quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Morte por cesariana desnecessária


Da obstetra Carla Andreucci Polido, sobre a morte por cesariana desnecessária.

"Morte materna é um fato incontestável. Perdemos mais uma brasileira, sem riscos anteriores, submetida a uma cesariana eletiva por "circular de cordão", que desenvolveu uma trombose intestinal no pós operatório.

Cesariana é uma grande cirurgia, com todas as grandes implicações que isso representa. Realizá-la sem indicação clínica é submeter a mulher e a criança a riscos desnecessários, por mais avançada que seja nossa medicina.

Há necessidade de melhora de nossa assistência obstétrica, fato incontestável. Mas essa melhora precisa passar pela qualificação da assistência ao parto normal em primeiro lugar.

Chega de operar todo mundo por comodidade dos serviços ou dos profissionais, ou mesmo das famílias.

Vamos voltar a fazer obstetrícia de verdade, com toda a tecnologia incorporada à prática, sempre que realmente necessária.

Essa é a evolução da ciência.

Assim salvamos vidas."

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Cesariana Humanizada




O problema de expressões como “cesariana humanizada” ocorre porque existe um conceito no mundo da humanização do nascimento de que tal procedimento cirúrgico não pode ser chamado de “humanizado”, pois lhe falta um elemento essencial na humanização: o protagonismo. Sem o resgate do protagonismo nunca haverá verdadeira humanização. Portanto uma cesariana pode ser “humana”, gentil, digna e respeitosa, mas jamais "humanizada", pois carece do elemento mais fundamental para contemplar essa definição. Não existe "apendicectomia humanizada", “histerectomia humanizada”, ou qualquer cirurgia que mereça esse epíteto, pois o protagonismo é do médico, e não da paciente. Numa cesariana a mesma coisa. Cesariana é cirurgia obstétrica, não é parto; portanto é um procedimento técnico, regido por protocolos médicos, e nesse contexto as mulheres são necessariamente passivas.

O parto, pelo contrário, é ATIVO. É algo que a mulher FAZ, e não ao qual é submetida. Somente aí poderão aparecer os elementos constitutivos e definidores da humanização: o protagonismo, a visão integrativa (bio-psico-social-emocional-espiritual) e a vinculação com a medicina baseada em evidências.

Hoje em dia eu acredito que o ativismo só tem sentido quando está focado no bem estar das pessoas. Veja bem, até a biblioteca Cochrane se vacinou contra esse tipo de essencialismo obliterante e homogeneizante ao difundir a Medicina Baseada em Evidências. Eu escrevi um capítulo no meu segundo livro só para tratar desse tema, pois acredito que as nossas convicções, por mais adequadas e humanistas que sejam, não podem solapar a individualidade. Sou um defensor da liberdade, e acredito mesmo que o individualismo - mesmo com sua tendência egocêntrica - é o único anteparo que temos à barbárie. Com a ideia SEMPRE PRESENTE de que CADA MULHER É DIFERENTE DA OUTRA fica impossível dizer "eu jamais faria isso". No que concerne a um evento tão complexo como o parto, é injusto condenar mulheres que optam por uma cesariana "sem andar 100 km dentro dos seus mocassins", assim como não é adequado julgar um médico que, por alguma razão BEM ESPECÍFICA E RARA, realizou uma cesariana a pedido, sem indicações clínicas evidentes. Se isso não nos autoriza a realizar cesarianas à rodo, pelo menos nos mostra que existem exceções, e que algumas vezes elas podem ser justificadas.

A multiplicidade das circunstâncias e a infinidade incontável de histórias constitutivas do sujeito fazem do parto um evento absolutamente único, vinculado às formas mais primitivas de organização psíquica. O nascimento conjuga no mesmo evento morte, vida e sexualidade, no dizer de Holly Richards. Como imaginar, então, que sua manifestação não seja repleta de dilemas únicos e de profunda complexidade? Portanto, a partir do momento em que aceitamos a visão complexa e subjetiva do fenômeno humano, expresso no nascimento, as posturas "fechadas" como "eu sempre" ou "eu nunca" acabam se tornando slogans do passado, um pouco cafonas, que apenas nos lembram dos ímpetos da juventude, mas que necessitam da sabedoria que vem com o amadurecimento.

Quando defendo o arrefecimento das posturas radicais, não o faço pela desistência aos ideais. Pelo contrário: é para que os mesmos sonhos não se dissolvam no calor da arrogância ou na insensatez dos extremismos. Todas as ideias renovadoras na humanidade precisam ser bafejadas pela visão humanista, que coloca o Homem como centro de nossas ações. Nossa luta por partos humanizados só pode ter sentido se nos lembrarmos constantemente de que as ideias de nada valem sem as pessoas.

E só pode ser para elas, em sua característica única, a nossa atenção.

De: Ricardo Herbert Jones

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Exame de toque em todas as consultas de pré-natal???


Estão me perguntando se há evidência justificando o EXAME DE TOQUE em TODAS as consultas pré-natais.

Bom, eu imagino que ninguém em sã consciência vá conduzir um ECR tão maluco, tocando sistematicamente (ou não) da primeira à última consulta...

... mas temos uma revisão sistemática da Cochrane avaliando o exame cervical repetido (traduzindo: pelo toque) para identificar mulheres de risco para parto prematuro:


E A CONCLUSÃO FOI QUE NÃO EXISTEM EVIDÊNCIAS PARA CORROBORAR ESSA PRÁTICA.

Espero que daqui para a frente os Comitês de Ética em Pesquisa rejeitem outros estudos semelhantes, mesmo em populações de risco para prematuridade, uma vez que já dispomos de estratégias efetivas para determinar risco de parto prematuro e sua prevenção nessas mulheres.

Pronto, passa para a próxima pergunta!

Por. Dra Melania Amorim

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

APOIO CONTÍNUO PARA MULHERES DURANTE O NASCIMENTO


Como o pretexto agora é que as referências sobre apoio contínuo intraparto e presença de doulas não podem ser aceitas no Brasil porque estão em inglês, estou caridosamente disponibilizando em primeira mão a tradução do artigo que escrevi com Leila Katz para a Biblioteca de Saúde Reprodutiva da ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. Em português agora, eu lhes apresento:

APOIO CONTÍNUO PARA MULHERES DURANTE O NASCIMENTO

Em comparação com os cuidados usuais, providenciar apoio contínuo intraparto aumenta a chance de parto vaginal espontâneo, reduz a duração do trabalho e o uso de analgesia e reduz a incidência de cesariana e parto instrumental. Adicionalmente, menos bebês nascem com escore de Apgar menor que 7 no 5º. minuto e mães expressam maior satisfação com a experiência do nascimento.

