segunda-feira, 20 de abril de 2015

Sobre o Estado da Obstetrícia no Brasil e porque lutamos tanto

Por Ana Cristina Duarte, Bióloga, Obstetriz.

Porque estamos há anos luz de uma boa obstetrícia no Brasil. Um texto recente que li escrito por um obstetra brasileiro fala sobre:

"A arte obstétrica de assistência ao parto não deveria e não poderia ser exercida por qualquer pessoa face a grandiosidade deste ato médico."

"O parteiro tem a responsabilidade, a obrigação de entregar a família uma mãe e seu concepto absolutamente hígidos."

"Em nenhuma hipótese o feto deverá ficar privado de uma boa oxigenação."

"Pequenos sangramento que acontecem durante o parto lesarão as células cerebrais e isto no futuro da criança poderá traduzir-se por retardo de aprendizado até retardo mental profundo como até paralisia cerebral."

Vejam que a ignorância parte da base e eu quero crer que uma parte razoável dos nossos obstetras não pensem assim, mas de toda forma:

1) A assistência ao parto de risco habitual ou baixo risco não é de exclusividade dos médicos, fato reconhecido por nossa legislação, pela OMS, pelas evidências científicas e pela prática nos países de primeiro mundo. Então parem de dizer que só médico obstetra pode assistir um parto normal.

2) Não existe garantia de resultado em obstetrícia, e é assim que o CRM responde a muitos dos questionamentos: não há como garantir a vida de mãe e de bebê. A garantia que se pode dar é de boa assistência, mas o resultado depende de outros fatores. Mesmo em países com as menores taxas de mortalidade neonatal (coisa que estamos longe), bebês morrem. E algumas poucas mulheres também. Garantia de higidez não existe.

3) Não há como garantir oxigenação de bebês, nem dentro do útero, nem fora. Há como garantir a melhor assistência possível que diminua tanto quanto seja possível o risco de anóxia.

4) Pequenos sangramentos, até determinado nível, são esperados e fisiológicos em partos normais e em cesarianas. E eles não causam maiores danos. É previsto pela natureza. Já as isquemias de médio e grande porte, essas podem causar sequelas. Já a paralisia cerebral, em 95% dos casos aproximadamente não têm qualquer relação com o momento do nascimento mas sim com os eventos da gestação e os do puerpério.

Não me admira que esses caras estejam processados, pois eles prometem algo que não tem como ser conseguido, em nenhum lugar do mundo. E quando eles têm um resultado ruim, as mulheres querem saber onde ficou a garantia de higidez, oxigenação, etc..


Sejam honestos com as mulheres, por favor.

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