JANAINA FIDALGO
da Folha de S.Paulo
Você já ouviu falar em parto humanizado? Já pensou em fazer um parto na água ou em posição de cócoras? Sabia que o melhor é o parto natural? Estas técnicas estão no meio de um emaranhado de outras maneiras que fizeram o parto evoluir com o tempo e que começam a revolucionar
a idéia de dor na hora de dar à luz -um dos maiores temores.
Ser mãe é um sonho alimentado por muitas mulheres, mas é preciso se preparar para receber o bebê, escolhendo inclusive o melhor jeito de trazê-lo ao mundo. Os cuidados servem para que a criança nasça saudável e para que a mulher permaneça bem, com uma alimentação saudável, praticando atividades físicas, evitando o aumento excessivo de peso, cuidando da pele e sabendo lidar com possíveis alterações psicológicas.
O parto na água, ainda pouco difundido no Brasil, é uma das alternativas para amenizar a dor do parto: respeita o tempo que o bebê precisa para nascer e aumenta o contato entre pai, mãe e filho.
"O parto natural não é um modismo, mas um direito que as mulheres têm e que está sendo negado a elas. Ele traz benefícios em todos os níveis, da experiência pessoal ao desenrolar do próprio parto. Não digo que o parto na água seja para todas as gestantes, mas deve ser uma opção viável para aquelas que queiram", afirma o ginecologista e obstetra Adailton Salvatore Meira, especialista em partos na água.
O efeito relaxante da água reduz as sensações de dor provocadas pelas contrações que ocorrem durante o trabalho de parto e descontrai a musculatura do períneo -espécie de músculo que oferece resistência à saída da criança no momento do nascimento. Outro aspecto positivo é a segurança que a gestante sente quando está dentro da banheira.
"A água é como um analgésico. Ameniza a sensação dolorosa porque diminui o peso gravitacional. O corpo fica mais leve e, consequentemente, o bebê pesando menos é empurrado com mais facilidade", diz Meira. Nesse tipo de parto, a gestante fica dentro de uma banheira, coberta completamente por água a uma temperatura que varia de 36º a 37º.
"Tive muitas contrações, mas quando entrei na banheira as dores melhoraram 50% porque a água alivia", diz a veterinária Tatiana Monreal Dal Fabbro, 34, que deu à luz o seu segundo filho na água.
No parto feito na água, o pai não é mero coadjuvante do processo. Ele fica dentro da banheira, sentado por trás da mulher, dando apoio emocional, fazendo massagem e incentivando a gestante. Também tem como responsabilidade cortar o cordão umbilical do bebê, o primeiro contato com o filho.
A criança nasce debaixo d'água e só é trazida à superfície segundos depois. Enquanto em um parto tradicional os pais mal teriam contato com o bebê, na água a ligação entre pai, mãe e filho é o que tem mais valor.
A família permanece na banheira abraçada, estreitando os laços e respeitando o tempo que o bebê precisa para se adaptar ao novo ambiente. O cordão umbilical só é cortado quando a placenta [camada que envolve o recém-nascido] é completamente expelida pelo corpo da mulher.
"Em 75% dos partos feitos na água, o bebê não chora. Ele continua dentro da água, recebendo o carinho dos pais. É um momento só do casal e do bebê", afirma Meira. Nesse tipo de parto, a criança tem uma transição mais suave para a atmosfera, porque permanece em um meio aquático, que é mais leve, relaxante e aquecido.
"Não me arrependo. É uma sensação única. Não é uma dor propriamente dita. Sentir seu bebê sair de você é uma maravilha, uma emoção muito grande", diz Tatiana.
A grande dificuldade encontrada por quem opta por esse tipo de parto é a falta de ambientes adequados. A maioria dos hospitais e maternidades do Brasil, acostumados a receber pacientes que fazem cesarianas ou partos normais na posição horizontal, não são equipados com banheiras. No entanto, como os riscos de complicações durante o parto na água são baixos, a gestante pode dar à luz em sua própria casa ou nas chamadas casas de parto.
Como antigamente
Outro tipo de parto que deixou de ser usado com o tempo, mas que está sendo recuperado é o parto verticalizado, na posição de cócoras. Segundo Hugo Sabatino, professor de tocoginecologia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), estudos antropológicos demonstraram que em 99% das civilizações antigas as mulheres davam à luz na posição vertical, principalmente de cócoras.
"Isso mudou no século 18. Um prestigiado médico francês sugeriu a posição horizontal porque era muito grande o número de mortes, tanto materna quanto infantil", diz Sabatino.
Atualmente, de acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), apenas 20% das mulheres apresentam algum perigo na gravidez, mas a maioria continua sendo tratada como se pertencesse ao grupo de risco. "Gravidez não é patologia", afirma Sabatino.
Para o ginecologista e obstetra Ricardo Herbert Jones, um dos adeptos da humanização, o parto horizontal facilita o trabalho do médico, mas atrapalha a mãe e o bebê. "O parto verticalizado, que é recomendado pela OMS, é mais fácil, seguro e rápido", diz.
Para mudar essa tendência, a Unicamp criou há 20 anos um grupo que desenvolve o parto alternativo. "Começamos a modificar a postura da grávida na hora do parto. Estimulamos a posição de cócoras, mas como é pouco utilizada pela mulher civilizada, criamos uma cadeira que facilita o processo", afirma Sabatino.
Nem somente a postura das mulheres durante o parto preocupa alguns médicos, que, para incentivar o parto normal, criaram a Rehuna (Rede pela Humanização do Nascimento). O chamado parto humanizado, defendido pelo médico francês Fréderick Leboyer, prega, entre outras coisas, o respeito ao bebê e é extremamente benéfico para a mãe.
Um dos princípios do parto humanizado é dar liberdade à gestante. "A tendência é que a mulher tenha liberdade para escolher quem vai ficar com ela para se movimentar, se alimentar e beber quando quiser. Ela dita as regras e tudo ocorre sem intervenção", diz Jones.
Tatiana queria dar à luz a sua primeira filha na água, mas como as condições não foram favoráveis, ela pediu que fizesse, pelo menos, um parto humanizado. "No nascimento da Lorena eu estava com pouco líquido. Foi induzido, mas fizemos um parto o mais humanizado possível. O ambiente estava escuro, fiquei de lado e não tomei analgésico nem anestesia. Ela tirou dez em tudo", disse a mãe Tatiana.
A pedagoga Gisele de Oliveira, 28, disse que o parto humanizado foi muito bom para sua primeira filha. "A Andressa é tranquila e carinhosa."
Cesariana
Temendo a dor e querendo evitá-la a qualquer custo, muitas grávidas acabam fugindo do parto normal -seja ele de cócoras, na água ou horizontal- sem nem saber se teriam condições para dar à luz dessa maneira.
A solução, incentivada por muitos médicos por ser mais prática e rápida, é agendar um dia, tomar sucessivas anestesias e passar por uma cirurgia: a cesariana. O recurso, no entanto, segundo o Ministério da Saúde, deveria ser o último, utilizado apenas nos casos em que, por algum problema, a mulher não pode dar à luz por meio de um parto normal.
No Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde, 32,4% dos partos feitos em 1995 foram cesarianas. O número vem diminuindo, resultado, provavelmente, de campanhas feitas pelo governo para incentivar o parto normal. Em 2000, 23,8% dos nascimentos foram realizados por meio de cesariana. Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e São Paulo lideram a lista de cirurgias.
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