Comentário para a Biblioteca de Saúde Reprodutiva da Organização Mundial da Saúde por Amorim MMMR e Katz L

1. INTRODUÇÃO
Historicamente e através das culturas, mulheres têm parido em casa e sido atendidas e apoiadas por outras mulheres durante o trabalho de parto e o parto (1). No entanto, atualmente a maioria das mulheres em muitos países dão à luz em hospitais, onde o trabalho de parto e o parto são considerados eventos médicos, sendo as mulheres em trabalho de parto tratadas como pacientes (2,3). Como conseqüência, o apoio contínuo intraparto recebido pelas mulheres no passado está sendo perdido (4,5).

Nos anos recentes, tanto mulheres e movimentos sociais como os gestores de saúde têm clamado não somente por tornar mais natural o nascimento, mas também por apoio um para um por e para mulheres durante o trabalho de parto. Em resposta a esse clamor, modificações da prática têm ocorrido e o parceiro, membros da família ou amigos têm tido a sua participação permitida durante o nascimento, mesmo em locais institucionais como as salas de trabalho de parto e parto (6). Os defensores da presença de familiares e amigos durante o trabalho de parto e o nascimento defendem que essas pessoas podem providenciar apoio contínuo intraparto.. Por outro lado, alguns profissionais de saúde têm questionado se membros leigos da família ou da comunidade podem ajudar as mulheres em trabalho de parto a lidar com a dor e a ansiedade relacionadas com o nascimento (7). A presente revisão sistemática da Biblioteca Cochrane (8) teve por objetivo avaliar os efeitos do apoio contínuo um a um intraparto em comparação com os cuidados usuais.

2. MÉTODOS DA REVISÃO 
Os autores da revisão procuraram o Registro Cochrane do Grupo de Gestação e Nascimento em busca de estudos sem aplicar qualquer restrição de linguagem. Os critérios de seleção para incluir estudos nessa revisão foram ensaios clínicos randomizados comparando apoio contínuo intraparto fornecido por um familiar ou uma pessoa de fora da família (com ou sem qualificação profissional na área de saúde) com os cuidados usuais. Mulheres grávidas em trabalho de parto foram as participantes dos estudos. Em todos os casos, “cuidados usuais”não envolveram o apoio contínuo intraparto mas poderiam ter incluído outras medidas, como uso rotineiro de analgesia peridural para alívio da dor durante o trabalho de parto.

Os desfechos maternos primários foram qualquer analgesia/anestesia (medicação para dor), uso de ocitocina sintética durante o trabalho de parto, parto vaginal espontâneo, depressão pós-parto e sensaçãos negativas ou pontuação negativa sobre a experiência de parto. Os desfechos neonatais primários foram admissão em enfermaria de cuidados especiais e amamentação com 1-2 meses pós-parto. Os desfechos secundários foram eventos intraparto (analgesia regional/anestesia, duração do trabalho de parto, dor grave durante o trabalho de parto, nascimento por cesariana, parto vaginal instrumental, trauma perineal (episiotomia ou laceração requerendo sutura), baixo escore de Apgar com 5 minutos e hospitalização neonatal prolongada, maternagem difícil e baixa autoestima no período pós-parto.

Um modelo de metanálise com efeito fixo de Mantel-Haenszel foi usado para combinar dados e uma análise com modelo randômico foi adotada para comparações em que houve elevada heterogeneidade. Nos casos em que ocorreu elevado risco de viés associado com a qualidade dos ensaios clínicos incluídos, análise de sensibilidade foi realizada para os desfechos primários. Análises de subgrupo incluíram a conduta do serviço referente à presença de acompanhante, disponibilidade de analgesia peridural, protocolo de monitoração eletrônica fetal de rotina e variações nas características do provedor.

3. RESULTADOS DA REVISÃO
Um total de 21 ensaios clínicos envolvendo 15.061 mulheres foram incluídos. Os ensaios clínicos tinham sido conduzidos sob diversas condições, regulamentos e rotinas hospitalares. Houve notável uniformidade na descrição do apoio contínuo intraparto em todos os ensaios clínicos, e em todos eles a intervenção incluiu apoio um a um continuo ou praticamente contínuo, pelo menos durante a fase ativa do trabalho de parto. Os autores da revisão classificaram a qualidade dos ensaios clínicos como geralmente boa a excelente. 

Dezenove dos 21 ensaios clínicos incluíram menção específica de toque confortador e uso de palavras de elogio e incentivo pelo provedor do apoio. Em 11 ensaios clínicos a presença do parceiro ou outros membros da família foi permitida, mas nos 10 outros ensaios clínicos nenhum apoio adicional foi permitido. Analgesia peridural estava disponível de rotina em 14 ensaios clínicos e monitoração eletrônica fetal foi usada de rotina em nove deles. Não foi possível comparar os efeitos do apoio contínuo intraparto de acordo com a fase do trabalho de parto (latente ou ativa). Os indivíduos que promoveram o apoio contínuo intraparto variaram em termos de sua experiência de cuidadores do nascimento, suas qualificações e a sua relação com as mulheres em trabalho de parto. Eles poderiam ser parte da equipe hospitalar (como obstetrizes, estudantes de Obstetrícia ou enfermeiras) ou poderiam ser outras mulheres ou não-membros da equipe hospitalar, com ou sem treinamento especial (como doulas ou mulheres que tinham dado à luz anteriormente).

