas e banheiras de parto, ele veio ao Brasil a convite da Rehuna, Rede pela Humanização do Parto e Nascimento, que congrega mais de cem instituições, entre organizações não-governamentais, pesquisadores de universidades, órgãos de governos e grupos de mulheres de todo o país.

No ano passado, a Rehuna lançou uma campanha pelo direito de a mulher brasileira escolher o acompanhante na hora do parto. Esse direito é previsto em lei no Estado de São Paulo, mas não é cumprido ainda por muitos hospitais, públicos e privados. Parte dessa bandeira é a inclusão nas maternidades das doulas, voluntárias treinadas que acompanham as mulheres quando entram no hospital.

Um dos argumentos da rede a favor do parto humanizado é que ele favorece a redução do número de cesáreas, prática na qual o Brasil é um dos campeões. Da mesma forma, a Rehuna defende o parto humanizado como contraponto a uma série de procedimentos médicos desnecessários.

Um desses procedimentos é a episiotomia, pequeno corte nas laterais da vagina feito na hora do nascimento do bebê. A rede que trouxe Michel Odent ao Brasil vai lançar no final de maio uma campanha nacional contra as episiotomias desnecessárias.

Abaixo, trechos da entrevista com o obstetra francês:

Folha - É possível dizer que hoje mãe e filho são mais respeitados no nascimento do que foram antes?

Michel Odent - Há uma vontade crescente de ser mais respeitoso com as mães e seus bebês, mas a prioridade hoje é redescobrir as necessidades das mulheres em trabalho de parto e de seus bebês. (...) Atualmente, a prioridade é satisfazer as necessidades mamíferas básicas, isto é, satisfazer a necessidade da mulher de se sentir segura e a sua necessidade de ter privacidade.

Folha - Quais as forças contrárias ao parto humanizado?

Odent - São, de maneira geral, a falta de interesse em relação aos efeitos, a longo prazo, da maneira pela qual nascemos e uma dificuldade de pensar em termos de civilização. A questão central é o desenvolvimento do que chamo de uma atitude biodinâmica em relação ao parto, que é radicalmente diferente da atitude médica dominante. Hoje, quando o trabalho de parto é longo e difícil, a reação comum é substituir os hormônios naturais que a mulher não está liberando por equivalentes farmacológicos. Outra atitude médica é recorrer de imediato à cesariana.

Folha - E como pode-se explicar uma atitude biodinâmica?

Odent - Uma atitude biodinâmica implicaria, como primeira opção, tentar modificar o ambiente para que a mulher pudesse fazer uso, com maior facilidade, de seu potencial fisiológico. Por exemplo, se o parto está difícil e doloroso, o convencional é recorrer a uma anestesia peridural, enquanto uma atitude biodinâmica seria recorrer, em primeiro lugar, a uma banheira de parto.

quarta-feira, 13 de agosto de 2003

Quem são as Doulas

O que significa "doula"

A palavra "doula" vem do grego "mulher que serve". Nos dias de hoje, aplica-se às mulheres que dão suporte físico e emocional a outras mulheres antes, durante e após o parto.

Antigamente a parturiente era acompanhada durante todo o parto por mulheres mais experientes, suas mães, as irmãs mais velhas, vizinhas, geralmente mulheres que já tinham filhos e já haviam passado por aquilo. Depois do parto, durante as primeiras semanas de vida do bebê, estavam sempre na casa da mulher parida, cuidando dos afazeres domésticos, cozinhando, ajudando a cuidar das outras crianças.

Conforme o parto foi passando para a esfera médica e nossas famílias foram ficando cada vez menores, fomos perdendo o contato com as mulheres mais experientes. Dentro de hospitais e maternidades, a assistência passou para as mãos de uma equipe especializada: o médico obstetra, a enfermeira obstétrica, a auxiliar de enfermagem, o pediatra. Cada um com sua função bastante definida no cenário do parto.

O médico está ocupado com os aspectos técnicos do parto. As enfermeiras obstetras passam de leito em leito, se ocupando hora de uma, hora de outra mulher. As auxiliares de enfermeira cuidam para que nada falte ao médico e à enfermeira obstetra. O pediatra cuida do bebê. Apesar de toda a especialização, ficou uma lacuna: quem cuida especificamente do bem estar físico e emocional daquela mãe que está dando à luz? Essa lacuna pode e deve ser preenchida pela doula ou acompanhante do parto.

O ambiente impessoal dos hospitais, a presença de grande número de pessoas desconhecidas em um momento tão íntimo da mulher, tende a fazer aumentar o medo, a dor e a ansiedade. Essas horas são de imensa importância emocional e afetiva, e a doula se encarregará de suprir essa demanda por emoção e afeto, que não cabe a nenhum outro profissional dentro do ambiente hospitalar.

O que a doula faz?

Antes do parto a ela orienta o casal sobre o que esperar do parto e pós-parto. Explica os procedimentos comuns e ajuda a mulher a se preparar, física e emocionalmente para o parto, das mais variadas formas.

Durante o parto a doula funciona como uma interface entre a equipe de atendimento e o casal. Ela explica os complicados termos médicos e os procedimentos hospitalares e atenua a eventual frieza da equipe de atendimento num dos momentos mais vulneráveis de sua vida. Ela ajuda a parturiente a encontrar posições mais confortáveis para o trabalho de parto e parto, mostra formas eficientes de respiração e propõe medidas naturais que podem aliviar as dores, como banhos, massagens, relaxamento, etc..

Após o parto ela faz visitas à nova família, oferecendo apoio para o período de pós-parto, especialmente em relação à amamentação e cuidados com o bebê.

A doula e o pai ou acompanhante

A doula não substitui o pai (ou o acompanhante escolhido pela mulher) durante o trabalho de parto, muito pelo contrário. O pai muitas vezes não sabe bem como se comportar naquele momento. Não sabe exatamente o que está acontecendo, preocupa-se com a mulher, acaba esquecendo de si próprio. Não sabe necessariamente que tipo de carinho ou massagem a mulher está precisando nessa ou naquela fase do trabalho de parto.

Eventualmente o pai sente-se embaraçado ao demonstrar suas emoções, com medo que isso atrapalhe sua companheira. A doula vai ajudá-lo a confortar a mulher, vai mostrar os melhores pontos de massagem, vai sugerir formas de prestar apoio à mulher na hora da expulsão, já que muitas posições ficam mais confortáveis se houver um suporte físico.

O que a doula não faz?

A doula não executa qualquer procedimento médico, não faz exames, não cuida da saúde do recém-nascido. Ela não substitui qualquer dos profissionais tradicionalmente envolvidos na assistência ao parto. Também não é sua função discutir procedimentos com a equipe ou questionar decisões.

Vantagens

As pesquisas têm mostrado que a atuação da doula no parto pode:


  • diminuir em 50% as taxas de cesárea
  • diminuir em 20% a duração do trabalho de parto
  • diminuir em 60% os pedidos de anestesia
  • diminuir em 40% o uso da oxitocina
  • diminuir em 40% o uso de forceps.

Embora esses números refiram-se a pesquisas no exterior, é muito provável que os números aqui sejam tão favoráveis quanto os acima mostrados.

Ana Cris Duarte
Doulas.com.br

fonte: http://www.doulas.com.br/doulas.html

segunda-feira, 11 de agosto de 2003

Como devo me preparar para o Parto Natural!?

fonte: http://www.maternatura.med.br

Preparação tanto física (condicionamento) como preparação específica para o parto. Deve-se fazer exercícios durante a gravidez, principalmente de alongamento; ficar na posição de cócoras em atividades cotidianas como conversar, assistir televisão, etc.. A natação, por exemplo, melhora o corpo inteiro; a yoga ajuda tanto no alongamento como no treinamento de respiração e na capacidade de concentração.

A respiração é fundamental! Se estiver automatizada (pela repetição) quando chegar o parto saberá tranqüilamente como proceder. A respiração de "cachorrinho" deve ficar para o fim do período de dilatação ou para o expulsivo propriamente dito.

Dar à luz é como escalar uma montanha, além do treinamento físico, obstinação, se não souber administrar o gasto de energia durante o percurso não se atinge o alvo...

Outro recurso que pode ajudar é o Tai-chi chuam, coopera no centrar-se. Caminhar todas as manhãs, começando com um percurso pequeno e ir aumentando gradativamente até atingir 1.500 m, isto massageia o pé e evita o inchaço, ajuda no retorno venoso, tanto a mulher descalça ou com um calçado de sola resistente - não de borracha.

Alimentação deve ser o mais natural possível, evitando-se principalmente o açúcar e todos os alimentos que o contenha (refrigerantes, sorvetes, etc.).

Evitar enlatados. Dar preferência pela manhã às frutas, sucos e cereais. As refeições devem ser precedidas de uma boa dose de alimentos crus (saladas). Evitar oleosos, muito óleo na comida, frituras, etc., pois além de não fazer bem para o fígado, também vai deixar sua pele muito oleosa.

Para que se escute a música que somente fizer bem no momento do parto, pode-se gravar uma fita com antecedência, escutá-la na gravidez, e particularmente durante parto. Preferencialmente músicas que a mãe sinta que o bebê ficou bem, tranqüilo, calmo.

Algumas experiências revelam que se, após o parto, o bebê estiver meio agitado, colocando-se estas músicas que escutava durante a gravidez acalma-se de pronto.

Quem vai estar presente?

A resposta é bem particular. Não há regras. Há mães que gostariam de festa, gente por perto, massagem, confete... outras podem preferir só a presença do marido e da equipe médica e não ser incomodada com nada, ficar na dela....

Se escolher alguém, procure quem já lhe conhece bastante, que lhe trás segurança, e se for mulher, que tenha tido uma BOA EXPERIENCIA DE PARTO, o que de partida já contra-indica quase a maioria das mães.

