Uso da chupeta
Departamento de Pediatria Ambulatorial e Departamento de
Aleitamento Materno da SBP
A sucção é um reflexo do bebê desde o útero materno e
pode ser observado através de ultrassonografias, que mostram alguns bebês
chupando o dedinho. Esse reflexo é vital para o crescimento e desenvolvimento
psíquico do bebê.
A criança, especialmente em seu primeiro ano de vida, tem
uma necessidade fisiológica de sucção. Além da amamentação, que garante a sua
sobrevivência, a sucção também promove a liberação de endorfina, um hormônio
que produz um efeito de modulação da dor, do humor e da ansiedade, provocando
uma sensação de prazer e bem-estar ao bebê.
A amamentação é suficiente para satisfazer o desejo
básico de sucção do bebê, desde que ele esteja mamando exclusivamente no peito
e a mãe o ofereça sempre que o bebê quiser. É importante enfatizar que a sucção
do bebê ao mamar no seio materno é completamente diferente do sugar o bico de
uma mamadeira ou chupeta. Mamar no peito é muito importante para o
desenvolvimento da mandíbula e demais ossos da face, dos músculos da
mastigação, da oclusão dentária e da respiração de forma adequada.
O uso da chupeta vem sendo passado de geração a geração,
constituindo-se num frequente hábito cultural em nosso meio e, por seu preço
reduzido, é bastante acessível a toda população.
Destacam-se como possíveis “prós” de sua utilização:
1 - trata-se de um calmante imediato do choro;
2 - alguns estudos evidenciaram possível efeito protetor
contra morte súbita, desde que seja introduzida após a terceira semana de vida
ou com a amamentação já estabelecida e utilizada apenas durante o sono
(recomendação oficial da Academia Americana de Pediatria - AAP).
Por outro lado, temos muitos “contras” para comentar
sobre a utilização da chupeta.
1 - Inúmeros estudos mostram que a chupeta está sempre
associada com um tempo menor de duração do Aleitamento Materno e que a mesma
acaba por ser um indicador de dificuldades da amamentação. Este fato acabou
sendo decisivo para que a Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Fundo das
Nações Unidas para a Infância (UNICEF) optassem como recomendação oficial de
não utilizar bicos e chupetas desde o nascimento, pois o tempo de duração do
aleitamento materno influi diretamente na saúde do bebê e da mãe, quanto mais
tempo amamentar, mais saúde para ambos. Esta orientação é compartilhada pelo
Ministério da Saúde do Brasil que desde 1990 optou pela implantação da
Iniciativa Hospital Amigo da Criança, que tem como regra (nono passo - o
sucesso da amamentação) a não utilização de bicos, mamadeiras e chupetas em
alojamento conjunto.
2 - Com relação a acalmar, temos uma linha de psicólogos
que discordam desta forma de acalmar, pois temos inúmeras maneiras de acalmar
um bebê (carinho, colo, cantar, amamentar, etc.) sem a necessidade de
utilização de um artifício que traz malefícios para a saúde do bebê. Orientam
ainda que quando uma criança começa a introduzir o dedo na boca, temos que dar
uma função para as mãos, desta forma, entrega-se brinquedos adequados para a
idade para que a distração seja direcionada em outro sentido. Claro que a
criança poderá levar este brinquedo à boca (mordedores, por exemplo), mas isto
não leva a vícios. Portanto não “vicia” em chupeta e nem no dedo.
3 - Outros estudos apresentam efeitos prejudiciais do uso
da chupeta com relação à oclusão dentária, levando à deformação na arcada
dentária e problemas na mastigação, além de atrasos na linguagem oral,
problemas na fala e emocionais. O risco de má oclusão dentária em crianças que
utilizam chupetas pode chegar a duas vezes em relação aos que não usam.
4 - Temos ainda prejuízos respiratórios importantes,
levando a uma expiração prolongada, reduzindo a saturação de oxigênio e a
frequência respiratória. A respiração acaba ficando mais frequente pela boca
(respiração oral), o que piora a elevação do palato (céu da boca), diminuindo o
espaço aéreo dos seios da face e provocando desvio do septo nasal. A respiração
oral leva à diminuição da produção da saliva, que pode aumentar o risco de
cáries. Como a respiração nasal tem a função de aquecer, umidificar e purificar
o ar inalado e isto não ocorre de forma adequada na respiração oral, temos
maiores chances de irritações da orofaringe, laringe e pulmões, que passam a
receber um ar frio, seco e não filtrado adequadamente.
5 - Outras consequências da respiração oral são: as
infecções de ouvido, rinites e amigdalites.
6 - O uso de chupetas também está associado a maior
chance de candidíase oral (sapinho) e verminoses, já que é quase impossível
manter uma chupeta com higiene adequada.
7 - Na confecção de bicos e chupetas temos o uso de
materiais possivelmente carcinogênicos (N-nitrosaminas) que ainda carecem de
estudos mais aprofundados.
8 - Com relação à morte súbita, a mesma é definida como
uma morte inesperada de crianças menores de 1 ano de idade, com pico entre 2 e
3 meses, que permanece inexplicada após extensa investigação, incluindo
história clínica, necropsia completa e revisão do local do óbito. Portanto é
uma situação em que até o momento não sabemos qual é a verdadeira causa.
Existem muitas críticas sobre as metodologias utilizadas nestes estudos, o que
enfraqueceria em muito e tornaria no mínimo precoce a argumentação de que a
chupeta seria um possível protetor da morte súbita. Apesar de ser uma indicação
oficial da AAP, esta opinião não é compartilhada por importantes órgãos como o
MS (Ministério da Saúde do Brasil – área técnica da criança e do aleitamento
materno), OMS, UNICEF, WABA (ONG internacional que promove a semana mundial da
amamentação) e IBFAN (Rede Mundial que luta pelas leis que normatizam a
propaganda de alimentos que podem prejudicar a instalação e manutenção do AM),
que entendem ser necessária a realização de mais estudos sobre este assunto
controverso.
9 - Por fim, vale destacar que um estudo de revisão, multidisciplinar, publicado no Jornal de Pediatria em 2009, buscou na literatura prós e contras o uso de chupeta e chegou à conclusão final de que foram encontrados mais efeitos deletérios do que benéficos.
Desta forma, a Sociedade Brasileira de Pediatria
recomenda que os pais tenham claramente esta visão de “prós e contras” do uso
da chupeta, para que, junto ao seu pediatra, possam tomar uma decisão informada
quanto a oferecê-la, ou não, aos seus bebês.
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