quinta-feira, 1 de maio de 2003

Depoimento de uma ex-obstetra

Meu nome é Esmerinda, sou mais conhecida como Dra. Mema no meio médico e também pelos amigos. Já trabalhei nas zonas norte, sul, leste e oeste de São Paulo. Tenho 50 anos completos, sou casada e tenho 3 lindos filhos, graças a Deus.

Já há algum tempo venho tentando largar a obstetrícia que para mim foi a especialidade que escolhi de coração por acha-la o verdadeiro concreto da medicina e da vida. Pratiquei-a efetivamente durante 22 longos anos. Participei de todos os episódios que se possa imaginar. Dos mais simples aos mais complexos. Dos mais feios aos mais bonitos e dos mais tristes até os mais alegres. Há 1 ano e 7 meses decididamente parei. É óbvio que sofro por isso. Aliás sofri muito para tomar tal decisão. Passei meses pensando, noites chorando e se até agora me perguntarem o porquê eu simplesmente responderei: "cansei de ouvir desculpas descabidas e escabrosas para se indicar uma cesárea, cansei de ter vergonha das indicações que ouvia dos colegas como "seu filho é muito grande e não tem passagem - 3100g", cansei de ouvir o meu Amor ser chamado de louco por estar esperando um parto normal por algumas horas". Cheguei algumas vezes a ficar deprimida por indicar uma cesárea quando bem no fundo eu ainda queria esperar para ser normal e que por um momento eu tive certeza estar indicando corretamente.

Tudo isso dentro de mim se tornou um grande conflito até eu tomar a minha decisão de não mais pactuar com essa loucura de obstetrícia no Brasil. Mas o meu Amor é bem mais forte e consegue dentro da sua ética, sua competência, sua sabedoria e da sua extrema paciência não dar ouvido aos que lhe chamam de louco, pois o seu único compromisso e pacto é para com a paciente e seu bebê. Por isso eu o admiro cada dia mais e o considero o melhor obstetra do mundo.
Ah! Da minha experiência pessoal tenho algumas restrições a fazer. Tive 3 partos normais, graças a Deus. Antes de qualquer coisa Adoro a minha obstetra, que é minha amiga, irmã e comadre. Mas eu mudei, e hoje aos meus 50 anos faria algumas coisas de outra maneira. Sinto grande arrependimento de ter tomado lavagem intestinal (experiência péssima), não faria tricotomia (coça e incomoda demais). Não tomaria anestesia (nunca vou esquecer do mal-estar que senti com a anestesia e do apgar baixo da minha 1a filha) e jamais faria episiotomia. Sinto muita dor à penetração durante a relação sexual e tenho certeza, é um ponto X da episiotomia. Eu fiz este depoimento com intuito de ajudar as mulheres que realmente querem ter parto normal. Não desistam! Insistam! Peçam justificativas plausíveis para indicação da cesárea, se informem a respeito das complicações das cesáreas, se possível façam cursos de preparação para o parto normal e não tomem anestesia.

Fiquem com seu filho no alojamento conjunto, amamentem e não façam episiotomia. Tenham o seu parto do melhor jeito para você e para o seu bebê. Seja plena.

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