Outra coisa que não se deve tirar da cabeça é que a decisão REAL do local do parto é quando entrar em trabalho de parto, e mesmo assim se houver fatores que determinem um transporte para o hospital, ele será feito a tempo, isto é antes que ocorram complicações.

Por isso deve-se ter a mente aberta para o desenrolar não ser como o ideal previsto, pois O DETERMINANTE DAS DECISOES É A SEGURANÇA DO BINOMIO MATERNO-FETAL, aceitamos a frustração mas não a decepção.

A EQUIPE deve ser escolhida com carinho. Deve-se conhecer outras pessoas que já tiveram partos com esta equipe, procure informações na Internet sobre o tipo de parto que você esta escolhendo.É interessante pensar em uma doula.

No caso de realmente optarem pela experiência do parto não-hospitalar, primeiramente deve-se imaginar como tudo vai acontecer, onde gostaria de ter seu bebê, e fazer todos os preparativos necessários. Se optar pela sua casa, escolher o "cantinho" onde o bebê vai nascer, colocar um colchão no chão, almofadas..., um abajur com luz azul ajuda a relaxar.

Por volta da 37a semana fazemos uma visita preliminar ao seu lar, onde discutiremos os detalhes não abordados nesta comunicação. Caso prefira tê-lo na Clínica, visite o lugar, tenha uma experiência de aromaterapia, desfrute da banheira enquanto grávida, e deixe claro que esta é a sua opção.

domingo, 10 de agosto de 2003

Parto Domiciliar/Casa de Parto

fonte: http://www.maternatura.med.br/

Esta forma de nascer tem sido escolhida por muitos casais que tem a possibilidade de um parto hospitalar por convicções pessoais sobre o que um parto deve ser para eles.

Tem sido criticada pela maioria dos médicos em geral, porém há muitos dados e informações que estes não tem acesso, talvez depois de ler este COMPLETÍSSIMO documento poderiam pelo menos não dizer que quem pensa em um parto assim é louco, mas sabe muito bem o que está querendo na vida.

Favor conferir: IS HOMEBIRTH FOR YOU? 6 mitos do parto domiciliar discutidos. Editora Janet Tripton, publicado em 1990 pelos Friends of homebirth.

Outros artigos disponíveis:

São dicas práticas, com algumas observações histórico-sociais, para melhor compreensão do contexto moderno de atenção ao parto.

Estas dicas valem tanto para quem deseja um parto natural, hospitalar, domiciliar, em Clínicas de parto ou mesmo uma cesariana.

Parto não institucional:


História

Um parto fora do hospital, apesar de ser um acontecimento não muito comum, não é algo assim tão extraordinário.

Afinal, muitos dos nossos pais nasceram em casa. Em um passado não muito remoto, este era o meio mais comum de se vir ao mundo, por exemplo: na cidade de São Paulo, em 1958 cerca de 55% dos partos foram domiciliares.

Em muitos lugares do Brasil ainda se nasce assim (regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste) onde existem poucos hospitais, ou é muito difícil o acesso a centros terciários de atenção a saúde. A ressalva é que nestes casos o parto geralmente é realizado por matronas, ou parteiras tradicionais.

Depois (década de 60) veio a modernização!! A tecnologia! A produção em série, que infelizmente também acabou contaminando a saúde. Não que isto em si seja ruim, mas que acaba relegando ao descrédito muitos elementos que são benéficos a humanidade. Aliás o homem moderno sofre dos efeitos deste processo, onde temos um desenvolvimento tecnológico cada vez maior em detrimento da perda da qualidade humana, um homem agressivo. Mais tecnologia e menos segurança social, menos felicidade. Junto com a moda do modernismo, onde o que o melhor é o que é mais novo, passou-se a nascer nos hospitais. Lá é que é seguro! MODERNISMO. A televisão é o veículo homogeneizador.

Um liqüidificador do pensamento da sociedade. Mas será que tudo o que é mostrado às pessoas é verdade? Será que todos estão contentes com estas mudanças?

Parece que não! O mundo desenvolvido, tanto nos centros desenvolvidos dos países do terceiro mundo como nos países de primeiro mundo, assiste a um certo retorno ao verde, ao primitivo, ao natural. Em todos os lugares temos lojas de produtos naturais, nos supermercados, nas farmácias. Todos querem ter plantas vivas em suas casas. A homeopatia se expande em progressão geométrica, pelos seus resultados e não pela propaganda. A acupuntura também adquire cada vez com mais adeptos. Em vários países são proibidos aditivos alimentares artificiais, corantes, etc., particularmente nos Estados Unidos, onde se constatou a toxicidade de vários elementos.

O "movimento Leboyer", na década de 70, desencadeou a luta por um parto mais natural no mundo inteiro.

Porque um poeta que lançou ao mundo imagens e conceitos em forma de poesia (não de experimentos "científicos" provocou uma revolução tão grande?

Em muitos países desenvolvidos aumenta o interesse em se dar à luz no próprio domicílio, principalmente nos EEUU, Inglaterra, Austrália e França. A Holanda tem hoje em dia cerca de 35% de todos os nascimentos no domicílio, e com uma das menores taxas de mortalidade infantil da Europa, e a menor inflação de toda a Europa! (sem contar o melhor rendimento entre o capital investido na saúde e a melhoria dos resultados perinatais...)

Por que um parto em casa?

Por que estas pessoas estão preferindo tal caminho?

Por que um casal iria preferir um parto desta maneira, sem intervenção, sem drogas, sem anestesia, em uma posição "primitiva" , e as vezes na sua própria casa?

A resposta é complexa e os motivos são variados e pessoais. Mas temos visto, entre muitos, que alguns querem desfrutar da atmosfera tranqüila e já bem conhecida do próprio lar, sem luzes ofuscantes, sem cheiros estranhos, tendo ao seu lado somente pessoas que já conheçam e com as quais possuem um laço afetivo (em vez de profissionais da enfermagem, que aguardam o fim de seu plantão para poder ir descansar, e com quem nunca travou nenhum conhecimento). Outros querem a possibilidade de ficar com o bebê após o nascimento o tempo que for possível, e não entregá-lo a um pediatra antes de tocá-lo, vê-lo, senti-lo, e depois poder dar um banho morno, prazeroso e demorado. Curtir o nenê que acabou de nascer!. Outros ão querem o atendimento massificado dos hospitais, onde serão um número a mais, a paciente do 314, ou o bebê numero 597.

Interessante lembrar que GRAVIDA não é paciente, pois não esta doente, apenas vai de um bebê. É portanto uma PARTURIENTE.

Outras mulheres tem medo de hospital, ou entrar nele implica na lembrança de ocorrências passadas muito desagradáveis suas ou familiares (abortamentos, cirurgias, acidentes, contaminações hospitalares) ou a perda de pessoas próximas queridas.

Alguns casais querem ter um parto dentro d'água, modalidade esta que ainda não possível em hospital no Brasil (ou muito raramente) e preferem ter sue bebê no domicílio.

Algumas temem por infeção hospitalar. Outras fazem questão da presença constante do marido, (e por que não participação?) raramente permitido em muitos hospitais.

O pressuposto comum destas motivações é que o parto não é uma doença, salvo em gestações de risco. É um fenômeno fisiológico. Acreditamos que cerca de 40 % dos partos possam ocorrer fora do hospital, seja em casa de parto ou nos domicílios, conquanto que atinjam determinadas condições de seguridade.

De qualquer maneira a decisão final vai ser tomada SOMENTE QUANDO SE ENTRA EM TRABALHO DE PARTO, mesmo com condições propícias de um pré-natal normal. Neste momento se examina a parturiente, se escuta o batimento do coração do nenê através de um aparelho chamado "Doppler" durante várias contrações, se avalia as condições da mãe, de pressão arterial, dilatação do colo uterino.

É seguro este parto?

Na verdade há um protocolo para ser aplicado no pré-natal no sentido de reconhecer gestação de risco, que possa necessitar de intervenção ou assistência especializada:
  • crescimento uterino (bebê) nem muito grande (maior que 4.200) nem muito pequeno (pode ser sinal de insuficiência placentária ou outra patologia).
  • nunca ter tido uma cesariana (fator relativo, não absoluto)
  • pressão arterial normal (também relativo)
  • apresentação cefálica
  • gestação a termo (entre 37 e 41 semanas) antes ou depois desta época deve-se discutir com o casal os prós e contras de todas as opções
Além disto a anuência TOTAL do marido é condição fundamental. Portanto é necessária a discussão prévia entre o casal e depois complementar com informações médicas, se necessário.

É claro que existe um RISCO. Como também existe em um parto no hospital. Todo parto é potencialmente um momento de risco. É importante que este seja assumido por TODOS. Ainda não sabemos qual dos dois é o de maior risco, se o hospitalar ou domiciliar, para casos específicos.

Acreditamos que ambos tem suas indicações, portanto o parto em casa não é o melhor, mas é bom para aqueles que o julgam bom. Outros casos vão ter contra-indicação médica para ocorrer em casa, para estes o parto hospitalar é o melhor.

Pensando bem, o bebê é o fruto de um ato de amor e isso não se faz ou acontece em qualquer lugar, e diríamos, requer certos preparativos e condições. É preciso uma atmosfera..., atração, intimidade..., privacidade... sem ruídos (barulho de outros filhos) ou cheiros estranhos, ninguém olhando ou presenciando. No início apenas toques, sensualidade e poucas palavras. Olhares interpenetrantes. O instinto falando mais forte que a razão.

O parto também deve e pode acontecer envolto nos mesmos predicados e adjetivos, adicionados do respeito ao bebê.

O parto é um fenômeno da esfera sexual, onde afloram elementos do mais profundo inconsciente. Instinto puro. Animal. Portanto é preciso não coibi-lo para que este elemento instintivo se manifeste. A palavra chave é LIBERDADE. Liberdade de expressão, de movimento, de poder deixar-se acontecer.