As mulheres alocadas para receber apoio intraparto contínuo tiveram maior chance de ter parto vaginal espontâneo [risco relativo (RR) 1,08, intervalo de confiança (IC) a 95%=1,04 – 1,12) e menor chance de receber analgesia de parto (RR=0,90, IC 96%=0,84 – 0,97) ou relatar insatisfação (RR=0,69, IC 95%=0,59 – 0,79). Além disso, elas tiveram menor duração do trabalho de parto (diferença média de -0,58 horas, IC 95%= -0,86 – -0,30), menor chance de serem submetidas a cesariana (RR=0,79; IC 95%=0,67 – 0,92) ou terem parto instrumental (RR=0,90; IC 95%=0,84 – 0,96), analgesia regional (RR=0,93; IC 95%=0,88 – 0,99) ou um bebê com escore de Apgar baixo no quinto minuto (RR=0,70; IC 95%=0,50-0,96). Não houve nenhum efeito aparente em intervenções intraparto como uso de ocitocina, problemas maternos (trauma perineal grave, dor grave durante o trabalho de parto, maternagem difícil baixa autoestima pós-parto e depressão pós-parto), outras complicações neonatais (admissão em enfermaria de cuidados especiais e hospitalização prolongada) ou amamentação com 1-2 meses pós-parto.

A análise de subgrupo sugeriu que o apoio contínuo intraparto foi mais efetivo quando fornecido por uma mulher que não era nem parte da equipe hospitalar nem pertencia à rede social da parturiente. Também foi mais efetivo em locais onde a analgesia peridural não estava rotineiramente disponível. Não foi possível realizar a análise planejada de subgrupo baseada no tempo de início do apoio intraparto.

4. DISCUSSÃO

4.1. Aplicabilidade dos resultados
Os benefícios do apoio contínuo in traparto em termos de desfechos maternos e perinatais são claros, como demonstrado por essa Revisão Sistemática Cochrane, e são consistentes em todos os ensaios clínicos em todos os lugares, apesar das diferenças nas rotinas obstétricas, protocolos hospitalares e condições e qualificações dos indivíduos que forneceram o apoio. Quando apoio contínuo intraparto é fornecido, as mulheres têm mais partos vaginais espontâneos, menor duração do trabalho de parto, menor uso de analgesia de parto, menor taxa de cesarianas e partos instrumentais e menos bebês com baixos escores de Apgar no quinto minuto. Além disso, as mulheres expressam mais satisfação com a experiência de nascimento.

Embora seja virtualmente impossível determinar a forma “ideal” de apoio contínuo intraparto, os benefícios parecem ser maiores quando o apoio contínuo intraparto é fornecido por uma doula. O apoio fornecido por doulas leigas está associado com redução da duração do trabalho de parto e maiores escores de Apgar no quinto minuto. Por outro lado, qualquer cuidador contínuo não pertencente à equipe institucional (amigos, membros da família ou o pai do bebê) podem fornecer apoio intraparto com redução do uso de analgesia e de partos operatórios. 

4.2. Implementação da intervenção
Todos os hospitais devem implementar programas que oferecem apoio contínuo para mulheres durante o trabalho de parto. A presença de um acompanhante da própria escolha da mulher deve ser permitida e encorajada. Uma alternativa para isso pode ser a integração de doulas em maternidades para a prestação de apoio contínuo a mulheres durante do trabalho de parto. Doulas são mulheres leigas que receberam treinamento especial para fornecer apoio não médico para mulheres e famílias durante o trabalho de parto, nascimento e período pós-parto (7,9). Formuladores de políticas e administradores devem reconhecer que os melhores desfechos são alcançados quando o apoio intraparto contínuo é fornecido por prestadores que não fazem parte da equipe da instituição, especialmente doulas. Isso é particularmente importante quando os formuladores de políticas de saúde desejam reduzir taxas elevadas de cesariana em seus hospitais ou países. 

Os custos dos serviços de doulas, quando disponíveis, são geralmente repassados para a família da mãe. Esses custos poderiam ser uma barreira para a prestação de apoio contínuo intraparto. Considerando todas as vantagens e os possíveis custos mais baixos para o sistema de saúde associados com a presença de doulas (menor chance de cesarianas e de uso de analgesia), os formuladores de políticas de saúde deveriam considerar cobrir os custos dos serviços de doulas. Programas para treinamento e acreditação de doulas deveriam estar disponíveis em todas as regiões do país. Cursos e programas para treinamento de doulas comunitárias podem ser oferecidos por hospitais públicos e serviços primários de saúde.

4.3. Implicações para pesquisa

Agora que os benefícios do apoio contínuo intraparto em termos de desfechos maternos e perinatais em curto prazo estão bem estabelecidos, estudos ulteriores devem investigar os efeitos do apoio contínuo durante o período pós-parto, bem como o seu impacto em desfechos maternos e infantis em longo prazo. Esses desfechos devem incluir, mas não devem se restringir às causas de morbidade materna, como incontinência urinária e fecal, dispareunia, dor perineal prolongada e depressão. A pesquisa no futuro também deve abranger algumas possíveis vantagens do apoio contínuo, como maior facilidade no estabelecimento de vínculo entre mãe e bebê e amamentação em longo prazo. 

Estudos comparando diferentes modelos de treinamento de provedores para o apoio contínuo intraparto devem ser realizados, e comparações dos serviços de doulas comunitárias ou doulas oferecidas pelo hospital ou doulas privadas também podem ser realizadas. Todos esses estudos devem incluir análises econômicas de custos e benefícios.

Referências

1. Rosenberg K, Trevathan W. Birth, obstetrics and human evolution. BJOG 2002;109(11):1199-1206.
2. Davis-Floyd RE, Sargent CF. Childbirth and authoritative knowledge: cross-cultural perspectives. University of California Press; 1997:505.
3. McCool WF, Simeone SA. Birth in the United States: an overview of trends past and present. The Nursing clinics of North America 2002;37(4):735-746.
4. Kitzinger S. Birth your way. New York; NY: DK Adult; 2002:208.
5. Davis-Floyd RE. Birth as an American rite of passage: second edition. University of California Press; 2004:424.
6. Davis-Floyd RE, Barclay L, Tritten J, Daviss B-A, eds. Birth models that work. Berkeley, CA: University of California Press; 2009:496.
7. Stuebe AM, Barbieri RL. Continuous intrapartum support. Uptodate. 2012. Available at:
http://www.uptodate.com/contents/continuous-intrapartum-support?source=search_result&search=doulas&selectedTitle=1%7E6#H10. Accessed March 20, 2012.
8. Hodnett ED, Gates S, Hofmeyr GJ, Sakala C, Weston J. Continuous support for women during childbirth. Cochrane Database of Systematic Reviews 2011;Issue 2. Art. No.: CD003766; DOI: 10.1002/14651858.CD003766.pub3.
9. Kayne MA, Greulich MB, Albers LL. Doulas: an alternative yet complementary addition to care during childbirth. Clinical Obstetrics and Gynecology. 2001;44:692-703.
________________________________________
Este documento deve ser citado como: Amorim MMR and Katz L. Continuous support for women during childbirth: RHL commentary (last revised: 1 May 2012). The WHO Reproductive Health Library; Geneva: World Health Organization.

