Por AnaCris Duarte.
"Levanta o mouse para cada vez que você ouviu essa frase, e também se você a proferiu. Não, esquece, você deve ter outras coisas a fazer depois de algumas horas levantando o mouse sem parar.
"Levanta o mouse para cada vez que você ouviu essa frase, e também se você a proferiu. Não, esquece, você deve ter outras coisas a fazer depois de algumas horas levantando o mouse sem parar.
Vamos aos chocantes fatos: não existe falta de dilatação.
Mas por favor, antes que você comece a ranger dentes e ficar com os olhos
vermelhos de ódio, leia esse texto até o fim. Se sobrar alguma dúvida ou restar
a discordância, conversemos com amor!
A dilatação do colo do útero é um processo passivo que
ocorre quando as contrações encurtam as fibras musculares do útero, empurrando
o bebê para baixo e puxando o colo para cima. Essas contrações, uma após a
outra, vão puxando o colo de tal forma contra a cabeça do bebê, que é como se
ele estivesse vestindo uma blusa de gola muito apertada. Cada vez que o útero
contrai no trabalho de parto, a gola veste mais um pedaço de milímetro de sua
cabecinha.
A contração passa, o colo relaxa, mas não volta a fechar
o que já abriu. Na contração seguinte, é puxado mais um pouco. Lá pelas tantas
o colo "veste" toda a cabeça do bebê, em seu maior diâmetro. Essa é a
"dilatação total", e nessa hora o colo do útero tem aproximadamente
10 cm de diâmetro.
Porque então tantas mulheres (especialmente as usuárias
do serviço privado) têm tantos problemas de dilatação? Bem, existem algumas
causas, vamos a elas:
1) Se a mulher não entrar em trabalho de parto e não
ficar em trabalho de parto, ela obviamente não terá dilatação (a não ser que
tenha uma patologia que a faça dilatar precocemente). Portanto quando a mulher
vai na consulta de 38, 39 semanas, e o obstetra diz que ela não tem dilatação,
o certo seria responder: "Claro, doutor, se eu estivesse em trabalho de
parto eu saberia".
2) O trabalho de parto é caracterizado por contrações
espontâneas de 3 em 3 minutos (aproximadamente), que duram de 1 minuto a 90
segundos. Em outras palavras, quando a mulher fica 12 horas "em trabalho
de parto", com contrações a cada 10 minutos, isso não era trabalho de
parto. Isso eram os pródromos, o princípio, a fase de instalação do processo do
parto.
3) Tem mulher que demora mais para entrar em trabalho de
parto efetivo, e pode ficar 2 ou 3 dias com contrações ritmadas, mas que não
chegam a engrenar nos 3 em 3 minutos. É preciso muita paciência e muita doula
para lidar com essa longa latência, mas o fato é que uma hora ela vai entrar em
trabalho de parto.
4) Quando a bolsa se rompe e não há dilatação, é
necessário esperar. Após longa espera, é possível se induzir o parto. Uma
indução bem feita (preparação do colo com prostaglandinas e posterior aumento
da dinâmica com ocitocina) pode levar 48 horas facilmente. Nem todo serviço e
nem todo obstetra está disposto a ficar 48 horas induzindo um parto.
5) Ocitocina aplicada numa mulher sem dilatação só faz
provocar contrações dolorosas, intensas, e que não fazem o colo do útero
dilatar. Muitas vezes essa é a "técnica de convencimento" que alguns
profissionais usam para a mulher desistir do parto normal e pedir uma cesárea
pelo amor de Deus.
6) Dependendo do estado de tensão da mulher, ela pode
bloquear a dilatação ou ter um processo muito lento, absurdamente lento. Para
essas mulheres, a analgesia de parto normal (peridural ou combinada, raqui não)
pode ser um tremendo alívio e não foram poucas as vezes que vi mulheres
estacionadas nos 3 ou 4 ou 5 cm há muitas horas evoluírem para parto espontâneo
apenas duas horas após analgesia. E se duvidam, posso indicar um anestesista
com quem trabalho e que já testemunhou inúmeros casos assim, para explicar como
isso funciona.
7) Em dez anos trabalhando semanalmente com três equipes
que têm 10% de cesarianas, mais de 400 mulheres atendidas por mim quando era
doula, além das centenas atendidas por elas em que eu não estava presente, mas
sim outras doulas, eu nunca vi uma cesariana feita por falta de dilatação.
Nunca! Nos 10% de cesarianas em trabalho de parto entraram basicamente:
estresse fetal antes da dilatação total ou desproporção céfalo-pélvica. Em
outras palavras, as poucas cesarianas feitas antes da dilatação total foram
feitas porque o bebê se cansou e não dava mais para esperar terminar o processo
de dilatação, sob risco dessa espera fazer mal ao bebê.
8) Para chegar de fato nos dois últimos centímetros de
dilatação e atingir a tal "dilatação total", o bebê já tem que
estar descendo através da bacia pélvica. Por isso, nos casos em que há a
verdadeira desproporção céfalo-pélvica, a mulher dilata até 8-9 cm. Talvez esse
último centímetro que falta jamais venha a ser vencido. Após todas as
tentativas de ajudar o nascimento, às vezes com algumas intervenções, pode ser
que o bebê de fato não passe pela bacia pélvica, e nesse caso a cesariana seja
feita quando a dilatação estacionou nos 8-9 cm.
9) A dilatação não é um processo simétrico. Ela depende
da posição da cabeça do bebê. Normalmente o último centímetro a abrir está à
frente da cabeça do bebê, próximo ao osso púbico materno, internamente. A esse
último centímetro chamamos de "rebordo de colo" ou "rebordo
anterior". Com paciência, esse último centímetro desaparecerá, e o bebê
nascerá. Às vezes pode ser preciso ou pode ser útil abreviar o tempo do parto
reduzindo-se esse último centímetro com um exame de toque. Isso se chama
"redução do colo". É um processo doloroso, que deve ser evitado a
todo custo, se possível.
10) A única coisa que pode impedir um colo de dilatar é
um tumor grave no tecido. Tirando essa situação, todas as mulheres irão
dilatar, se tiverem os recursos, tempo e equipe necessários.
Para aguardar que todas as mulheres dilatem, precisamos
ter disponíveis profissionais bem dispostos, sem pressa, com repertório,
incluindo parteiras, doulas, obstetras, anestesistas e pediatras. É preciso
haver recursos completos para alívio da dor como ambiente agradável, bola,
banqueta, banheira, chuveiro, massagem, alimentos, conforto para os
acompanhantes, etc. E por fim, é preciso ter disponível analgesia de boa qualidade
para as poucas mulheres que necessitam."
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