A parturiente pode querer gritar, sem ficar encabulada ou com a sensação que se está incomodando alguém ao lado ou contrariando uma regra, como em muitos hospitais é proibido (ou incomoda) gritar. Poder assumir a posição que for mais confortável para ela nos diferentes momentos. Poder ficar sem roupa na frente das pessoas sem sentir vergonha, afinal já são pessoas conhecidas, e o parto é um momento onde a mulher, quando ensimesmada, age mais livremente.

Algumas pessoas quando viajam ficam dias e dias sem evacuar, pois o intestino só funciona na própria casa. Não seria o parto um fenômeno mais complexo do que o funcionamento do intestino? Eu conheço pessoas que ficam uma semana sem evacuar quando estão fora de seu ambiente de referência, seu lar.

Um anel muscular que não se abre em situação de adversidade, sem se sentir a vontade.

Trazendo isto para o parto, não poderia haver uma coibição do processo de abertura do colo, por se estar em um "terreno estranho", em um ambiente hostil para a parturiente como o é o hospital para muitas pessoas?

Muitas cesarianas ocorrem porque o colo não dilatou, Sendo o colo um anel, um orifíco, que vai se abrir aos poucos também, será que sua dilatação não estaria sujeita à influência de fatores psicogênicos?

Diz-se que quando uma pessoa está tensa ela contrai os esfíncteres, será que em um ambiente não hospitalar este processo de dilatação não ocorreria mais facilmente? Um ambiente onde a mulher se sentisse mais a vontade, mais segura.

Poder ficar com o bebê em contato pele a pele logo depois do parto, o tempo que quiser, é realmente um privilégio.

Olhar dentro dos olhos, levar ao seio caso ele queira sugar algo (o que vai ajudar a eliminação da placenta e diminuir a perda sangüínea) também o são. Durante a espera dos 9 meses, muita comunicação indireta, telepática, planos de carinho, pensamentos, se fizeram, e, acabariam frustados caso não seja possível este contato direto com o recém nascido, como acontece na maioria dos hospitais, onde o bebê é levado para ser examinado, e na volta a mãe da uma "olhadinha" para o seu bebê que vai ficar em observação por 3-4 horas em berço aquecido.

Os primeiros instantes após o nascimento são fundamentais para a criação de uma ligação. Chamada em inglês de "bonding". Um elo. Laços profundos se estabelecem. Portanto acreditamos que o melhor lugar para um recém-nascido ficar é o colo, a barriga da sua própria mãe, que normalmente é a pessoa maior interessada no bem esta do bebê.

Já foi observado que se anestesiamos uma carneira logo após dar à luz, ao acordar, ela não reconhece seus filhotes como seus. Elas os renega. Esta identificação, esta troca de olhares, fluidos, cheiros, parece ser muito importante. Certa feita uma jaguatirica deu a luz em Campinas, interior de São Paulo, no zoológico do Bosque dos Jequitibas, e o maior cuidado tomado era não tocar na cria, em hipótese alguma, pois se a mãe sentisse algum outro cheiro que não da sua cria, ela abandona a cria, deixa de reconhecer como sua.

E porque também não lembrar a figura do pai, que antigamente ficava na sala de espera aguardando acender a luz azul ou rosa, qual seria a importância de ver e participar do nascimento do seu próprio filho?

Vemos que é muito prazeroso e agradável para o bebê que chega tomar um banho após o parto. É relaxante.

A água deve ser morninha, na temperatura do corpo. Não precisa pressa.

Ele adora e sorri em retribuição. Freqüentemente abre os olho e tenta "reconhecer" o ambiente. Geralmente está cansado, não deve ser fácil nascer. Este procedimento pode ser realizado pelo pai, enquanto a mãe recebe os cuidados pós parto, além de ser bom para o homem presenciar o esforço que exige um parto de sua esposa.

Para a mamãe o parto também não é fácil. Principalmente se não houve uma preparação durante a gravidez.

terça-feira, 5 de agosto de 2003

Nascimento: Humanizado x Clássico

Parto normal em decúbito dorsal, parto de cócoras, parto na água, parto de quatro, cesariana... não existe um melhor tipo de parto. Tudo depende das circunstâncias. Uma coisa é certa: parto bom é aquele que você pode ter.

A posição do parto normal em decúbito dorsal é muito favorável... para o médico obstetra, que fica numa confortável posição para observar tudo de camarote - a mãe que se conforme, naquela posição desagradável, passiva, de pernas para o ar. Só quem é mulher sabe... Mas, felizmente, não tem que ser obrigatoriamente assim.

O parto normal numa posição mais vertical favorece naturalmente a saída do bebê, pois tem a força da gravidade trabalhando a seu favor. Já foi comprovado cientificamente que, acocorada, a parturiente pode fazer cerca de 30% a menos de força do que se estivesse deitada.

O que tem que ser banido definitivamente é o preconceito a respeito do parto. Idéias pré-concebidas sobre um tipo ou outro de parto, que passam de geração em geração, constituem fantasmas ultrapassados que só servem para atrapalhar a cabeça da futura mamãe!

Em nome de Deus, esqueça tudo o que você viu no cinema, na televisão!!! É tudo um exagero!! Não dê ouvidos ao que a grande maioria das pessoas fala por aí, mesmo pessoas públicas. Infelizmente, quase todo o mundo é muito mal informado a este respeito. Ouvem o galo cantar, não se sabe onde, e repetem o que aprenderam sem questionar, sem pesquisar o que é realmente válido e correto!!

Atenção! Procure se informar com critério e bom senso. Converse com pessoas realmente esclarecidas, e não com gente que não está nem aí para o modo como seu filho vai vir ao mundo. Leia Leboyer!!! E entenda a sensação do nascimento pela ótica do bebê.

Rejeite energicamente a idéia de que o bebê não sente e não registra o seu nascimento! Ao nascer, a criança tem uma sensação muito intensa de tudo o que acontece, e grava tudo em seu cérebro. Então, se é tudo um sofrimento cruel, a primeira sensação que ela retém da experiência do nascimento - e portanto da vida - é negativa.

Pode estar certa: o nascimento é uma experiência extremamente importante para a formação do ser humano, e quanto mais humanizado for este nascimento, melhor para a criança, melhor para os pais e melhor para o mundo!

Durante a gestação, as sensações do bebê são, preponderantemente, de prazer e conforto. Então, maior é o choque e o trauma do nascimento quando este é vivido de uma forma ortodoxa, não humanizada, brutal.

Assim sendo, procure se colocar na situação do bebê, pensando da seguinte maneira:

Você está lá no quentinho, escurinho, aconchegada, protegida e nutrida dentro da barriga de sua mãe.

De repente tudo em volta começa a esmagá-la e empurrá-la sem parar. Você finalmente sai (talvez sem querer) pela única passagem que há disponível... bom aí vai depender do tipo de parto que está rolando. Veja abaixo as seguintes possibilidades:

A) Nascimento Humanizado

Você sai! Que susto, tudo muda. Não tem mais nada a apertando. Tem uma luz... novidade. Não tem mais líquido a envolvendo e sim o ar... coisa nova, que além do mais invade seus pulmões sem piedade. Você berra protestando a repentina mudança e expelindo restos de líquido amniótico!

Ok, mas a temperatura está amena (sem aquele ar glacial de sala de cirurgia), o ambiente está na penumbra (sem luz forte em cima de você). Alguém a ampara com carinho e delicadeza (não a pendura de cabeça para baixo) e a coloca sobre o ventre de sua mãe que lhe dá o peito; você se aconchega sugando à vontade.

Só então, depois de vários minutos, é que cortam o cordão umbilical, quando este já parou de pulsar e você já está respirando normalmente.

Bom, aí tudo bemmmm!!! Maravilha... você se sente segura, confortável, nutrida. Houve um choque inicial que logo foi amainado e compensado pelo respeito e delicadeza com que você foi recebida.

De alguma forma, você manterá um bom registro desta experiência avassaladora que é nascer, pois houve perícia, carinho e humanidade naquele momento.

B) Nascimento Clássico

Você sai! Que susto, tudo muda. Pegam-na pelos calcanhares e penduram-na de cabeça para baixo para que restos de líquido amniótico e secreções saiam pela boca e nariz.

Não satisfeitos lhe ministram uma palmada no traseiro para você berrar e garantir a respiração, e, não raro, ainda lhe enfiam uns tubos no nariz e garganta (que descem pelo esôfago e traquéia) para aspirar o resto das secreções.

Nestas alturas - sem terem lhe dado o devido tempo para se oxigenar através da respiração - já cortaram seu cordão umbilical, que nem tinha ainda parado de pulsar!! Que susto brutal você leva - o oxigênio não chega mais por onde costumava! Você tem que respirar apressada, lutar pela vida rápido!!!

Aí, título de evitar uma conjuntivite neo-natal, pingam-lhe umas gotas nos olhos que ardem pra chuchu.

Se bobear, ainda lhe administram uma injeção de vitamina K, para efeitos preventivos - coisa que, normalmente, nem é necessária. Serve apenas para assegurar a tranqüilidade da equipe médica.

Tudo isso com verdadeiros holofotes em cima de você, numa temperatura glacial. Depois disso, vão medi-la, pesá-la (num prato de balança provavelmente frio e duro) banhá-la sabe Deus como e, finalmente, embrulhá-la numas roupas apertadas.

Cadê a barriga que a envolvia, nutria e protegia? Sumiu! Você nem sentiu sua mãe por perto ainda.

Colocam-na num berçário com um bando de bebês em volta berrando, bem longe da sua hospedeira, num berço imóvel e duro. O que é isso companheira?????????????

A vida é isso??????????? Ela tem que ser assim??????

Pense bem...

