Hoje, Patrícia desabafou:
"Realmente estamos a mercê dos planos e dos médicos.
Quando decidimos fazer o plano de saúde, foi mais para ter os exames e as consultas de "graça".
Mesmo assim, fomos conhecer a maternidade do plano (é só uma, mesmo), e apesar de nãos ser lá grande coisa, achamos legal.
Mas ai, o tempo foi passando e as discussões da lista me fizeram pensar em coisas que eu não pensava antes.
A tal maternidade não faz alojamento conjunto...quer dizer, faz mais ou menos, eles levam o bebê pra trocar e outras coisas que eu não sei ainda, preciso verificar.
Na época que fomos conhecer, eu perguntei sobre acompanhante, mas não lembro as respostas, o Cá disse que pode.
Ontem encontrei uma amiga que ia ter o bebê lá, mas desistiu na hora, porque o anestesista barrou o marido dela.
Pensei que a saída pra mim seria o hospital que atende pelo SUS, meio humanizado... mas li no contrato (ontem) que se o parto for realizado fora da maternidade deles, o bebê perde o direito de ser incluido no plano.
E que para o médico receber reembolso, precisa ser uma emergência e a situação ainda será analisada. O que limita as possibilidades de parto domiciliar...
Não que eu ache que a minha médica seria capaz, na verdade estava pensando e burlar o sistema, fazer o parto com um enfermeira obstétra e depois que tudo estivesse ok, ligar para a médica e dizer que o bebê "escorregou"...ops!
Tô num mato sem cachorro..."
Rosane também se decepcionou hoje com a sua médica, que disse que para fazer um parto normal, cobraria R$400,00, além do que era pago pelo plano de saúde. Deixou bem claro que preferia fazer uma cesariana mesmo que desnecessária:
"Estou muito triste porque fiquei sabendo essa semana que minha médica cobra 400 reais por fora caso eu queira fazer parto normal.
Eu tenho plano de saúde completo, e achei que não teria problemas com essa médica por ela dar plantão em hospital público onde, segundo ela mesma fala, 90% dos partos são normais.
Mas tive uma conversa com ela essa semana e ela deixou bem claro que prefere cesárea, e que não admitir isso seria uma hipocrisia (palavras dela).
Eu falei que estava me preparando para um parto normal, que queria muito isso, e com o mínimo de intervenções possíveis.
Ela disse que faria sem problemas, mas que nesse caso ela cobra essa taxa extra já que não pode programar a agenda como no caso de uma cesárea. Quer dizer, o fato dela não ter o nascimento da minha filha sob o controle dos horários dela, e de não ser tão cômodo para ela custa exatamente 400 reais. E, segundo ela, se eu pagar essa taxa, ela ficaria à minha disposição e faria o parto da maneira que eu achasse melhor.
Fiquei muito triste. Na verdade senti nítidamente uma pressão para que eu fizesse cesárea. Estou de 20 semanas e gosto dessa médica porque ela é tranquila, calminha e conversa bastante, mas não me resta outra alternativa e eu vou procurar outro médico. Mesmo porque eu já fiz um plano de saúde completo para não ter gastos extras.
Se alguém souber de um médico em Fpolis que atenda pela Unimed e não cobre a mais para fazer parto normal, por favor me indique.
Outra coisa: ela disse que eu poderia fazer o parto sem pagar nada com o médico que estivesse de plantão naquele momento na clínica, mas eu acho que não iria me sentir segura nem muito à vontade em fazer o parto com um médico que eu nunca vi na vida.
Espero que me ajudem, estou ficando preocupada."
Como podem perceber, é muito difícil ter um parto decente no Brasil, e um dos fatores é o baixo valor que os planos de saúde pagam.
Leia abaixo o comentário bem-humorado, porém verdadeiro e fiel, feito pelo obstetra Ricardo sobre essa situação:
Plano de saúde paga parto medíocre
"Plano de saúde paga parto medíocre.