POR: Dra. Melania Amorim

terça-feira, 24 de julho de 2012


Depois de eu ter reclamado publicamente nas redes sociais, eis que a Editora do Jornal da Paraíba envia a jornalista encarregada da primeira reportagem para me entrevistar. Eis as minhas respostas por e-mail:

> Por que a senhora é a favor do parto domiciliar? Ele é totalmente seguro?

Não se trata unicamente da minha opinião ou da minha experiência. A discussão sobre o local de parto deve se pautar, essencialmente, em dois níveis: respeito à autonomia e ao protagonismo feminino, uma vez que a escolha do local de parto é um direito reprodutivo básico; e reconhecimento e adequada interpretação das evidências comparando partos domiciliares planejados e partos hospitalares em gestantes de baixo risco. Não se compreende mais na atualidade o processo de tomada de decisão baseado exclusivamente nas concepções e na experiência do prestador de cuidado, uma vez que, por definição, Medicina Baseada em Evidências consiste na integração harmoniosa da experiência clínica individual com as melhores evidências científicas correntemente disponíveis e com as características e expectativas dos pacientes.

Do ponto de vista científico, existem diversos estudos corroborando as vantagens e a segurança do parto domiciliar planejado. Como vantagens temos a redução do número de intervenções como episiotomia (o corte do períneo), analgesia de parto, uso de ocitocina, menor taxa de cesarianas e de partos instrumentais (fórceps ou vácuo-extração), menor risco de infecção e elevada satisfação materna. Ou seja, verifica-se redução da morbidade materna. Do ponto de vista da segurança, o que os grandes estudos têm evidenciado é que não há aumento da mortalidade materna e tampouco da mortalidade perinatal, quando se comparam partos domiciliares planejados com partos hospitalares em parturientes de baixo risco. No último estudo holandês publicado em 2011 por van der Kooy e colaboradores, incluindo quase 680.000 partos, verificou-se que a mortalidade perinatal é aproximadamente a mesma, 0,15% em partos domiciliares planejados e 0,18% em partos hospitalares. Na Holanda 25% dos partos são atendidos em domicílio, por parteiras certificadas (midwives), de forma que eles dispõem dos dados de um número impressionante de partos, e não é verdade que lá os partos são atendidos com uma ambulância ou UTI móvel parada à porta do domicílio. As parteiras chegam frequentes vezes à casa das parturientes de bicicleta, carregando consigo todo o material necessário para a assistência ao parto, e referenciam quando necessário, ou seja, transferem mães e/ou bebês para o hospital quando há indicação, o que ocorre em torno de 10%-15% dos partos domiciliares.

Apesar da posição contrária de conselhos regionais de Medicina e da FEBRASGO, que vêm sistematicamente desaconselhando (embora não proibindo) o parto domiciliar, devemos destacar que tanto a Organização Mundial de Saúde (OMS) como a Federação Internacional de Ginecologistas e Obstetras (FIGO) respeitam o direito de escolha do local de parto pelas mulheres e reconhecem que, quando assistido por profissionais habilitados, há benefícios consideráveis para as mulheres que querem e podem ter partos domiciliares. A FIGO recomenda que "uma mulher deve dar à luz num local onde se sinta segura, e no nível mais periférico onde a assistência adequada for viável e segura”. Outras sociedades no mundo, como o American College of Nurse Midwives, a American Public Health Association, o Royal College of Midwives (RCM) e o Royal College of Obstetricians and Gynaecologists (RCOG) apoiam o parto domiciliar para mulheres com gestações não complicadas. De acordo com a diretriz do RCM e do RCOG, “não há motivos para que o parto domiciliar não seja oferecido a mulheres de baixo risco, uma vez que pode conferir consideráveis benefícios para estas e suas famílias”

> Quem é apto para realizá-lo (tanto do ponto de vista da paciente quanto do ponto de vista do profissional)?

Em relação aos critérios de seleção para candidatas ao parto
domiciliar, a Organização Mundial da Saúde recomenda que as mulheres podem escolher ter seus partos em casa se elas têm gestações de baixo risco, recebem o nível apropriado de cuidado e formulam planos de contingência para transferência para uma unidade de saúde devidamente equipada se surgem problemas durante o parto. Notem que esta é uma recomendação da Organização Mundial de Saúde e não a "minha" opinião!
Eu apenas reforço que parto domiciliar planejado é uma opção viável e segura somente para gestantes de baixo risco atendidas por profissionais qualificados, que podem lidar com eventuais
intercorrências e complicações que podem surgir durante ou logo depois do parto, providenciando a transferência, se necessário, para o hospital, que deve estar a uma distância conveniente, de forma que a remoção, quando indicada, seja efetuada dentro de 20 minutos.

Do ponto de vista do profissional, a Organização Mundial da Saúde
reconhece como profissionais habilitados para prestar assistência ao parto tanto médicos (obstetras ou médicos da família com qualificação em Obstetrícia) como enfermeiras-obstetras e parteiras formadas, também conhecidas como obstetrizes ou midwives. No Brasil, ainda temos uma carência desses profissionais, porque temos um único curso de formação de obstetrizes, que é o curso superior de cinco anos da USP,
mas em outros países, principalmente na Europa, essas profissionais são responsáveis pelo cuidado, tanto em domicílio como nos centros de saúde e hospitais, pela assistência pré-natal, ao parto e puerpério das gestantes de baixo risco, e uma revisão sistemática da Biblioteca Cochrane demonstra os benefícios desse modelo de assistência.

Profissionais qualificados atendendo partos domiciliares levam consigo todo o material necessário para a assistência à mãe e ao bebê, incluindo equipamentos para reanimação, caso necessária, e suporte de vida enquanto se providencia a transferência, se indicada. A transferência, em torno de 10% a 15%, dificilmente ocorre em condições de emergência, geralmente se trata de uma remoção programada, por exemplo quando há parada de progressão do trabalho de parto ou a gestante requer analgesia, mas os profissionais estão preparados para lidar com as emergências obstétricas ou neonatais mais comuns tanto em
ambiente intra como extra-hospitalar.