Entender a abordagem de Frederick Leboyer e humanizar o parto... esta é uma das coisas mais importantes que você fará pelo seu filho... e por você mesma!

segunda-feira, 4 de agosto de 2003

Mulheres defendem parto humanizado na web - O Estado de SP

O objetivo do blog Parto Humanizado é fornecer informações às futuras mães sobre o parto e promover discussões sobre o assunto. A criadora do blog, Ingrid Lotfi, é membra do Amigas do Parto, grupo que defende que a mulher tome suas próprias decisões no momento do parto e seja bem tratada. Ingrid publica posts sobre
dores, posições, amamentação, bebês prematuros e diferença entre parto normal e cesárea. Também protesta contra o alto número de cesáreas, que considera abusivo, e divulga quais são os direitos das mães durante o parto.

http://www.estado.estadao.com.br/suplementos/info/2003/08/04/info004.html

domingo, 3 de agosto de 2003

Indicação de livro

Parto Ativo


partoativo

Sinopse: Este livro apresenta exercicios, baseado na Yoga para a gravidez, vao conduzi-la aos seus proprios instintos para o trabalho de parto, e paralelamente vao cultivar os procedimentos corporais adequados e naturais para uma gravidez saudavel.

Autor: Janet Balaskas
Editora: Ground

quarta-feira, 30 de julho de 2003

Perguntas e Respostas

1) O que é parto natural?

Parto natural não é o parto normal hospitalar, como foi dito no "Fantástico" outro dia.

Num parto natural as intervenções só serão feitas se realmente necessárias e não de forma rotineira como vemos no parto normal hospitalar.
A bolsa não é estourada precocemente, não é feita a raspagem dos pêlos, não é feita a episiotomia (corte feito entre a vagina e o ânus), o parto não é induzido, não é feita lavagem intestinal e não é utilizada anestesia, a não ser que sejam realmente necessários.

Esses procedimentos quando feitos sem necessidade causam mais danos do que benefícios, segundo a Organização Mundial de Saúde.
Veja aqui o Parto segundo a Organização Mundial de Saúde

Veja aqui por que deve-se abolir essas intervenções!

O parto natural pode ser feito na posição que a mulher desejar. Geralmente é escolhida a posição de cócoras, uma das mais confortáveis para parir e que causa menos lacerações no períneo.

Outro tipo de parto é o parto na água, considerado o parto mais tranquilo para o bebê, que sai de um meio aquoso para outro.

Veja aqui um relato de parto na água.

A menos recomendada é a posição deitada com as pernas na perneira, pois além de ser ilógica (não atual a força da gravidade), pode causar má oxigenação para o bebê. Essa posição é adotada nos hospitais pq facilita a visão do médico mas não ajuda a mulher e nem o bebê a nascer, prejudicando o parto e sendo necessária uma pessoa debruçada em cima da mulher, fazendo uma manobra que empurra a barriga da mulher para baixo.
Muito mais fácil seria se a mulher pudesse escolher a posição desejada...


2) O que é parto humanizado?

No parto humanizado, a mulher é quem decide como será seu parto, quantos acompanhantes estarão com ela, quem cortará o cordão umbilical, o bebê fica com ela logo após nascer, permitindo que ele mame logo após o nascimento (não há separação)...
A mulher pode fazer um plano de parto e apresentar ao obstetra.
No plano de parto a mulher enumera e entra em acordo com o médico sobre os procedimentos que ela não quer que sejam feitos por rotina (só se necessário) e quais ela quer (música, presença do marido, doula, etc). No parto humanizado não existem a frieza e as agressões verbais comuns nos hospitais brasileiros ("Pare de gritar!", "Na hora de fazer você gostou, agora aguenta", entre outras pérolas)

3) O que é uma doula?

Doulas são mulheres que dão suporte físico e emocional à mulher, antes, durante e após o parto.
A doula faz massagens, ensina exercícios de respiração, técnicas de relaxamento e alívio da dor de forma natural, etc.

Doulas brasileiras

4) O parto domiciliar é perigoso?

Ao contrário do que algumas pessoas pensam, o parto domiciliar (em casa ou em Casas de Parto) é muito seguro, desde que a grávida seja de baixo risco (95% das grávidas) e faça um bom pré-natal. Mesmo assim o parto domiciliar é feito próximo de um hospital para uma rara eventualidade. A parteira ou o médico obstetra levam todo o material e estrutura necessária para atender a gestante e tudo é feito de maneira limpa e segura.

Veja aqui depoimentos de Partos Domiciliares

5) O que são Casas de Parto?

Casas de Parto são estabelecimentos onde a grande maioria dos partos são normais (contra os hospitais particulares, onde o índice de partos normais não ultrapassa 10%), feitos por enfermeiras obstétricas.
As Casas de Parto tem toda a estrutura para se fazer o parto humanizado.

6) Humanistas são CONTRA a cesárea?????

Não, humanistas não são contra a cirurgia. A cesariana salva vidas quando feita por necessidade. Porém, quando uma cesariana é feita por opção ou por comodismo do médico, até com dia e hora marcados, está submetendo a mãe a um risco de morte 4x maior e o bebê a um risco de morte 10x maior. Muitos são os casos de bebês com desconforto respiratório nos hospitais, devido à cesariana. Por isso a cesariana só deve ser feita após o trabalho de parto se iniciar (contrações fortes, em intervalos regulares e cada vez menores) e quando for realmente necessária.

Veja aqui os reais motivos para se fazer cesariana

terça-feira, 29 de julho de 2003

segunda-feira, 28 de julho de 2003

A respeito da cesárea

Dr. Marcos R. Ymayo
fonte: http://www.amigasdoparto.com.br/ac021.html

Este texto tem a finalidade de esclarecer as dúvidas das mulheres sobre a cesárea.


O que é?

O termo "cesárea" origina-se do latim "caedere" e significa cortar. É uma cirurgia que necessita de anestesia, é realizada através de corte na barriga atravessando várias camadas, da pele ao útero. Quando por fim o útero é cortado, o bebê é retirado de dentro do ventre da mulher.

Quando deve ser feita?

A cesárea deve ser feita nas seguintes situações:

por causa do bebê: o bebê precisa nascer muito rápido ou não pode nascer por baixo e em urgências, tais como quando o cordão umbilical sai antes do bebê, impedindo a circulação do sangue.

por causa da mãe e do bebê: o trabalho de parto tem problemas que impedem o parto vaginal e em urgências, por exemplo, quando a placenta se descola da parede do útero sem o bebê ter nascido, o que compromete o suprimento de sangue para o bebê.

por causa da mulher (mãe): quando existe alguma contra-indicação ao parto vaginal (por exemplo no caso de pré-eclâmpsia) ou se a mulher já sofreu muitas cesáreas.

Em qualquer situações está muito claro que a primeira opção é o parto vaginal.
O parto cesáreo sempre deve ser encarado como uma solução quando o vaginal não é possível.

*Não se deve marcar a cesárea com antecedência!!

Existem complicações da cesárea?

Sim, existem muitas complicações possíveis. Vamos expor de forma simples algumas delas. Está claro que as complicações citadas não ocorrem na grande maioria dos partos, porém apesar de raras podem acontecer e com certeza já aconteceram com alguma mulher. Por menor que possa parecer uma estatística, devemos considerar que para as pessoas afetadas esse problema foi significativo e teve muita importância.

Como toda cirurgia de médio a grande porte, a cesárea tem a chance de apresentar complicações durante e após a mesma. O corpo humano não é uma máquina, é impossível dar-se a garantia que não ocorrerá uma complicação. Por isso, a cesárea deve ser feita somente após rigorosa avaliação e com indicação precisa.

As complicações de uma cesárea podem ocorrer durante a operação, na anestesia e após a cirurgia.

Complicações durante a operação e anestesia que geralmente não dependem das ações médicas, mas do acaso e da própria natureza dessa cirurgia:

- Grandes sangramentos podem ocorrer quando o útero fica muito mole, ou seja, não contrai normalmente o útero pode rasgar quando o bebê sai, aumentando o corte e necessitando de mais pontos para ser reparado agressões aos órgãos urinários e intestinais complicações relacionadas com a anestesia, tais como parada respiratória, parada cardíaca, queda da pressão e dor de cabeça muito forte (entre outros)

Complicações que ocorrem depois da cesárea e que mais uma vez não dependem necessariamente das habilidades do médico, podendo ocorrer aleatoriamente:

- Infecções, havendo a necessidade de uso de antibióticos. Algumas vezes a infecção pode aumentar havendo a necessidade de internação e novas operações. Existem casos em que as infecções deixam seqüelas e podem levar à morte.

- Formação de coágulos que impedem o sangue de circular, provocando a trombose, que por sua vez podem provocar desde edemas até a morte

- Abertura espontânea do corte do útero ou rompimento do útero na gestação seguinte, é rara mas pode acontecer.

- Na gravidez seguinte a placenta pode grudar no útero mais profundamente, principalmente em mulheres que sofreram muitas cesáreas. Esta é uma situação grave que pode levar a perda do útero, grandes sangramentos e risco de óbito para a mulher.

- Na gestação seguinte, a mulher que sofreu uma cesárea já é considerada uma paciente de alto risco obstétrico, já que pode ocorrer qualquer uma das complicações acima citadas.

O parto cesáreo quando bem indicado é a solução que salva a vida do bebê e/ou da mulher. Nessa situação, os riscos das complicações são minimizados pelos benefícios.

Porém, quando uma cesárea é indicada por medo do parto vaginal ou de sofrer, por trauma resultante do sofrimento a que a mulher foi submetida em partos anteriores, por achar que existe perigo no parto vaginal, por vaidade, por achar que conturba menos o dia-a-dia profissional ou da família, entre outros, significa que há a necessidade da mulher conhecer condutas médicas que tornam o parto vaginal um acontecimento positivo, agradável, seguro e saudável.

