AURELIANO BIANCARELLI
da Folha de S.Paulo
O parto "moderno", realizado por cesáreas ou com a ajuda de hormônios sintéticos que aumentam as contrações, leva a uma diminuição do vínculo entre mãe e filho. No parto natural, o organismo das fêmeas libera uma série de hormônios, entre eles a ocitocina, responsável pelas contrações e pelo forte apego que imediatamente sentem pelo filhote.
O obstetra francês Michel Odent, que defende o parto humanizado, chama a ocitocina de "hormônio do amor". Em um dos seus livros, ele relata que ratas virgens, que receberam sangue de ratas recém paridas, se apegaram imediatamente a filhotes colocados ao seu lado.
Autor de dez livros, entre eles "A Cientificação do Amor" e "O Renascimento do Parto", Michel Odent esteve no Brasil para lançar seu último trabalho, "O Camponês e a Parteira - Uma Alternativa à Industrialização da Agricultura e do Parto" (Editora Ground, 192 páginas, R$ 26).
Odent prega uma atitude "biodinâmica", que proteja e dê segurança à mulher, "radicalmente diferente da atitude médica dominante" na maioria dos países.
Pioneiro
Pioneiro na adoção de práticas do nascimento humanizado, como casas e banheiras de parto, ele veio ao Brasil a convite da Rehuna, Rede pela Humanização do Parto e Nascimento, que congrega mais de cem instituições, entre organizações não-governamentais, pesquisadores de universidades, órgãos de governos e grupos de mulheres de todo o país.
No ano passado, a Rehuna lançou uma campanha pelo direito de a mulher brasileira escolher o acompanhante na hora do parto. Esse direito é previsto em lei no Estado de São Paulo, mas não é cumprido ainda por muitos hospitais, públicos e privados. Parte dessa bandeira é a inclusão nas maternidades das doulas, voluntárias treinadas que acompanham as mulheres quando entram no hospital.
Um dos argumentos da rede a favor do parto humanizado é que ele favorece a redução do número de cesáreas, prática na qual o Brasil é um dos campeões. Da mesma forma, a Rehuna defende o parto humanizado como contraponto a uma série de procedimentos médicos desnecessários.
Um desses procedimentos é a episiotomia, pequeno corte nas laterais da vagina feito na hora do nascimento do bebê. A rede que trouxe Michel Odent ao Brasil vai lançar no final de maio uma campanha nacional contra as episiotomias desnecessárias.
Abaixo, trechos da entrevista com o obstetra francês:
Folha - É possível dizer que hoje mãe e filho são mais respeitados no nascimento do que foram antes?
Michel Odent - Há uma vontade crescente de ser mais respeitoso com as mães e seus bebês, mas a prioridade hoje é redescobrir as necessidades das mulheres em trabalho de parto e de seus bebês. (...) Atualmente, a prioridade é satisfazer as necessidades mamíferas básicas, isto é, satisfazer a necessidade da mulher de se sentir segura e a sua necessidade de ter privacidade.
Folha - Quais as forças contrárias ao parto humanizado?
Odent - São, de maneira geral, a falta de interesse em relação aos efeitos, a longo prazo, da maneira pela qual nascemos e uma dificuldade de pensar em termos de civilização. A questão central é o desenvolvimento do que chamo de uma atitude biodinâmica em relação ao parto, que é radicalmente diferente da atitude médica dominante. Hoje, quando o trabalho de parto é longo e difícil, a reação comum é substituir os hormônios naturais que a mulher não está liberando por equivalentes farmacológicos. Outra atitude médica é recorrer de imediato à cesariana.
Folha - E como pode-se explicar uma atitude biodinâmica?
Odent - Uma atitude biodinâmica implicaria, como primeira opção, tentar modificar o ambiente para que a mulher pudesse fazer uso, com maior facilidade, de seu potencial fisiológico. Por exemplo, se o parto está difícil e doloroso, o convencional é recorrer a uma anestesia peridural, enquanto uma atitude biodinâmica seria recorrer, em primeiro lugar, a uma banheira de parto.
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