Por Ana Cristina Duarte, Bióloga, Obstetriz.
Porque estamos há anos luz de uma boa obstetrícia no
Brasil. Um texto recente que li escrito por um obstetra brasileiro fala sobre:
"A arte obstétrica de assistência ao parto não
deveria e não poderia ser exercida por qualquer pessoa face a grandiosidade
deste ato médico."
"O parteiro tem a responsabilidade, a obrigação de
entregar a família uma mãe e seu concepto absolutamente hígidos."
"Em nenhuma hipótese o feto deverá ficar privado de
uma boa oxigenação."
"Pequenos sangramento que acontecem durante o parto
lesarão as células cerebrais e isto no futuro da criança poderá traduzir-se por
retardo de aprendizado até retardo mental profundo como até paralisia
cerebral."
Vejam que a ignorância parte da base e eu quero crer que
uma parte razoável dos nossos obstetras não pensem assim, mas de toda forma:
1) A assistência ao parto de risco habitual ou baixo
risco não é de exclusividade dos médicos, fato reconhecido por nossa legislação,
pela OMS, pelas evidências científicas e pela prática nos países de primeiro
mundo. Então parem de dizer que só médico obstetra pode assistir um parto
normal.
2) Não existe garantia de resultado em obstetrícia, e é
assim que o CRM responde a muitos dos questionamentos: não há como garantir a
vida de mãe e de bebê. A garantia que se pode dar é de boa assistência, mas o
resultado depende de outros fatores. Mesmo em países com as menores taxas de
mortalidade neonatal (coisa que estamos longe), bebês morrem. E algumas poucas
mulheres também. Garantia de higidez não existe.
3) Não há como garantir oxigenação de bebês, nem dentro
do útero, nem fora. Há como garantir a melhor assistência possível que diminua
tanto quanto seja possível o risco de anóxia.
4) Pequenos sangramentos, até determinado nível, são
esperados e fisiológicos em partos normais e em cesarianas. E eles não causam
maiores danos. É previsto pela natureza. Já as isquemias de médio e grande
porte, essas podem causar sequelas. Já a paralisia cerebral, em 95% dos casos
aproximadamente não têm qualquer relação com o momento do nascimento mas sim
com os eventos da gestação e os do puerpério.
Não me admira que esses caras estejam processados, pois
eles prometem algo que não tem como ser conseguido, em nenhum lugar do mundo. E
quando eles têm um resultado ruim, as mulheres querem saber onde ficou a
garantia de higidez, oxigenação, etc..
Sejam honestos com as mulheres, por favor.
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