É muito triste saber que muitas cesáreas são indicadas por que a mulher não tem passagem ou por que não dilata. Será que uma mulher que foi bem orientada, que realmente conhece como é a gravidez, o trabalho de parto e o parto se contenta com uma indicação de falta de dilatação ou passagem? Essa indicação sem dúvida existe, mas não com a freqüência com que temos visto.

Será que não existe sentimento de frustração na mulher que tem o diagnóstico de falta de passagem ou dilatação, já que seu organismo não responde com normalidade a uma função exclusivamente do corpo feminino?

Minha opinião é de que a mulher deve dar chance ao seu organismo para mostrar que é capaz de parir. Deve passar pela experiência do parto, comemorando ao lado de quem ama o sucesso do nascimento, podendo sentir a celebração da nova vida.

Apresento a seguir, algumas referências científicas:

- American Journal of Obstetrics and Gynecology
- http://www.harcourthealth.com/
- Obstetrics, Williams, 20th Edition
- Parto, Aborto e Puerpério ¿ Assistência Humanizada à Mulher, Ministério da Saúde do Brasil, 2001.

Leia mais em : Motivos reais para se fazer cesárea

sábado, 26 de julho de 2003

Esvaziamento de úteros ou Nascimento de vidas?

fonte: http://www.jakobi.com.br/partohumanizado.htm

Veio o saber médico e, em nome da defesa da vida e da ausência da dor, se apossou deste processo natural.

A família insegura e despreparada fica à mercê desse saber. Temos dificuldade para entender a razão desta cultura que transformou o nascer num ato tão médico e mecânico. Não interprete que somos contra os grandes avanços da tecnologia médica.

A gestante é tratada como "paciente", ou seja, submetem-se a vários exames e diagnósticos, permanecem nas filas dos consultórios e recebem receitas e remédios. Na hora do parto, a conduta médica continua prevalecendo com rotinas hospitalares rígidas, que acabam inibindo o processo natural e fisiológico, levando a inúmeras cesáreas e partos induzidos. E o pai permanece isolado desse processo, como se não tivesse nada a ver com isso.

Nos hospitais privados ainda prevalece um pacto que mistura medo da dor com interesses dos profissionais e da instituição que termina numa cesárea. Na rede pública, ainda vigora um quase desprezo pela gestante.

Sozinha, assustada, ela é atendida por profissionais anônimos atrás de máscaras que não dizem o nome nem esboçam um gesto amistoso. Tanto nos hospitais cinco estrelas como nas maternidades de periferia, a paciente e os familiares são os últimos a serem ouvidos.

O parto é um processo natural, nascer é um ato natural e ecológico. É um caminho de transformação, de amor, de vencer os medos, e de dar à luz uma nova era. Por estar em seu habitat natural, vivendo intuitivamente, a maioria das espécies mamíferas nasce sem maiores problemas. Embora os mecanismos do parto do animal mamífero sejam diferentes do ser humano (porque o tamanho do cérebro nos animais é menor em relação ao do corpo), existe uma semelhança. Como seres urbanos e humanos, colocamo-nos distantes dessa natureza de bicho a que pertencemos.

As mulheres modernas estão distantes do seu instinto maternal animal.

O parto, um momento da vida sexual e afetiva, um ritual de passagem e de crescimento para o ser humano, de ambos os sexos, tem sido reduzido a uma simples "ação médica" em nossa sociedade contemporânea. O ideal seria que todas as mulheres tivessem oportunidade de viver a gestação e o parto como parte de sua vida afetiva e sexual, dispondo de recursos médicos quando necessário e, ao mesmo tempo, podendo estar em contato com a natureza verdadeira do ato de dar à luz.

O parto deve ser natural, o mais espontâneo possível, com um mínimo de sofisticação na sua assistência, com o máximo de consciência e de adestramento técnico do profissional que o assiste. A melhor maneira de seguir um parto é observá-lo, sem interferir no seu andamento.

De mãe para filhas as parteiras transmitem um ensinamento valioso: para uma mulher em trabalho de parto, o mais precioso é alguém que segure sua mão e que não tenha pressa. A parturiente é quem melhor presente a hora, identifica os movimentos e sabe a melhor posição. "Quem faz nascer é a mãe mesmo", disse uma das parteiras mais antigas do Amapá. Essas regras simples são de parteiras tradicionais que aparam os mais de trezentos mil bebês que nascem por ano fora dos hospitais.
O nome de "aparadeiras", conquanto seja usado pejorativamente para qualificar as curiosas, em nada as deve diminuir, pois caracteriza sua atuação: a de aparar a criança que nasce sozinha.
Observando os dados de uma favela de São Paulo, cujos partos são assistidos por uma parteira, teremos um bom exemplo de como nascer é um ato natural para as mulheres de gestação de baixo risco. Ali, as complicações e cesáreas somam 3%, as mulheres não são isoladas, não se usam medicamentos e o índice de episiotomia é de 17%.
Na rede de hospitais privados, o índice de cesárea chega a 70% e, na pública 40%. A episiotomia chega a 100% nos hospitais convencionais quando se trata do primeiro filho.

O resgate da forma de nascer, da transformação do nascimento, tão essencial e necessário, precisa ser uma iniciativa feminina e da própria classe médica. No Brasil isto já vem acontecendo, os professores Galba Araújo, Moysés e Claudio Paciornik, Fernando Estelita Lins, Hugo Sabatino, Adailton Salvatore Meira, Maria Tereza Maldonado, Emerson Godoy c. Machado, Maria Celia Del Valle, Lívia Penna, entre outros, têm trabalhado, pesquisado e escrito sobre a gestação e o parto como
momentos de iniciação que deveriam ser tratados de forma especial e diferenciada. Muitas parturientes e mulheres anônimas têm procurado formas alternativas, naturais e humanizadas para terem seus filhos longe das maternidades, em suas próprias casas, sob o cuidado das parteiras tradicionais, mas são ainda minoria.

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sexta-feira, 25 de julho de 2003

Resultado da Enquete

 enquete

Como podemos observar, quase 60% das pessoas que visitaram meu blog fizeram partos cesáreos, o que demonstra claramente o abuso desnecessário da utilização da cirurgia no Brasil... Vale lembrar que em países como a Holanda, o índice de cesarianas é 9%

domingo, 20 de julho de 2003

Quem é o médico humanizado?

Todos os profissionais de saúde são humanos , mas nem todos poderiam ter a honra de serem denominados "humanizados", apesar de seus protestos.

Afinal, o que é "ser um profissional humanizado"?
É gostar da paciente/cliente?
É ser gentil com ela? Usar-lhe cortesia e delicadezas?
É perguntar-lhe se está bem?
É colocar a sua disposição todos os meios tecnológicos para aliviá-la da dor?
É dar-lhe explicações ou, ao contrário, evitar "confundi-la" com informações "desnecessárias"?
É não deixá-la esperando nas consultas?
É satisfazer os desejos dela?
É alojá-la na melhor suíte do melhor hospital da cidade?

É organizar seu parto da forma mais prática e rápida possível?
É encaminhá-la para um curso de preparação para gestantes?
É permitir a presença da doula e/ou do marido?
É atender pelo convênio para ser mais acessível?
Ou fugir dos convênios para ter mais independência profissional?
É aquele que saiu da melhor faculdade de medicina?
Que tem PhD nos EUA?
É o mais charmoso? O mais popular? O mais famoso?

Em meio a tantas opções, como definir o que é um "profissional humanizado"? Acreditamos que o profissional de assistência ao parto que possa chamar-se "humanizado" é aquele que possui três características essenciais:

1. Acredita verdadeiramente no parto como um processo fisiológico natural que dispensa na grande maioria dos casos qualquer intervenção e por isso tem uma longa lista de casos atendidos dentro deste parâmetro;

2. Acredita na capacidade da mulher de dar à luz e a tem em alta consideração e estima, confiando em sua sabedoria feminina;

3. Portanto lhe dá plena liberdade para conduzir o trabalho de parto conforme suas necessidades.

O que está por trás destas características é:

1. Competência profissional e conhecimento técnico em constante atualização;

2. Maturidade emocional e pessoal para lidar com serenidade e firmeza com um evento que apela para a Vida e a Morte, desencadeando fortes emoções;

3. Um código ético pessoal que lhe dá uma linha diretiva em sua conduta;

4. Visão cultural do sentido do fenômeno do parto e de suas implicações sócio-afetivas.

Concluindo: "Humanização" não coincide nem com as práticas adotadas durante o atendimento à gestante e o trabalho de parto, nem com a gentileza e compreensão demonstradas, nem com títulos e fama. "Humanização" corta transversalmente muitos dos itens relacionados acima, sem identificar-se com nenhum deles. Chamamos de "Humanização" uma nova visão do parto e da mulher que dá à luz que "humaniza" no sentido antropológico e psicológico todos os participantes do evento.

"Humaniza-os" porque os torna mais ricos em humanidade, em sensibilidade, em afetividade. "Humaniza-os" porque traz à tona sua grandeza, sua força, sua sabedoria. "Humaniza-os" porque lhes permite a experiência do mistério da Vida, da dor e da vitória, do risco e da alegria.

"Humaniza" o médico e os demais profissionais dando-lhes mais profundidade de compreensão do processo do parto e mais segurança para lidar com ele, tornando-os pessoas mais plenas.

"Humaniza" a mulher fazendo-lhe experimentar seu segredo guardado, sua força escondida, sua participação ativa no processo de criação da Vida e inaugurando assim sua maternidade e a relação com seu filho.

"Humaniza" o pai dando-lhe o presente de presenciar ao nascimento de seu filho, à vitória de sua mulher, saindo assim daquela espécie de exclusão que o acompanhou durante a gestação toda.

É evidente então que nem todos os livros do mundo, títulos, glória e fama irão tornar um médico alguém que possamos ter o prazer de chamar "humanizado". Porque "Humanização" não é o que se sabe mas como se usa esse saber - e aí entre em jogo a subjetividade, a pessoa que está por trás do avental.....