> Qual seria o conceito de humanização? O que é necessário para ter um parto humanizado?

"Humanização da Assistência ao Parto" é um termo com múltiplos significados, mas eu diria que os pontos-chave para defini-lo são o respeito à autonomia e ao protagonismo feminino e a assistência ao parto pautada nas melhores evidências científicas correntemente disponíveis. De acordo com o Ministério da Saúde (2000), "o conceito de atenção humanizada é amplo e envolve um conjunto de conhecimentos, práticas e atitudes que visam a promoção do parto e do nascimento saudáveis e a prevenção da morbimortalidade materna e perinatal. Inicia-se no pré-natal e procura garantir que a equipe de saúde realize procedimentos comprovadamente benéficos para a mulher e o bebê, que
evite as intervenções desnecessárias e que preserve sua privacidade e autonomia."

A fisiologia do processo deve ser reconhecida e preservada, evitando-se intervenções desnecessárias e prejudiciais, com efeitos deletérios já comprovados por diversas revisões sistemáticas disponíveis na Biblioteca Cochrane. Assim, NÃO se deve deixar a parturiente em jejum, fazer tricotomia (raspagem dos pelos) e enema (lavagem intestinal). Deve-se estimular a liberdade de deambulação e a escolha da melhor posição pela mulher durante o trabalho de parto e o parto, garantir o direito ao acompanhante e o suporte contínuo intraparto promovido por doulas, evitar o parto na posição tradicional, com a mulher deitada e com as pernas amarradas em perneiras, NÃO realizar episiotomia de rotina, não direcionar ou orientar os puxos (a força que a mulher faz durante o parto) e, logo depois do nascimento, garantir o contato precoce pele-a-pele de mãe e bebê, fazer ligadura tardia do cordão umbilical e incentivar a amamentação desde os primeiros minutos de vida.

Também não se deve realizar cesarianas desnecessárias sob pretextos infundados, sem uma indicação médica definida. Já dispomos de diversos estudos demonstrando que a cesariana eletiva (fora do trabalho de parto) sem indicação médica aumenta o risco de o bebê ter problemas respiratórios, precisar de oxigenioterapia e também de morte neonatal, mesmo que esse último desfecho tenha um risco absoluto baixo. A cesariana eletiva também tem sido apontada como uma das causas do aumento da prematuridade tardia, por datação incorreta da idade gestacional e/ou programação da cesariana com 37, 38 semanas, quando os bebês não estão preparados para nascer. Esses bebês terão repercussões tanto imediatas, como desconforto respiratório e hospitalização em UTI, como tardias, como problemas de aprendizagem. Da mesma forma, evidências sólidas apontam que a cesariana eletiva está associada com maior risco de os bebês desenvolverem asma, alergia respiratória, alergia alimentar, obesidade e uma série de repercussões na vida adulta que somente agora começamos a vislumbrar.

Deve-se, sobretudo, ter consciência de que o parto não é somente um evento biológico mas tem múltiplas dimensões, biopsicossociais e espirituais, e que a mulher é a protagonista desse evento. Os
profissionais de saúde, todos eles, são importantes para estar ao lado ("obstare") e promover uma assistência, como já definia Leboyer, "leve mas sem falhas", porém não são, não podem ser os personagens mais importantes no cenário do parto, que é um momento especial, mágico e singular para cada mulher, cada família.

Para um nascimento humanizado, é preciso sobretudo que os profissionais de saúde se conscientizem dos benefícios da humanização da assistência, porque infelizmente ainda há muito preconceito e desinformação, e que o parto seja preferencialmente assistido em ambiente respeitoso, resguardando-se a privacidade e o conforto do binômio mãe-bebê. Esse ambiente deve ser garantido tanto em hospitais como em centros de parto normal, tanto no SUS como no sistema de saúde suplementar. O Ministério da Saúde tem incentivado a promoção dessas boas práticas, desde a publicação, em 2000, de seu Manual de Assistência Humanizada ao Aborto, Parto e Puerpério, e nós já dispomos de várias leis e resoluções, inclusive a Lei do Acompanhante (11.108 de 2005) e a Resolução RD 36 da Anvisa, visando à mudança do cenário da assistência obstétrica em nosso país. O fato é que o modelo de assistência ao parto no Brasil é ainda fortemente medicalocêntrico e hospitalocêntrico e nós nos deparamos com o chamado "paradoxo perinatal brasileiro", porque temos 98% de partos hospitalares, excessivo uso de tecnologia e, a par disso, taxas ainda inaceitavelmente elevadas de morte materna e perinatal. É preciso modificar esse cenário, e essa mudança deve advir com a ampla disseminação e prática da assistência humanizada ao parto.

Ainda de acordo com o Ministério da Saúde (2000), "reconhecer a individualidade é humanizar o atendimento. Permite ao profissional estabelecer com cada mulher um vínculo e perceber suas necessidades e capacidade de lidar com o processo do nascimento. Permite também relações menos desiguais e menos autoritárias, na medida em que o profissional em lugar de "assumir o comando da situação" passa a adotar condutas que tragam bem-estar e garantam a segurança para a mulher e o bebê."

> O parto humanizado também pode ser realizado em ambiente hospitalar?

O modelo clássico de assistência hospitalar ao parto, em que cada mulher prestes a dar à luz é transformada em uma paciente, não é compatível com os pressupostos da Humanização. Porém, é possível modificar esse modelo e transformar as práticas, reconhecendo e incorporando as evidências à assistência hospitalar. Por exemplo, há nítidas evidências de que o parto em centros de parto normal e em suítes PPP (pré-parto, parto e pós-parto), em vez da assistência ainda muito comum ao parto dentro do bloco cirúrgico ou em "salas de parto", traz numerosas vantagens para o binômio mãe-bebê. O Ministério da Saúde tem se esforçado em promover os centros de parto normal e a disponibilidade de suítes PPP em todos os hospitais, mas ainda há um longo caminho a percorrer, incluindo a disponibilidade de vagas para todas as parturientes que procuram as maternidades, e muitas vezes peregrinam de hospital em hospital, e ainda têm que enfrentar, quando internadas, os problemas da superlotação, com os quais aliás também se angustiam os profissionais de saúde.

