Ontem a parteira Marília Largura participou do programa Mais Você, com a Ana Maria Braga, na Rede Globo:
Veja o bate-papo de Ana Maria Braga com dona Marília Largura, parteira há mais de 50 anos em:
http://maisvoce.globo.com/variedades.jsp?id=8069
Marília Largura possui o site www.partohumanizado.com.br
Marília Largura participou do parto da Débora, que teve o Pedro Gabriel de parto pélvico, ou seja, o neném nasceu sentado, de bundinha :-)
Veja o relato:
O nascimento de Pedro Gabriel.
Dia 30/03/2003 à 0:45h - pesando 2.950g
Parto natural pélvico vaginal
Dia 1
Debora teve contrações não dolorosas durante todo o dia, a cada 10 minutos
17h - Debora vai tirar a pressão, pois na véspera o aparelho do médico não estava funcionando e ele pediu para ela fazer uma medida.
Resultado: 15 x 10. Suspeita de pré-eclâmpsia
18h - Cheguei com a Marilia, discutimos a questão, resolvemos a conselho do médico, fazer um teste de proteinúria no Hospital mais próximo.
22h - Saída para o hospital
meia noite - Exame vai demorar, fomos comer comida japonesa esperando o resultado 1h da madrugada - Exame deu positivo, há proteinúria, o quadro indica pré-eclâmpsia, Dr. Jorge recomenda internação para sulfatação (medicamento que ajuda a impedir convulsão).
2h da madrugada - Chegamos ao hospital da internação, não podemos dizer que o bebê está pélvico, nem que Debora está em trabalho de parto, para não provocar uma cascata de intervenções. Medimos a pressão na chegada: 13 x 10. Debora lembra que a pressão no pré-natal foi mais pra 12 x 9 do que para 11 x 7. Ligo para o médico, decidimos repetir o exame de proteinúria antes de fazer a sulfatação, que leva 24 horas e ela teria que ficar sozinha no centro obstétrico, sem acompanhante, em trabalho de parto.
4h da madrugada, exame ainda não está pronto, ligamos para Dr. Jorge, falamos sobre a pressão média do pré-natal, ele decide liberar Debora para voltar para casa.
Fomos cada qual para a sua casa descansar um pouco e aguardar o início da fase ativa.
Dia 2
10h - Debora sai para medir a pressão, que está 11 x 7. Não era hipertensão, embora houvesse proteinúria. Ela passa o dia com
contrações a cada 10 minutos, mas sem dor. Cada qual está na sua casa
18h - Nova medida de pressão: 16 x 12. Ela se assusta, liga pra mim, peço para ela ir tomar um banho demorado. Ligo pro Dr. Jorge, ele entende que a pressão dela é mesmo muito variável e sujeita às oscilações provocadas pela tensão. A oscilação não é característica da hipertençsão. Marilia explica que é comum a mulher ficar mais apreensiva e com um pouco de medo conforme chega o final do dia e começa a escurecer. Dr. Jorge receita um tranqüilizante fitoterápico para ela, que então dorme profundamente das 23h às 8h do dia 03.
Dia 3
9h - Marcos me liga pois Débora já tem contrações com alguma dor, a cada 5 minutos. Pego Marilia em casa e vamos para lá. Marilia faz um exame de toque: 1 cm. Contrações de 30 segundos a cada 5 ou 6 minutos. Dani, uma das irmãs, já está no local. Chega Estrela, a irmã caçula. E assim passamos a manhã, nós 6, conversando, contando piada, decidindo o que fazer. Estrela e Dani fazem uma deliciosa macarronada com molho de frango.
14:30h - Suspeita que bolsa rompeu, tampão começa a ser eliminado, novo exame de toque, bebê elimina mecônio na mão da Marilia. Primeira grande c*gada do Pedro Gabriel... Dilatação está 3 para 4 cm, contrações já duram 45 a 50 segundos. Hora de ir embora.
15:30h - Chegada no Hospital, Dr. Jorge chegou na frente e já conversou com as enfermeiras, que permitiram o trabalho de parto no apartamento comum, pois não há suíte de parto. Internamos e fomos para lá. É feito um monitoramento fetal de 20 minutos, dilatação está para 6 cm. Vamos para o banho.
até 19:30h alternamos o acompanhamento da Débora entre todos nós, com direito a banho, descanso, mais banho, massagem, carinho, frases curtas para animar. Dilatação já está em 8 cm, Débora está brava, começa a perder a paciência, mas está firme. Pede algum remédio, "porrada na cabeça", qualquer coisa. Toma uma dose de Plasil, que não faz efeito algum, aparentemente. Mas ela está firme, apesar do cansaço.