Adriana Tanese Nogueira
Amigas do Parto

19 dicas para evitar uma cesárea desnecessária

ICAN - International Cesarean Awareness Network

Antes do Parto:

Leia e se informe, freqüente cursos e palestras tanto dentro quanto fora do hospital.

Pesquise e prepare um plano de parto. Discuta este plano de parto com seu médico e mande uma cópia para o hospital ou casa de parto.

** Faça entrevistas com mais de um profissional (N.T.: veja comentário abaixo). Faça algumas perguntas chave e veja como eles respondem. Perceba se adotam uma atitude defensiva ou parecem contentes com seu interesse.

Pergunte ao seu médico se há um limite de tempo pré-estabelecido para o trabalho de parto e para a fase de expulsão. Veja quais são os fatores que na opinião de seu médico interferem com o processo fisiológico do parto.

Visite mais de um hospital ou casa de parto. Fique atenta às diferenças entre eles e pergunte sobre suas taxas de cesárea etc.

Informe-se sobre seus direitos de mulher grávida.

Escolha um(a) acompanhante de parto ou doula. Faça entrevistas com mais de uma. Um artigo recente publicado numa revista médica mostrou que uma doula pode diminuir significativamente os riscos de uma cesárea.

Se seu bebê está sentado (pélvico), procure descobrir exercícios que ajudam o bebê a virar, pergunte a seu médico sobre a versão externa (manobra para fazer o bebê virar) e sobre o parto vaginal de um bebê sentado. Pode ser necessário buscar uma segunda opinião.

Se você já teve uma cesárea, pense seriamente num parto normal desta vez. Segundo o American College of Obstetricians & Gynecologists, VBAC é mais seguro, na maioria dos casos, do que uma segunda cesárea. Até 80% de mulheres com uma cesárea prévia pode dar à luz normalmente.

Durante o trabalho de parto:

Fique em casa o máximo possível. Caminhe e mude de posição quando precisar. Fique na posição que for mais confortável para você.

Continue a comer e beber alimentos leves, especialmente durante o começo do trabalho de parto, para repor as energias.

Se sua bolsa d´água romper, não permita que ninguém faça uma exame vaginal sem indicação médica bem específica. O risco de infecção aumenta a cada exame. Discuta com seu médico como monitorar os sinais de infecção.

Peça que o monitoramento eletrônico fetal seja intermitente, ou que um fetoscópio seja usado. As pesquisas mostram que monitoramento contínuo aumenta o risco de uma cesárea sem melhorar o estado geral do bebê ao nascer.

Evite uma anestesia peridural. As pesquisas mostram que peridurais podem diminuir o ritmo das contrações e causar complicações para mãe e bebê. Se você quiser a anestesia e não conseguir fazer força na hora da expulsão, peça para descansar um pouco, espere o efeito da anestesia passar e aí volte a fazer força.

Não chegue cedo demais ao hospital. Se você ainda estiver bem no começo do seu trabalho de parto quando chegar lá, não aceite ser internada. Em vez disso, dê uma caminhada ou vá para casa descansar.

Descubra os riscos e benefícios de procedimentos de rotina e de emergência antes que se depare com eles. Quando se deparar com qualquer procedimento, procure saber porque ele está sendo usado em seu caso, quais são os riscos a curto e a longo prazo para você e para seu bebê, e quais são as outras opções à sua disposição.

Lembre-se de que nada é preto e branco. Se você tiver dúvidas, confie no seu instinto. Não tenha medo de se colocar. Assuma responsabilidade pelas suas decisões.

sábado, 19 de julho de 2003

Parto em casa

Pedro Luiz Schmidt, clínico geral e médico de família do posto da Lagoa, está prestes a alcançar uma marca impressionante: falta apenas um nascimento para ele atingir a marca de 300 partos realizados em casa.

"Só existem indicações para o parto na casa: não há o estresse do ambiente estranho e é extremamente seguro", explica ele.

O parto caseiro é um trabalho particular de Schmidt, não tendo relação com o serviço desenvolvido por ele no posto de saúde. Mesmo assim, não deixa de ser um atendimento domiciliar.

"Nestes 299 partos, nunca tive um problema mais sério", conta ele. São duas as técnicas empregadas: leboyer de cócoras e submerso. Segundo ele, as estatísticas comprovam que a cesariana oferece sete vezes mais riscos do que o parto normal. "Não há melhor anestésico do que o carinho do marido", argumenta.

Parto Normal x Parto Natural

Para saber as diferenças, o primeiro passo é recuperar seu sentido literal, conforme aparece no dicionário. Vejamos o que diz o Aurélio.

Normal: 1) Que é segundo a norma. 2) Habitual, natural.

Natural: 1) De, ou referente à natureza. 2) Em que não há trabalho ou intervenção do homem. 3) Que segue a ordem regular das coisas; lógico. 4) Inato, ingênito, congênito. 5) Próprio do instinto, instintivo. 6) Próprio, peculiar. 7) Não estudado ou calculado; sem artifício; desafetado, espontâneo. 8) Provável, presumível.

A palavra normal vem de norma. É importante entendermos o que é norma.

Norma: 1) Aquilo que se estabelece como base ou medida para a realização ou avaliação de algo. 2) Princípio, preceito. 3) Modelo, padrão. 4) Filos. Tipo concreto ou fórmula abstrata do que deve ser, em tudo o que admite um juízo de valor.

Resumindo: existe na norma que dá vida à normalidade um modelo, um padrão, um modo de ser baseado em princípios e preceitos ou, filosoficamente, numa fórmula abstrata do que deve ser. O normal está vinculado à realização do padrão, criado na base de uma fórmula a respeito do dever ser.

Um modo de ser, um comportamento, uma atitude, assumidos e incorporados pela maioria e repetidos durante muito tempo se tornam habituais, viram uma espécie de reflexo automático e só então são passíveis de serem chamados naturais. Nesse caso, natural significa não-consciente. O que achamos que é normal não é objeto de nosso pensamento, não nos perguntamos cada vez se queremos ou não, está em nossos mecanismos automáticos de comportamento semi ou totalmente inconscientes. O normal vira natural porque passou a ser habitual, ou seja: não questionado, não refletido, não pensado e indagado. Inconsciente.

E como fica isso tudo em relação ao nosso parto normal?

O que é um parto normal hoje?

Em primeiro lugar, o parto normal é o contrário de cesárea. Portanto é um parto vaginal.

Mas, como é a norma desse parto vaginal normal? É um parto hospitalar, é um parto em que a mulher está deitada, com as pernas presas nos estribos e os braços soltos para a mulher poder puxar o guidão (obs: No caso da cesárea, os braços também são presos de lado e amarrados, como se estivesse numa cruz...).

Com certeza isso tudo é normal, pois estamos acostumadíssimos a ver esse tipo de cena (nas maternidades, nos filmes, nos livros), tão acostumados que na maior parte das vezes sequer nos perguntamos se realmente é normal. Mas aí entra a importância de diferenciarmos as palavras. Este parto é normal no sentido de que é o modo como acontece o parto há séculos. Está baseado num modelo estabelecido por volta de 1700 quando as mulheres, alienadas do processo, foram assumindo a posição deitada (decúbito dorsal) para facilitar a intervenção do interventor: o médico. Esse modelo de parto pertence a um dever ser, a um como deve ser formulado abstratamente na base das necessidades do médico. Sendo assim, o sujeito desse parto é o médico.

O nosso atual parto normal não é um modelo de parto comprometido com a idéia de que o parto seja um processo fisiológico natural. Por seguir uma norma construída não na base do corpo, mas de outros fatores, na verdade já não é mais natural.

Por quê? Porque o natural é espontâneo, é instintivo, é aquilo que segue a ordem natural das coisas. Nada que seja socialmente e culturalmente normatizado é natural e o natural não pode seguir um padrão, pois perde inevitavelmente seu sentido e sua essência. Portanto não é possível estabelecer um padrão para o parto. Da mesma forma diríamos que não se pode (e não se deve!) estabelecer um padrão para uma relação sexual: quanto mais natural, espontânea e vivida melhor; quanto menos cerebral, quanto menos preocupada em atender modelos e normas, melhor. Caso contrário será um fracasso.

Quando falamos em resgatar o parto como processo fisiológico, o parto como sendo da mulher, estamos na verdade resgatando o sentido íntimo de um processo vinculado aos instintos e ao corpo: ou seja, de um processo que é fundamentalmente natural.

Natural é entendido aqui como aquilo em que não há trabalho ou intervenção do homem, a menos que seja estritamente necessário. O natural do parto é permitir que as coisas sigam seu curso, é quando não há artifícios, intervenções desnecessárias. Pois a natureza segue um curso, tem um processo, tem um sentido, um começo e um fim. A natureza é ordeira, é sensata, é finalizada. Natural não é louco, caótico, insensato. O amparo humano está em permanecer alerta para possíveis erros da natureza. Mas, lembrem-se que os humanos erram também e muito! Que se por um lado temos a vasta gama de conhecimentos científicos e tecnológicos, por outro temos milhares e milhares de anos de prática natural da natureza... a assim chamada sabedoria da natureza.

Sendo animais racionais, mas ainda assim animais, é sensato e sábio da parte nossa, mantermo-nos bem integrados e estáveis nos dois mundos: o natural, o que segue a natureza, o fluxo e a sabedoria da natureza pois ela tem ainda muito para nos ensinar e o racional, que tem conhecimentos mas também sabe refletir criticamente sobre os mesmos.

