Todos os profissionais de saúde são humanos , mas nem todos poderiam ter a honra de serem denominados "humanizados", apesar de seus protestos.
Afinal, o que é "ser um profissional humanizado"?
É gostar da paciente/cliente?
É ser gentil com ela? Usar-lhe cortesia e delicadezas?
É perguntar-lhe se está bem?
É colocar a sua disposição todos os meios tecnológicos para aliviá-la da dor?
É dar-lhe explicações ou, ao contrário, evitar "confundi-la" com informações "desnecessárias"?
É não deixá-la esperando nas consultas?
É satisfazer os desejos dela?
É alojá-la na melhor suíte do melhor hospital da cidade?
É organizar seu parto da forma mais prática e rápida possível?
É encaminhá-la para um curso de preparação para gestantes?
É permitir a presença da doula e/ou do marido?
É atender pelo convênio para ser mais acessível?
Ou fugir dos convênios para ter mais independência profissional?
É aquele que saiu da melhor faculdade de medicina?
Que tem PhD nos EUA?
É o mais charmoso? O mais popular? O mais famoso?
Em meio a tantas opções, como definir o que é um "profissional humanizado"? Acreditamos que o profissional de assistência ao parto que possa chamar-se "humanizado" é aquele que possui três características essenciais:
1. Acredita verdadeiramente no parto como um processo fisiológico natural que dispensa na grande maioria dos casos qualquer intervenção e por isso tem uma longa lista de casos atendidos dentro deste parâmetro;
2. Acredita na capacidade da mulher de dar à luz e a tem em alta consideração e estima, confiando em sua sabedoria feminina;
3. Portanto lhe dá plena liberdade para conduzir o trabalho de parto conforme suas necessidades.
O que está por trás destas características é:
1. Competência profissional e conhecimento técnico em constante atualização;
2. Maturidade emocional e pessoal para lidar com serenidade e firmeza com um evento que apela para a Vida e a Morte, desencadeando fortes emoções;
3. Um código ético pessoal que lhe dá uma linha diretiva em sua conduta;
4. Visão cultural do sentido do fenômeno do parto e de suas implicações sócio-afetivas.
Concluindo: "Humanização" não coincide nem com as práticas adotadas durante o atendimento à gestante e o trabalho de parto, nem com a gentileza e compreensão demonstradas, nem com títulos e fama. "Humanização" corta transversalmente muitos dos itens relacionados acima, sem identificar-se com nenhum deles. Chamamos de "Humanização" uma nova visão do parto e da mulher que dá à luz que "humaniza" no sentido antropológico e psicológico todos os participantes do evento.
"Humaniza-os" porque os torna mais ricos em humanidade, em sensibilidade, em afetividade. "Humaniza-os" porque traz à tona sua grandeza, sua força, sua sabedoria. "Humaniza-os" porque lhes permite a experiência do mistério da Vida, da dor e da vitória, do risco e da alegria.
"Humaniza" o médico e os demais profissionais dando-lhes mais profundidade de compreensão do processo do parto e mais segurança para lidar com ele, tornando-os pessoas mais plenas.
"Humaniza" a mulher fazendo-lhe experimentar seu segredo guardado, sua força escondida, sua participação ativa no processo de criação da Vida e inaugurando assim sua maternidade e a relação com seu filho.
"Humaniza" o pai dando-lhe o presente de presenciar ao nascimento de seu filho, à vitória de sua mulher, saindo assim daquela espécie de exclusão que o acompanhou durante a gestação toda.
É evidente então que nem todos os livros do mundo, títulos, glória e fama irão tornar um médico alguém que possamos ter o prazer de chamar "humanizado". Porque "Humanização" não é o que se sabe mas como se usa esse saber - e aí entre em jogo a subjetividade, a pessoa que está por trás do avental.....
Adriana Tanese Nogueira
Amigas do Parto
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