Se vc quiser, pode ter um parto "como todo mundo", um parto padrão. Um parto como a gente sabe que acontece a toda hora. Tipo: interna de manhã cedo, raspa a periquita e faz lavagem, põe soro, aguarda um pouquinho, o marido fica lá fora, depois a médica vem, faz um exame, diz que tá no comecinho, acrescenta ocitocina no soro e um monitor amarrado na barriga ("não se
mexa", dizem as enfermeiras, "senão perdemos o foco"...), sai para tomar um cafezinho (ou volta para atender no consultório), depois retorna para (re)avaliar o colo e não fica satisfeita com o resultado (faz um muxoxo, franze a testa...vc não ajudou, sua dilatação ainda é ruim) e coloca mais ocitocina, e depois vc vai chorar de dor e ela vai chamar o anestesista para
uma analgesia. O anestesista é um amor de pessoa. Seu marido pede para entrar, e talvez deixem, talvez não.
Sua dor termina, assim como qualquer resquício de controle que vc possa ter sobre o processo.
Aí já são 20 h, e sua médica já "perdeu" um dia inteiro com vc. Faz uma nova avaliação e seu corpo continua não ajudando. A dilatação ainda é ruim.
Vc está com medo e não acredita mais nem um pouco nas suas capacidades. Está nervosa e cheia de adrenalina. Tem muita, muita dor...Ela pergunta (???) pra vc o que acharia de uma cesariana, visto que não há dilatação, apesar de "tudo o que ela já fez". Quase chorando vc responde que sim, afinal está sofrendo há horas, e é óbvio que deve haver alguma coisa errada com seu corpo, porque seu bebê já deveria ter nascido. Você até tinha princípios sobre ser operada, mas como arriscar o bem estar do seu bebê? Seu marido esboça uma pergunta, mas desiste no meio, porque se a doutora falou ela deve saber o que faz, afinal ela estudou para isso.
Daí ela conversa com o anestesista (que ficou por ali, porque não é bobo e sabe como as coisas acontecem) e resolvem fazer uma cesariana.
Vc poderá sair convencida que sua médica é maravilhosa e que fez tudo o que pôde (dentro da Matrix ela realmente fez...), e até mesmo ela queria que vc tivesse um parto normal. Vc vai achar tb que o anestesista é um ser maravilhoso que ajuda as mulheres a "se livrarem de um processo desumano, como é ter um filho".
Não foi tão ruim assim, né? Afinal vc sobreviveu e seu bebê nasceu bem, apesar de que ficou muitas horas longe de vc e depois ficou mais dois dias na UTI porque a respiração dele ainda estava fraquinha, provavelmente porque "demoraram muito para decidir pela cesariana".
Algumas semanas depois a médica recebe um pagamento de 400 reais (mas ainda vão descontar o imposto de renda) da cooperativa (mas poderia ser da Golden, ou da Sulamérica, do Banco do Brasil, etc..) e pensa: "Bem, pelo menos eu não tive que ficar a noite inteira lá. Por essa grana até dá pra atender convênio". Pega o dinheiro e vai ao supermercado comprar sabão, bolacha,
chinelo havaiana, sucrilhos e mais meia dúzia de coisinhas. Passa no caixa e vê no letreiro luminoso da caixa registradora: R$ 370,00. Dá um sorriso e acha que "as coisa estão muito caras hoje em dia", mas no meio do carrinho
de compras, entre as caixas de Maizena e dois sacos de batata, vê por alguns microsegundos o semblante da mãe e do bebê que atendeu alguns dias atrás.
Sacode a cabeça e eles desaparecem, mas seu pensamento se fixa nessa coincidência. "Meu trabalho em cuidar da vida dessas duas pessoas no momento mais crucial em que ambas estiveram juntas nesse mundo vale a mesma coisa que os produtos neste carrinho de supermercado."
Dá um desânimo...mas sua médica pensa "Poderia ter sido pior: podia ter sido um parto normal"...
E vamos em frente...
Ric (que acha que ainda assim vale a pena...)"
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