E você, teve ou vai ter um parto normal ou natural?

por Adriana Tanese Nogueira
fonte: http://www.amigasdoparto.com.br/normal.html

sexta-feira, 18 de julho de 2003

Parto muda e novas técnicas revolucionam relação entre mãe e filho

JANAINA FIDALGO
da Folha de S.Paulo

Você já ouviu falar em parto humanizado? Já pensou em fazer um parto na água ou em posição de cócoras? Sabia que o melhor é o parto natural? Estas técnicas estão no meio de um emaranhado de outras maneiras que fizeram o parto evoluir com o tempo e que começam a revolucionar
a idéia de dor na hora de dar à luz -um dos maiores temores.
Ser mãe é um sonho alimentado por muitas mulheres, mas é preciso se preparar para receber o bebê, escolhendo inclusive o melhor jeito de trazê-lo ao mundo. Os cuidados servem para que a criança nasça saudável e para que a mulher permaneça bem, com uma alimentação saudável, praticando atividades físicas, evitando o aumento excessivo de peso, cuidando da pele e sabendo lidar com possíveis alterações psicológicas.
O parto na água, ainda pouco difundido no Brasil, é uma das alternativas para amenizar a dor do parto: respeita o tempo que o bebê precisa para nascer e aumenta o contato entre pai, mãe e filho.
"O parto natural não é um modismo, mas um direito que as mulheres têm e que está sendo negado a elas. Ele traz benefícios em todos os níveis, da experiência pessoal ao desenrolar do próprio parto. Não digo que o parto na água seja para todas as gestantes, mas deve ser uma opção viável para aquelas que queiram", afirma o ginecologista e obstetra Adailton Salvatore Meira, especialista em partos na água.
O efeito relaxante da água reduz as sensações de dor provocadas pelas contrações que ocorrem durante o trabalho de parto e descontrai a musculatura do períneo -espécie de músculo que oferece resistência à saída da criança no momento do nascimento. Outro aspecto positivo é a segurança que a gestante sente quando está dentro da banheira.
"A água é como um analgésico. Ameniza a sensação dolorosa porque diminui o peso gravitacional. O corpo fica mais leve e, consequentemente, o bebê pesando menos é empurrado com mais facilidade", diz Meira. Nesse tipo de parto, a gestante fica dentro de uma banheira, coberta completamente por água a uma temperatura que varia de 36º a 37º.
"Tive muitas contrações, mas quando entrei na banheira as dores melhoraram 50% porque a água alivia", diz a veterinária Tatiana Monreal Dal Fabbro, 34, que deu à luz o seu segundo filho na água.
No parto feito na água, o pai não é mero coadjuvante do processo. Ele fica dentro da banheira, sentado por trás da mulher, dando apoio emocional, fazendo massagem e incentivando a gestante. Também tem como responsabilidade cortar o cordão umbilical do bebê, o primeiro contato com o filho.
A criança nasce debaixo d'água e só é trazida à superfície segundos depois. Enquanto em um parto tradicional os pais mal teriam contato com o bebê, na água a ligação entre pai, mãe e filho é o que tem mais valor.
A família permanece na banheira abraçada, estreitando os laços e respeitando o tempo que o bebê precisa para se adaptar ao novo ambiente. O cordão umbilical só é cortado quando a placenta [camada que envolve o recém-nascido] é completamente expelida pelo corpo da mulher.
"Em 75% dos partos feitos na água, o bebê não chora. Ele continua dentro da água, recebendo o carinho dos pais. É um momento só do casal e do bebê", afirma Meira. Nesse tipo de parto, a criança tem uma transição mais suave para a atmosfera, porque permanece em um meio aquático, que é mais leve, relaxante e aquecido.
"Não me arrependo. É uma sensação única. Não é uma dor propriamente dita. Sentir seu bebê sair de você é uma maravilha, uma emoção muito grande", diz Tatiana.
A grande dificuldade encontrada por quem opta por esse tipo de parto é a falta de ambientes adequados. A maioria dos hospitais e maternidades do Brasil, acostumados a receber pacientes que fazem cesarianas ou partos normais na posição horizontal, não são equipados com banheiras. No entanto, como os riscos de complicações durante o parto na água são baixos, a gestante pode dar à luz em sua própria casa ou nas chamadas casas de parto.



Como antigamente



Outro tipo de parto que deixou de ser usado com o tempo, mas que está sendo recuperado é o parto verticalizado, na posição de cócoras. Segundo Hugo Sabatino, professor de tocoginecologia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), estudos antropológicos demonstraram que em 99% das civilizações antigas as mulheres davam à luz na posição vertical, principalmente de cócoras.
"Isso mudou no século 18. Um prestigiado médico francês sugeriu a posição horizontal porque era muito grande o número de mortes, tanto materna quanto infantil", diz Sabatino.
Atualmente, de acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), apenas 20% das mulheres apresentam algum perigo na gravidez, mas a maioria continua sendo tratada como se pertencesse ao grupo de risco. "Gravidez não é patologia", afirma Sabatino.
Para o ginecologista e obstetra Ricardo Herbert Jones, um dos adeptos da humanização, o parto horizontal facilita o trabalho do médico, mas atrapalha a mãe e o bebê. "O parto verticalizado, que é recomendado pela OMS, é mais fácil, seguro e rápido", diz.
Para mudar essa tendência, a Unicamp criou há 20 anos um grupo que desenvolve o parto alternativo. "Começamos a modificar a postura da grávida na hora do parto. Estimulamos a posição de cócoras, mas como é pouco utilizada pela mulher civilizada, criamos uma cadeira que facilita o processo", afirma Sabatino.
Nem somente a postura das mulheres durante o parto preocupa alguns médicos, que, para incentivar o parto normal, criaram a Rehuna (Rede pela Humanização do Nascimento). O chamado parto humanizado, defendido pelo médico francês Fréderick Leboyer, prega, entre outras coisas, o respeito ao bebê e é extremamente benéfico para a mãe.
Um dos princípios do parto humanizado é dar liberdade à gestante. "A tendência é que a mulher tenha liberdade para escolher quem vai ficar com ela para se movimentar, se alimentar e beber quando quiser. Ela dita as regras e tudo ocorre sem intervenção", diz Jones.
Tatiana queria dar à luz a sua primeira filha na água, mas como as condições não foram favoráveis, ela pediu que fizesse, pelo menos, um parto humanizado. "No nascimento da Lorena eu estava com pouco líquido. Foi induzido, mas fizemos um parto o mais humanizado possível. O ambiente estava escuro, fiquei de lado e não tomei analgésico nem anestesia. Ela tirou dez em tudo", disse a mãe Tatiana.
A pedagoga Gisele de Oliveira, 28, disse que o parto humanizado foi muito bom para sua primeira filha. "A Andressa é tranquila e carinhosa."


Cesariana

Temendo a dor e querendo evitá-la a qualquer custo, muitas grávidas acabam fugindo do parto normal -seja ele de cócoras, na água ou horizontal- sem nem saber se teriam condições para dar à luz dessa maneira.
A solução, incentivada por muitos médicos por ser mais prática e rápida, é agendar um dia, tomar sucessivas anestesias e passar por uma cirurgia: a cesariana. O recurso, no entanto, segundo o Ministério da Saúde, deveria ser o último, utilizado apenas nos casos em que, por algum problema, a mulher não pode dar à luz por meio de um parto normal.
No Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde, 32,4% dos partos feitos em 1995 foram cesarianas. O número vem diminuindo, resultado, provavelmente, de campanhas feitas pelo governo para incentivar o parto normal. Em 2000, 23,8% dos nascimentos foram realizados por meio de cesariana. Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e São Paulo lideram a lista de cirurgias.

Exemplo de Plano de Parto

(por Virgínia que teve seu parto na água)




DURANTE O TRABALHO DE PARTO



1.. Autorizar presença e participação do pai o quanto ele desejar, da admissão ao nascimento.
2.. Presença de outras pessoas da família ou amigos durante o trabalho de parto e parto.
3.. Sem Lavagem Intestinal e tricotomia.
4.. Liberdade para caminhar e/ou movimentar.
5.. Uso liberado de chuveiro e/ou banheira no trabalho de parto.
6.. Bebidas e alimentos com alto teor de carboidratos e pouca gordura à vontade.
7.. Infusão intravenosa apenas se houver indicação médica.
8.. Não utilização do monitoramento fetal eletrônico de forma contínua,visando a mobilidade total, sendo assim usar o monitoramento intermitente com pinar ou um sonar portátil.
9.. Sem rompimento artificial da bolsa d´água.
10.. Medicação para alívio da dor administrada apenas quando solicitado por mim.
11.. Presença de acompanhante de parto profissional (doula) para suporte contínuo.
12.. Drogas para indução ou aceleração do trabalho de parto apenas sob necessidade médica explícita.
13.. Uso de suíte de parto ou a mesma cama para o trabalho de parto e parto.
14.. Possibilidade de utilização de objetos pessoais (roupas, música, etc).


DURANTE O PARTO EM SI



1.. Posição para expulsão confortável (para mim) e eficiente.
2.. Episiotomia apenas se for extremamente necessário. Caso seja necessária utilizar o corte médio-lateral.
3.. Anestesia ¿regional¿ apenas se for necessária alguma intervenção cirúrgica.
4.. Nascimento suave (Parto Leboyer), sem pressão quanto ao tempo do período expulsivo, ou seja, enquanto mãe e bebe estiverem em condições boas nada deve ser feito para apressar o processo de nascimento.
5.. Clampeamento do cordão apenas depois que parar de pulsar
6.. O Pai corta o cordão umbilical.
7.. Bebê colocado imediatamente no seu colo (ou sobre a barriga, ou nos braços).
8.. Bebê amamentado assim que desejar.
9.. Sem utilização de colírio oftalmológico, nitrato de prata.
10.. Utilização de vitamina K oral.
11.. Possibilitar um tempo ideal de formação do vículo mãe-pai-bebe.
12.. Placenta expulsa espontaneamente da parede do útero.
13.. Exames no bebe devem ser realizados nos braços da mãe.
14.. Tirar fotografias ou filmar durante o parto.


