quarta-feira, 20 de agosto de 2003

Medo e falta de informação confundem grávidas na hora de escolher o tipo de parto

Patricia Vieitez - Americana

O Brasil já foi campeão mundial em realização de cesáreas. Hoje, quem ocupa a liderança é o vizinho Chile. Aqui a realidade mudou depois que o Ministério da Saúde decidiu acatar, em 2000, as recomendações da OMS (Organização Mundial de Saúde) sobre partos, entre elas, um teto máximo de 15% de cesarianas. Mesmo assim, segundo a co-fundadora do site www.amigasdoparto.com.br e presidente da ONG Parto e Companhia, Adriana Tanese Nogueira, o índice chega a 40%.

Em clínicas particulares o número mais que dobra: entre 70% e 95% dos partos realizados são cirúrgicos. Na opinião dela, o que gera isso é uma desinformação generalizada. Por um lado, a gestante não sabe como e o que considerar para fazer a opção, por outro muitos médicos dão preferência para a cesárea.

A balconista Rosemery Henrique Costola, 24, está para ter o primeiro filho, mas há meses havia se decidido pela cesárea. Segundo ela, não é medo da dor e sim dos riscos que ela acredita passar se fizer um parto normal. "O pessoal fala muita coisa, tem que tomar cuidado que passa da hora do bebê nascer, a placenta pode descolar, acontece tanto erro médico que não dá para confiar", justificou. Seu obstetra chegou a pedir que ela pensasse melhor, mas não se opôs à decisão.

De acordo com o diretor técnico do Hospital Municipal Dr. Waldemar Tebaldi, o obstetra Libório Albim, o que favorece esse tipo de posição é realmente a falta de informação, mas também a cultura popular. "Há um certo mito que o normal gera mais complicações fetais, o que não é verdade".

Inclusive, a verdade está bem longe disso. No parto natural as complicações são menores: há menos incidência de infecções, complicações hemorrágicas pós-parto e a recuperação da paciente é mais rápida.

Entretanto, porquê o alto índice de cesarianas? Adriana acredita que os médicos abusam da prática cirúrgica porque a cesariana é mais prática e econômica. Enquanto um parto normal pode durar entre seis e sete horas e cerca de uma hora é suficiente para uma cesariana, o que significa otimização de tempo e ganhos com outras atividades.

Outro fator que ela considera influente nas altas taxas de cesarianas é a formação médica, "mais voltada para o uso de tecnologia". "Há carência na formação para lidar com um evento sobre o qual não se tem controle", avaliou.

Albim admitiu que existe um "próprio fator médico" nesse quadro, pois os especialistas precisam ter muitos empregos "para ganhar um X", mas a segurança da cesárea, que evoluiu muito, também faz com que alguns médicos realizem mais cirurgias que partos normais.

Além disso, o fator psicológico relacionado à dor e ao sofrimento com a possibilidade de horas de trabalho de parto, faz com que a paciente e a própria família chegue a exigir uma cesariana, relatou.

Ele mesmo não vê grandes desvantagens com a cirurgia. "Pode ser programada, tem segurança muito elevada e limita a dor do trabalho de parto. É muito difícil uma paciente que quer o parto normal".

Totalmente avessa às cesáreas, Adriana explicou que nem o parto normal é feito de acordo com as recomendações da OMS e acaba sendo uma experiência traumática para a mulher. "Ela fica deitada, despida de tudo, deixada sozinha", argumentou, dizendo que o fato de ficar imobilizada e monitorada só gera um estado de ansiedade "porque se supõe que algo pode dar errado".

Segundo Adriana, pesquisas comprovam que quanto mais ela andar, mais estiver amparada pelas pessoas que ama, mais rápido e mais fácil será o processo. Inclusive, no Estado de São Paulo há uma lei que garante à mulher o direito de ter um acompanhante de sua escolha antes, durante e depois do parto, o que nem sempre é permitido nos hospitais.

NORMAL

Em 2002, Nova Odessa e Paulínia registraram mais partos normais que cesarianas, pelo menos no setor público. Mas Americana, apesar de ter acumulado mais cesáreas em 2002, está aumentando o índice de normais, segundo Albim. "Hoje a média de partos normais é, no mínimo, 50% maior que de cesarianas", afirmou. E isso só está acontecendo porque o Hospital Municipal Dr. Waldemar Tebaldi, implantou um plantão efetivo de obstetrícia. Assim, os médicos ficam dentro do hospital cumprindo a carga horária que lhes é devida e não são chamados só na hora que o bebê está para nascer. "Agora eles podem acompanhar tudo de perto".

A auxiliar administrativa Marta Teixeira Lima, 34, não tem dúvidas: quer parto normal. "Vou ficar frustrada se não conseguir", atestou, dizendo que acha o parto normal "mais bonito e mais saudável".

Marta disse não temer a dor, que acredita ser suportável, tanto que nem quer o parto totalmente sem dor, prefere só a anestesia local para o corte do períneo. "Minhas tias e minha mãe tiveram partos normais", lembrou.

E o "dia D" está chegando. O menino, Pedro Lucas, está previsto para chegar a qualquer momento. A expectativa pelo parto normal pode durar até dia 25, data máxima que ela vai poder esperar o sinal. Mas nada de nervosismo. "Estou bem tranqüilona", garante.

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