Em vez disso, somos cada vez mais levados a acreditar que
só é seguro para dar à luz em um hospital e rodeada por médicos.
A cada ano, menos da metade das mulheres grávidas no
Reino Unido conseguem ter um parto natural, sem intervenções. E apenas 42% dos
nascimentos na Inglaterra e Escócia acontecem sem uma indução, anestesia
peridural, raquidiana ou assistido por fórceps ou ventosa (extração a vácuo).
Um quarto dos bebês nascidos no Reino Unido são nascidos por cesárea.
No Brasil o cenário é ainda pior, a taxa de cesárea no
Brasil é a maior do mundo, 44%. A Organização Mundial da Saúde estabelece que
apenas 15% dos partos podem ser operatórios. Os partos vaginais são recheados
de intervenções e os partos naturais no Brasil são minoria.
São estes níveis de intervenção justificáveis? Há grandes
variações no número de intervenções entre os diferentes hospitais na
Inglaterra, o que sugere que nem todos estes podem sempre justificados pela
necessidade clínica ou demográfica.
Intervenções aparentemente inócuas, como por exemplo o
clampeamento do cordão umbilical imediatamente após o nascimento, as quais eram
realizadas rotineiramente são agora comprovadamente prejudiciais. Há evidências
de que atrasar clampeamento do cordão umbilical pode prevenir a deficiência de
ferro e melhorar o desenvolvimento a longo prazo do bebê.
Intervenções médicas, sobretudo cesarianas, também
carregam riscos significativos. Para a mãe os riscos incluem hemorragia,
infecção, embolia e trombose. Para o bebê, pode levar a dificuldades
respiratórias, problemas pulmonares, prematuridade causada pela operação que
está sendo realizada cedo demais e dificuldade com a ligação e amamentação.
Outros problemas podem ser fatais para a mãe e o bebê em
gestações subseqüentes. Recentemente, foi relatado que um número significativo
de cesarianas eletivas estão previstas, sem uma necessidade médica, e, ainda
mais preocupante, realizado antes das 39 semanas, apesar das evidências de que
um bebê pode não estar pronto para a vida fora do útero antes dessa idade
gestacional.
Nascimento em 37-38 semanas pode significar pior saúde a
longo prazo e os resultados do desenvolvimento, tais como problemas
respiratórios graves, por esses bebês do que para aquelas realizadas após as 39
semanas.
Na maioria dos casos, o parto natural é a maneira mais
segura e saudável de ter filhos e, por isso, deve ser estimulado por meio de
uma assistência humanizada, segura e de qualidade. A cesárea deve ser uma opção
somente quando o parto normal ou natural oferecer risco de vida ao bebê e à
gestante, que precisa ser informada sobre as razões que a impedem de optar pelo
parto normal.
Por que as taxas de intervenções são tão altas?
Há muitas explicações - e muitas mais perguntas - sobre
por que temos esses altos níveis de intervenção.
Os profissionais inclinam-se para abordagens médicas,
porque eles não sabem ou não aceitam a evidência do equilíbrio, ou seja, o
balanço entre os benefícios e os riscos de intervenções. Isso seria um reflexo
da fé de uma sociedade em tecnologia e tratamento médico, uma perda das
habilidades na obstetrícia, da confiança e da autonomia, ou é a dificuldade em
reunir e interpretar as evidências sobre temas complexos que são confundidos
por muitos fatores diferentes?
É claro que precisamos de chegar a um equilíbrio mais
sensato. Uma intervenção muitas vezes leva a outra. A mulher que teve uma
cesariana é mais provável que precise de uma repetição do que aquela que teve
um primeiro parto normal. A indução do trabalho de parto é mais susceptível de
conduzir a cesariana do que aquela mulher que entrou em trabalho de parto
espontâneo e uma epidural aumenta a necessidade de parto instrumental e da
necessidade de cesariana. A monitorização contínua do coração do feto em trabalho
de parto é mais susceptível de conduzir a uma cesariana em gestações de baixo
risco, sem evidências de que isso leva a uma melhor saúde para o bebê.
Mas, na realidade, não são as mulheres que estão
empurrando os níveis crescentes de intervenção. Escolher ter um parto natural
nem sempre é fácil, especialmente quando os serviços de saúde não as orientam
corretamente. É comum ver relatos de médicos e parteiras que "burlam"
as mulheres e as induzem a fazer o que não querem para eles e para seus bebês.
Esse é, talvez, um indicador da diferença entre a política e a prática em
algumas circunstâncias. Suporte para parto normal e evitar intervenções
desnecessárias agora é visto por muitos como uma questão de direitos humanos.
Existem muitas evidências de estudos internacionais
demonstrando que o cuidado liderado por parteiras, sem o envolvimento médico -
a menos que seja necessário - leva a um aumento na taxa de parto normal, a
redução nas grandes intervenções e mais satisfação relatadas no atendimento.
Um grande estudo
recente comparou o cuidado da parteira em diferentes contextos, tais como
partos domiciliares ou centros de parto do hospital com cuidados obstétricos
(médicos) em gestações de baixo risco, na Inglaterra. Os resultados
demonstraram que as mulheres com gestações não complicadas que planejam o seu
nascimento com cuidado de uma parteira têm menos intervenções e o parto ocorre
de maneira igualmente segura. Os resultados suportam a política de oferecer às
mulheres saudáveis, a escolha do local para dar à luz.
No entanto, o cuidado por parteiras está disponível
apenas para uma pequena proporção de mulheres no Reino Unido e um número ainda
menor para as mulheres brasileiras. Para aumentar o número de partos normais é
preciso ampliar o acesso às parteiras e informações de alta qualidade e
oferecer verdadeiramente o direito de escolha do local de nascimento do bebê,
para as gestantes de baixo risco. Precisamos também de assegurar o apoio
pessoal adequado (como o acompanhamento de uma doula, por exemplo) e o uso de
intervenções somente quando necessário, garantindo às mulheres que precisam de
cuidados médicos que elas tenham a atenção médica de que necessitam.
Fonte:
Por Luciana Fernandes em: http://parirenascer.blogspot.com.br/2013/05/nos-tornamos-cegos-para-os-riscos-de.html.
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