PÓS-PARTO



1.. Bebe deve permanecer todo o tempo na companhia da mãe, inclusive na pesagem e medição realizada no berçario.
2.. 10 Banho do bebe dado após o nascimento pela própria mãe e/ou pai.
3.. Não oferecer ao bebê água, leite em pó ou chupeta.
4.. Alojamento conjunto 24 horas.
5.. Pai deverá ficar no apartamento com mãe e bebê até a alta.

segunda-feira, 14 de julho de 2003

O Gravidômetro tá famoso!

Pessoal, o programinha da Ingrid, Gravidômetro, saiu no Jornal de Informática do Globo hoje! Na coluna do Gravatá!
O programa pode ser baixado aqui mesmo no blog, no lado esquerdo da tela.
O link para baixar o programinha é http://superdownloads.ubbi.com.br/download/i19397.html

jornal1

quinta-feira, 10 de julho de 2003

Quero ter apoio do meu marido e da família para ter um parto natural e humanizado!

Olha a mensagem que minha mãe enviou depois que leu o meu post sobre parto humanizado no meu blog....

"Filha, vê se não inventa...
Já vi programas de parto dentro d agua, mas isso tudo é meio natureba demais, e voce não é nada naturalista. Além disso, quem são essas pessoas q dão os depoimentos; voce não conhece nenhuma. Olho vivo, o mundo tá cheio de birutas.
A propósito, Fadynha?!
Bjs. e juízo
Mamãe ( em pânico!)"

Dá para acreditar????
Hoje, conversando com meu marido sobre o parto, ele falou que eu tenho que parar de querer ser diferente e não colocar a vida do nosso filho em risco. Palavras dele: "E se acontecer algo de errado? Você vai ficar se culpando o resto da vida!!?"
Será que vou ter que encarar essa "briga" por um parto humanizado sozinha?? Gente, estou me sentindo muito desamparada, com uma vontade de chorar enorme.... Tenho medo de investir muita energia no parto humanizado e me desgastar com minha família.

Alguém pode me ajudar? Será que vocês também passaram por isso??

***
Essa angústia é vivida pela Flávia, e por muitas outras mulheres grávidas, cujas famílias não apoiam e acham loucura ter um parto natural.
O Edson, marido da Virgínia e pai da Natália também custou a aceitar o parto na água da Virgínia...

Veja o recado que ele dá:

Eu sei exatamente oque a sua mãe e o seu marido estão pensando, quando a Virginia me procurou dizendo que queria um parto "diferente" a minha reação foi a mesma.

E posso dizer que é natural essa reação quando as pessoas não conhecem o assunto, eu não conhecia nada de parto e achava que qualquer coisa diferente de uma cesarea era bobeira, afinal, pra que arriscar ?

E apesar de ser um grande cabeça dura a Virginia conseguiu me mostrar que um parto humanizado era o melhor para nossa filha, eu diria que foi quase um trabalho de psicologa ;)

Ela comprou diversos livros sobre o assunto para que eu lesse, me explicou N vezes as vantagens, enfim passou boa parte da gravidez nesse processo.

Com o passar do tempo eu fui entendendo melhor o processo e acabei concordando com ela e dando o apoio que ela tanto precisava, mas para isso foi fundamental encontrar um médico no qual eu confiasse 100% e também foi preciso que ela abrisse mão do parto domiciliar. Na ocasião eu achava melhor estar num local com a infra estrutura necessaria para emergencias em caso de problemas no processo.

Hoje tendo visto como foi tranquilo o parto eu acho que teria sido possivel realiza-lo em casa, e acho que não vou me opor se a Virginia desejar que o proximo seja dessa forma.

Acho que o resumo do meu recado é tenha paciencia e lute por aquilo que vc acredita ser o correto, seu marido vai perceber que vc só quer o bem da criança e vai acabar aceitando a ideia. Isso pode demorar um pouco, mas tenha fé que vai ocorrer.

Quanto a sua mãe, não se stresse, o parto é algo que em ultima instancia só dizem respeito a vc e seu marido.

[]´s Edson, Marido da Virginia, Pai da Natália.

Ps. A proposito, fazer ela assinar a lista é um bom começo na doutrinação dele ;) , comigo funcionou bem hehehehe

Parto Humanizado - Uma questão de atitude: Por Ricardo Herbert Jones

Tudo de realmente importante que aprendi na minha vida aprendi com meus filhos. Sou meio retardadinho pra aprender... meus pais tiveram muitas dificuldades comigo.
Um misto de rebeldia com insubordinação. Minha mãe dizia que se eu batesse a cabeça e rebentasse uma veia nenhum doutor me operaria, por que "não haveria de ter uma britadeira tão forte pra abrir uma cabeça tão dura".
Mas aprendi algumas coisas com meu filhos, vendo a minha imagem nos seus discursos. Filhos são espelhos em que vimos nossos defeitos e algumas virtudes.
Meu filho Lucas é um sábio de 21 anos. Poucas pessoas conseguiram me ensinar tanto quanto ele. Sua postura, sua docilidade, sua capacidade de seduzir através da simpatia e de uma visão positiva diante da vida sempre me comoveram.
Pois ele tem mania de acampar. É um viajante ecológico, que adora explorar lugares novos e diferentes.
Um explorador. Alguém que não se conforma com o que os olhos vêem apenas.
Eu sempre o acompanho, porque sempre é momento de aprender algo novo.
Numa dessas vezes estávamos diante de uma decisão para ser tomada: caminhar ou não os 10 km que nos separavam da cascata do Garapiá, uma linda queda d´água no rio Maquiné, interior do RS. Nosso grupo era composto por uns 10 adolescentes, e mais alguns velhos, como eu, meu irmão Marcus e sua mulher. Existiam várias opiniões discordantes, que apontavam para posições antagônicas. Alguns estavam cansados, outros queriam pescar e tinha gente que queria apenas sentar e descansar.
Todas as posições foram defendidas com ardor e civilidade. Eram argumentos bem firmes defendendo o que o grupo poderia fazer no dia seguinte, mas estávamos longe de um consenso. Após mais de uma hora de debates, e diante da impossibilidade de se conseguir uma unanimidade, Lucas afastou-se do grupo e pegou sua mochila, começando a prepará-la. Perguntei-lhe o que estava fazendo e ele respondeu:
- Não há espaço para consensos aqui. Eu entendo que muitas são as alternativas. Não posso convencer todo mundo a caminhar 10 km para ver uma beleza como aquela. Por outro lado, não vim de tão longe pra deixar isso prá trás. Respeito todos que querem ficar aqui, mas eu vou nem que seja sozinho. Estou arrumando minha mochila porque às 6 horas da manhã ponho o pé na estrada e visitarei a garganta do Garapiá.
Todos ficaram olhando para o Lucas enquanto ele arrumava sua mochila. Sua postura era de serenidade, mas firmeza. Não estava brabo com os outros por não tê-los convencido. Não estava com raiva de ningupém por terem idéias diferentes da sua quanto a diversão ou o valor de conhecer coisas novas. Apenas estava respeitando seu direito de viver a vida como ela lhe parece melhor. Queria que sua diversão fosse compartilhada, mas caso ninguém quisesse isso iria sozinho, valorando sua vontade e sua determinação.
- Lucas. Eu vou contigo, disse eu. Também quero conhecer a cascata. Estou nessa. Pensando bem, vale a pena essa caminhada. Nem estou tão cansado assim...
- Ok, disse seu primo. Também vou. Podemos pescar outra hora.
Em alguns minutos, quase todos decidiram-se a acompanhar o Lucas, com excessão do meu irmão que na viagem de ida ficou com muitas bolhas nos pés, e ficaria cuidando do acampamento.
O que afinal produziu o consenso?
Os argumentos eram adequados para qualquer alternativa. poderíamos ter explorado o local em que estávamos. poderíamos ter pescado ou andado de barco. Porque a discussão racional das múltiplas alternativas não foi suficiente, mas a atitude de Lucas surtiu esse efeito?
A resposta está contida na pergunta: a ATITUDE.
Lucas assumiu uma atitude FIRME em relação ao que iria fazer. Deixou claro para todos que respeitava os posicionamentos, mas que tinha uma idéia muito clara do que ele considerava adequado para ser feito. Arrumou sua mochila como quem escreve um plano de parto e disse: "Aqui está o que quero. Se alguém quiser me seguir, ficarei feliz. Caso contrário, irei sozinho e confiante na minha decisão, porque ela foi sedimentada pelas múltiplas opiniões que eu escutei."
Imaginar que uma família vá concordar, produzir consenso ou falar em uníssono é ingenuidade, em se tratando do nascimento humano.
Na imensa maioria das vezes o que vai nos conduzir é a ATITUDE do cuidador, médico ou parteira, ao nos falar sobre sua experiência e sua idéia sobre o nascimento.
Ou então podemos ser conduzidos pela mesmice das crendices infinitas que nos cercam, apontando para múltiplos lugares e nos deixando tontos, sem jamais conseguir agradar a todos.
Claro que muitas vezes só uma ATITUDE firme e dterminada não é suficiente. Lembrem-se que mesmo a atitude de Lucas não foi suficiente para mobilizar meu irmão, cheio de bolhas nos pés. Ele estava "doente", e precisava mesmo de descanso. Assim também uma grávida com uma afecção verdadeira deve ter sua condição observada e respeitada, principalmente por si mesma.
Atitude...
Quando perguntaram a Robbie se "Humanização do Nascimento" era uma espécie sofisticada de tecnologia aplicada ao nascimento, ela respondeu:
- Não. Humanização do Nascimento é uma atitude, uma postura de respeito à mulher e ao nascimento.

Lucas...
Quem é o pai e quem é o filho?

Ricardo Herbert Jones é obstetra humanizado em Porto Alegre - RS e faz parte da REHUNA