Nós temos que nos preocupar com a assistência humanizada intra-hospitalar, primeiro porque no Brasil 98% dos partos são hospitalares, e nós temos que investir em uma assistência hospitalar de qualidade. Depois, não são todas as mulheres que querem ou podem ter partos domiciliares. A Política Nacional de Humanização do Ministério da Saúde tem um nítido enfoque nos partos institucionais, quer em hospitais quer em centros de parto normal. Há nítidos desafios, como o percentual absurdamente elevado de cesarianas no País (52%, sendo mais de 80% no setor privado), a violência institucional contra a mulher (25% de todas as parturientes declaram ter sido vítimas de violência, verbal ou física, durante a assistência ao parto) e o abuso de procedimentos e práticas que já deveriam ter sido abolidos há muito tempo da prática obstétrica, como a episiotomia de rotina e a manobra de Kristeller (pressão no fundo uterino). Mas acreditamos que é possível modificar esse panorama. A assistência ao parto intra-hospitalar deve se centrar nos mesmos pressupostos já citados anteriormente, de respeito ao protagonismo feminino e uso das melhores evidências científicas correntemente disponíveis para a tomada de decisões, em uma abordagem centrada na mulher e em sua família.

> Quais são as bandeiras de luta da 'Marcha do Parto em Casa'?

Nos dias 16 e 17 de junho de 2012, milhares de mulheres em mais de 30 cidades brasileiras foram às ruas em defesa do direito de escolha do local de parto, mas obviamente não é essa a única bandeira de luta do movimento. O que se pleiteia é, sobretudo, o RESPEITO ao parto, o RESPEITO à Mulher. Lembro que essa mobilização começou em repúdio à decisão do CREMERJ (Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro) de encaminhar denúncia ao CREMESP (Conselho Regional de Medicina de São Paulo) contra o médico Jorge Kuhn, que manifestou no programa Fantástico sua opinião favorável e baseada em evidências em favor do parto domiciliar planejado para gestantes de baixo risco que ESCOLHEM
essa opção.

O debate em torno do parto domiciliar, não apenas no Brasil, mas em todo o mundo, tem se tornado extremamente polarizado e politizado, de forma que nós não esperamos com essa manifestação das mulheres resolver a polêmica. Nossa intenção é promover ampla discussão com toda a sociedade, tentando estabelecer um consenso, visando a garantir o respeito a um direito reprodutivo básico, qual seja a escolha do local de parto, mas também a implementar estratégias para aumentar a segurança e a satisfação das usuárias em TODOS os partos. Isto inclui tanto melhorar e humanizar a atenção hospitalar no sentido de que os partos assistidos em maternidades ou centros de parto normal possam representar uma experiência gratificante para as mulheres, como estabelecer diretrizes para a seleção adequada das candidatas ao parto domiciliar e um atendimento obstétrico seguro e de qualidade em domicílio.

O nosso abaixo-assinado em prol de um debate cientificamente embasado sobre o local de parto (http://www.peticaopublica.com.br/PeticaoVer.aspx?pi=petparto) já coletou mais de 3.700 assinaturas e será enviado ao Ministério da Saúde, à Cochrane do Brasil e a todos os conselhos médicos e de enfermagem, bem como associações como a FEBRASGO e a ABENFO, visando a regulamentar a assistência extra-hospitalar ao nascimento, com a elaboração de protocolos baseados nas mais atualizadas evidências científicas, permitindo incrementar a segurança e monitorar os desfechos maternos e perinatais, oferecendo a mais ampla gama de alternativas para as gestantes e reforçando a ideia do protagonismo feminino no parto.

Dra. Melania Amorim é médica-obstetra com doutorado e pós-doutorado em Ginecologia e Obstetrícia pela Unicamp, pós-doutorado em Saúde Reprodutiva na OMS, pesquisadora associada da Biblioteca Cochrane, professora de Ginecologia e Obstetrícia da UFCG (Campina Grande, Paraíba), professora da pós-graduação em saúde materno-infantil do IMIP (Recife, Pernambuco) e bolsista de produtividade em pesquisa do CNPq. Tem mais de 170 artigos publicados em revistas médicas nacionais e internacionais e é a atual Coordenadora Nacional do Núcleo de Parteria Urbana da Rede pela Humanização do Nascimento (ReHuNa) no Brasil.

_____

Perdi o meu latim. Vejam a resposta da repórter:

"Já li as suas respostas. Gostaria de saber se a senhora pode nos relatar casos concretos de partos domiciliares realizados aqui na Paraíba - que não sejam aqueles 'tradicionais' , inclusive já mostrados por meio de reportagem publicadas no JORNAL DA PARAÍBA, feitos em mulheres do interior ou que moram em áreas longíquas.

Ou existe alguma pesquisa que mostre os resultados dos partos domiciliares no Estado ou na região? Algo que seja mais próximo de nós, porque os dados da Europa são distantes para nós compararmos à nossa realidade, entende? A ideia do jornalismo e da matéria que nos propomos a fazer é propor o debate sobre o tema, focando nos recursos e nas experiências que nós temos em nível local. "

E a minha resposta, em sequência:

"Fulana, não há nenhum estudo sobre partos domiciliares planejados na Paraíba. As estatísticas brasileiras não nos permitem distinguir entre partos domiciliares não planejados, partos domiciliares sem assistência qualificada e partos domiciliares planejados assistidos por profissionais qualificados, inclusive esse é um dos objetivos do NuPar da ReHuNa, fazer um registro nacional dos partos domiciliares planejados nos centros urbanos. Por enquanto, em nível de Brasil, dispomos apenas das estatísticas preliminares de São Paulo:


Como você pode ler no relato acima, da Prefeitura de São Paulo (2010):

"Os partos assistidos por profissionais autônomos e cadastrados representaram em 2010, 16,5% do total de domiciliares, correspondendo a 95 nascimentos. A escolaridade destas mães era superior a 12 anos de estudo em 87,5% dos casos; 66,3% apresentava mais de 30 anos de idade, 65,3% constituiu-se de profissionais com ocupações relacionadas às ciências e artes; 65,3% era casada; 95,8% de cor branca; 92,6% realizou sete ou mais consultas de prénatal e em 49,5% este foi o primeiro parto. Todos os recém-nascidos deste grupo apresentaram peso superior a 2.500 g, 96,8% com índice de Apgar acima de 8 no primeiro e no quinto minuto. A maioria (86,3%) residia em bairros com predomínio dos grupos 1 e 2, isto é, nenhuma ou muito baixa vulnerabilidade social."