20h - Vamos para o centro cirúrgico, pois o parto pélvico, mesmo vaginal, tem alguns riscos e não há tempo de transferir na hora do
problema. No centro cirúrgico chega a Dra. Andrea, assistente do Dr. Jorge. Ficamos então das 20h à meia noite todos juntos no C.O., alvos da curiosidade local. De cócoras, de pé, andando, Marcos foi um companheiro super forte, ajudando-a nas contrações, dando conforto, dizendo coisas muito legais pra ela. De vez em quando um de nós saía para tomar água ou comer uma bolachinha na salinha de "conforto". Às 21h Dr. Jorge autoriza 1/3 de dose de Dolantina, que acaba virando 1/10, por erro da enfermeira. Mas foi o sufiente para ela dar uma relaxada básica. Só que o efeito da droga passou e ela continuou muito relaxada. Estava super concentrada nas contrações e perto das 23h começou a ter vontade de fazer força.
Meia-noite - Debora vai para a mesa de parto e fica na posição de Simms (de lado) para empurrar o bebê. Começa a aparecer um pontinho branco (o bumbum) cada vez que ela fazia força. Chega a pediatra, fica por perto. Chega o anestesista e fica por perto. Chegam os plantonistas, que nunca viram um parto pélvico lá e ficam por perto (atrás da porta, escondidinhos).
0:15h - Debora fica em posição de parto, com as pernas na perneira.
Manobra para parto pélvico: o bumbum começa a aparecer e o médico empurra o bebê com uma compressa, para ele ficar todo socadinho, como um ovo, aumentando o diâmetro do bumbum que vai sair. Isso ajuda a dilatar o canal, de modo que ombro e cabeça não fiquem presos. A parteira guia a cabeça do bebê por cima, com a mão, para que o pescoço não se dobre. O médico pára de comprimir, e lá vem o bumbunzinho, lindo, fazendo muito cocô. As pernas estão junto ao tórax, vem tudo junto saindo. Sai um braço, sai outro braço. Outra manobra e o médico dobra o corpinho do bebê para cima. A cabeça ainda está lá dentro, são poucos segundos que parecem muitas horas.
Um silêncio histérico. Nem um pio. Apenas os gemidos vindos do fundo da garganta de Débora enquanto ela faz força. A voz de comando do médico para a assistente. "Solta aqui, dobra pra cá." O médico diz alto: "Força agora, mãe!" Débora faz uma última força gigantesca, o médico faz uma pequena episiotomia mediana, põe o dedo lá dentro, puxa o queixinho do bebê e a cabeça sai num "Blupt".
Nasceu, nasceu, meu Deus.. nasceu Pedro Gabriel, branquinho como a mãe...
O médico segura Pedrinho abaixo da altura da mãe, sem cortar o cordão. Com uma cânula tira a secreção do nariz. O bebê está quieto.
Começa a fazer uma boquinha, espuminha e resmunga bem baixinho: unhé...
Silêncio total, ouve-se a respiração ofegante de Debora, pelo esforço. Mais um resmungo.. unhé... ele começa a mexer os bracinhos...
Começam todos a chorar, Marcos e eu estamos descontrolados. Débora vê o bebê, o cordão é cortado, já não pulsa.
O bebê é colocado sobre o colo de Débora que começa a conversar com ele docemente, acalmando, fazendo carinho. Aparece uma coberta para cobri-lo. Debora também está chorando.
Por trás das máscaras dos médicos, das enfermeiras, muitos olhos brilhando.
O relógio começa a bater novamente, tic-tac, tic-tac..
Todos se abraçam, todos parabenizam Debora, todos se parabenizam.
Uma vitória fantástica do casal mais obstinado que já conheci.
Uma vitória de uma equipe que mesmo sem nunca ter trabalhado junta esteve em perfeita harmonia durante todo o tempo.
Uma vitória da humanidade, da fé, da esperança.
Uma vitória das mulheres, dos homens, dos bebês.
Uma vitória da natureza sobre a tecnocracia.
Uma vitória da luz.
À equipe do Dr. Jorge e Dra. Andrea, fica também meu agradecimento e minha admiração eterna pela forma humana, respeitosa com que trataram a mim, à parteira Marilia e principalmente ao casal Debora e Marcos.
Parabéns pela competência e pela persistência. Vocês foram simplesmente fantásticos.
À parteira Marilia Largura, fica a alegria de ter compartilhado um parto com uma mulher sábia, experiente, forte, que soube ser doce o tempo todo, firme quando foi preciso, técnica nas horas necessárias, brilhante em suas colocações e em sua conduta. Mais uma vez tive a certeza de que parteiras são mesmo mulheres especiais, com um pé na terra e outro com os anjos.
Mas à minha querida Debora e ao meu querido Marcos fica meu agradecimento profundo por essa horas de prazer, de alegria, de gozo, de vitória. Meu agradecimento por ela ter dado novas esperanças a todos nós. Renovou a fé de todos os profissionais envolvidos. Fé na mulher, fé no parto natural, fé na natureza. Que Deus esteja sempre protegendo e abençoando o caminho de vocês três. Pedro Gabriel veio ao mundo com o bumbum virado para a lua. Mas não sabe ele que a grande sorte não foi ter nascido de bumbum, mas foi ter nascido da união de um casal maravilhoso, forte, guerreiro.
Ana Cristina Duarte - a doula
31/03/2003
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