Eu já atendi diversos partos domiciliares em Recife, onde também trabalho, mas não na Paraíba. Em Recife existe todo um movimento organizado e grupos de mulheres que têm experiência positiva com partos domiciliares planejados assistidos por médicos ou enfermeiras-obstetras, mas acho que esse movimento ainda está engatinhando em nosso estado.

As evidências que apresentei, no entanto, são universais, da mesma forma que a recomendação da Organização Mundial da Saúde é válida para TODO O MUNDO, bem como a da Federação Internacional das Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia (FIGO). Não entendo a sua colocação sobre o tipo de jornalismo que vocês pretendem fazer, porque todos os profissionais entrevistados na sua reportagem falaram genericamente de suas opiniões sobre parto domiciliar sem nenhum embasamento em estudos
científicos e sem nenhum dado "concreto" de nosso estado, e absolutamente nenhum deles focou "nos recursos e nas experiências que nós temos em nível local."

Foram três páginas de reportagem nessa última edição, e não entendo por que, se vocês querem abordar assuntos somente que dizem respeito à realidade local, resolveram enfocar o parto domiciliar planejado."

Fica aqui registrado o meu protesto.


Texto de Melania Amorim, Obstetra

segunda-feira, 23 de julho de 2012

PARTO DOMICILIAR PLANEJADO - ATENÇÃO PADRÃO OURO


1) Pré-natal impecável, com todos os exames realizados, incluindo ultrassom morfológico com aproximadamente 20 semanas, sorologias conforme recomendação do Ministério da Saúde, pelo menos 6 consultas de pré natal com avaliação de pressão arterial, altura uterina, peso materno, ausculta fetal. Anamnese completa.
2) Pré-natal realizado por médico, enfermeiro obstetra, obstetriz ou uma combinação destes profissionais.
3) Permanecer como gestante de baixo risco até o final da gestação, sem doenças associadas. Situações especiais podem ou não ser classificadas como candidatas a um parto domiciliar, a depender de vários fatores: multípara, cesárea prévia ou pélvico, por exemplo.
4) Atendimento do parto por médico, enfermeiro obstetra, obstetriz com treinamento em emergências obstétricas e neonatais. 
5) Informações completas sobre hospitais de referência na região.
6) Equipamento completo de emergência: ambu, estetoscópio, medicamentos anti-hemorrágicos, soro para reposição de volume em caso de hemorragia, luvas e gazes estéreis, material de sutura, instrumentos esterilizados, e se possível um cilindro de O2 portátil.
7) Início espontâneo do trabalho de parto, sem indução ou aceleração com ocitocina.
8) Ausculta dos batimentos cardíacos fetais a cada hora (fase latente), a cada meia hora (fase ativa), a cada 15 minutos (expulsivo), especialmente após contração, com registro completo de todas as medidas e ações em prontuário individual.
9) Cuidado pós-parto com pelo menos três visitas de membros da equipe, nos primeiros sete dias de vida do bebê.
10) Emissão de DNV para registro do bebê, nos municípios onde há permissão da secretaria de saúde para retirada de DNV por profissionais.

Por: Ana Cristina Duarte - GAMA

sexta-feira, 20 de julho de 2012

"MULHERES X CREMERJ"


Cremerj proíbe a participação de acompanhantes profissionais em maternidades e causa revolta.

O Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro publicou na última quinta-feira (19) uma resolução que proíbe mulheres de contarem com a assistência de obstetrizes, doulas e parteiras em hospitais maternidades, assim como, outra resolução que proíbe e pune médicos-obstetras que acompanhem partos domiciliares, ou ainda, aqueles que deem retaguarda para parturientes com necessidade de remoção de parto em casa para o hospital.

Organizações Não-Governamentais, representantes de movimentos sociais e mulheres de todo o Brasil estão se manifestando em repúdio às resoluções através das redes sociais. No domingo, 05/08/2012, elas planejam realizar um piquete em frente à sede do Cremerj, localizado na zona sul do Rio de Janeiro.

As mulheres consideram que a decisão do Conselho contraria evidências científicas que comprovam a melhoria da qualidade da experiência do parto e a redução de intervenções médicas desnecessárias quando um parto é assistido por esses profissionais, que são qualificados para atuar nesse sentido. Já é conhecida e divulgada a importância das doulas e obstetrizes em um modelo de assistência obstétrica humanizado e centrado na mulher. As resoluções, inclusive, vão contra diretrizes do próprio Ministério da Saúde, que tem trabalhado nos últimos anos dentro da Política Nacional de Humanização da Saúde.
Para elas, as resoluções entram em contradição com o próprio Código de Ética Médica, que fala do respeito à autonomia. “Capítulo I, inciso XXI – No processo de tomada de decisões profissionais, de acordo com seus ditames de consciência e as previsões legais, o médico aceitará as escolhas de seus pacientes, relativas aos procedimentos diagnósticos e terapêuticos por eles expressos, desde que adequadas ao caso e cientificamente reconhecidas”.

As mulheres classificam a decisão do Cremerj como arbitrária. Em um país que alcança a primeira colocação mundial em realização de cesarianas, no qual as taxas desse tipo de cirurgia chegam a 52%, superando os 80% em hospitais privados e em alguns chegando a ultrapassar os 90%, essas resoluções podem ser consideradas como um retrocesso, ou, no mínimo, tendenciosas, por contribuírem para continuar perpetuando um modelo violento, que tira o poder e o direito de escolha da mulher, violando assim, seus direitos reprodutivos. Infração ética muito maior são as chamadas cesáreas eletivas sem indicação médica, realizadas sob pretextos não respaldados pela literatura.

Diversos estudos demonstram que as consideradas altíssimas taxas de cesáreas em hospitais brasileiros não ocorrem a pedido das mulheres, uma vez que a maior parte delas continua demonstrando preferência por parto normal, sendo conduzidas no decorrer da gestação a mudarem de opinião pelos próprios obstetras.

A Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro já foi acionada e está investigando o caso através dos Núcleos de Direitos Humanos e de Defesa dos Direitos das Mulheres. Além disso, uma carta está sendo encaminhada ao Ministério da Saúde, à Secretaria de Direitos Humanos e ao Conselho Federal de Medicina cobrando um posicionamento em relação à decisão.

Acompanhantes profissionais e evidências científicas

A participação de obstetrizes (profissionais formadas em curso superior de Obstetrícia) não somente integra o modelo transdisciplinar de assistência ao parto, como tem demonstrado resultados até superiores ao esperado. De acordo com a Biblioteca Cochrane, uma espécie de coleção de fontes de informação de evidências em atenção à saúde, em uma assistência promovida por obstetrizes, as mulheres têm menor risco de hospitalização antenatal, de analgesia regional e de parto instrumental. Ou seja: têm maiores chances de partos sem anestesia e parto vaginal espontâneo, além de maior sensação de controle durante o nascimento do bebê e mais facilidade para dar início ao aleitamento materno.

Em relação às doulas (acompanhantes profissionais de parto, responsáveis pelo conforto físico e emocional da parturiente durante o pré-parto, nascimento e pós-parto), 21 ensaios clínicos com mais de 15 mil mulheres mostraram que aquelas que receberam esse tipo de suporte tiveram menor risco de relatar insatisfação com a experiência do parto, menor duração do trabalho de parto, menor risco de cesariana, entre outras vantagens.

CARTA ABERTA AO CREMERJ




Como médica-obstetra, cidadã e ativista do Movimento pela Humanização do Parto e Nascimento no Brasil, venho tornar público o meu repúdio à resolução 266/12 do Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (CREMERJ), que veta a presença de doulas, obstetrizes e parteiras em partos hospitalares.

Com essa resolução arbitrária e que não se justifica a partir da série de "considerandos" com que o CREMERJ inicia o seu texto, esse Conselho demonstra uma lamentável falta de conhecimento de todas as evidências científicas correntemente disponíveis pertinentes à importância das obstetrizes e doulas em um modelo de assistência obstétrica humanizado e centrado na mulher. Mais ainda, vai contra as diretrizes do Ministério da Saúde e a Política Nacional de Humanização da Saúde.

A participação das obstetrizes (profissionais formadas em curso superior de Obstetrícia) não somente integra o modelo transdisciplinar de assistência ao parto, mas tem demonstrado resultados SUPERIORES a outros modelos, como é bem demonstrado na revisão sistemática da Biblioteca Cochrane: em um modelo de atenção promovido por obstetrizes, as mulheres têm menor risco de hospitalização antenatal, de analgesia regional e parto instrumental. Têm maior chance de partos sem analgesia, parto vaginal espontâneo, maior sensação de controle durante o nascimento, atendimento por uma obstetriz conhecida e início do aleitamento. Adicionalmente, têm menor risco de experimentar perda fetal antes de 24 semanas e menor duração da hospitalização neonatal. A recomendação dessa revisão sistemática é que deve-se oferecer um modelo de atenção promovido por obstetrizes à maioria das mulheres e AS MULHERES DEVERIAM SER ENCORAJADAS A REIVINDICAR ESSA OPÇÃO.


Em relação às doulas, outra revisão sistemática da Biblioteca Cochrane incluindo 21 ensaios clínicos randomizados e mais de 15.000 mulheres avaliando os efeitos do suporte contínuo intraparto evidenciou que mulheres que receberam esse suporte tiveram maior chance de ter parto vaginal espontâneo, menor necessidade de analgesia de parto, menor risco de relatar insatisfação com a experiência de parto, menor duração do trabalho de parto, menor risco de cesariana, parto instrumental, analgesia regional e nascimento de bebês com baixos escores de Apgar no 5o. minuto. A análise de subgrupo evidenciou que o suporte contínuo intraparto era MAIS EFETIVO quando providenciado por DOULAS!


Em maio de 2012, eu tive a oportunidade de publicar um comentário para a Biblioteca de Saúde Reprodutiva (RHL) da Organização Mundial da Saúde (OMS) em parceria com a Dra. Leila Katz, avaliando essa revisão sistemática da Cochrane. Em nosso comentário, PUBLICADO NO SITE DA RHL com o aval da OMS, nós concluímos que TODOS OS HOSPITAIS DEVERIAM IMPLEMENTAR PROGRAMAS PARA OFERECER SUPORTE CONTÍNUO INTRAPARTO, integrando doulas nos serviços de maternidade, UMA VEZ QUE OS MELHORES DESFECHOS MATERNOS E NEONATAIS SÃO OBTIDOS QUANDO O SUPORTE CONTÍNUO INTRAPARTO É OFERECIDO POR DOULAS. Essa estratégia é particularmente importante quando os gestores desejam reduzir as altas taxas de cesarianas em seus hospitais ou países.


No país campeão mundial de cesarianas, no qual nos deparamos com a vergonhosa taxa de 52% de cesáreas, que superam 80% no setor privado, situação que se repete no próprio Rio de Janeiro, onde a taxa de cesáreas na maioria dos hospitais privados ultrapassa 90%, o CREMERJ tem se omitido de forma indesculpável e, mais que isso, dá mostras de que pretende alimentar e perpetuar esse modelo perverso que tantos danos e sequelas tem provocado às mulheres brasileiras.
Em vez de combater a epidemia de cesarianas desnecessárias, o CREMERJ fecha os olhos à lamentável INFRAÇÃO ÉTICA das cesáreas SEM INDICAÇÃO MÉDICA, sob pretextos mal definidos por condições não respaldadas pela literatura. Diversos estudos demonstram que as absurdas taxas de cesárea nos hospitais brasileiros não ocorrem por pedido das mulheres, uma vez que a maioria das brasileiras continua demonstrando preferência pelo parto normal. O QUE JUSTIFICA ENTÃO TAXAS DE MAIS DE 90% DE CESÁREAS? Por que, em vez de fiscalizar, indiciar e PUNIR os médicos que ENGANAM suas pacientes e realizam cesarianas desnecessárias, infringindo assim o Artigo 14 do Capítulo III do Código de Ética Médica vigente em nosso país (que veda ao médico a realização de atos médicos desnecessários), o CREMERJ, na contramão das boas práticas baseadas em evidências, quer COIBIR estratégias que comprovadamente reduzem as taxas de intervenções e cesarianas desnecessárias?
Não podemos nos calar diante de tamanha arbitrariedade e tentativa de legislar sobre o corpo feminino, desrespeitando a autonomia e o protagonismo da mulher. O Conselho Federal de Medicina, o Ministério Público e o Ministério da Saúde devem ser notificados dessa tentativa absurda do CREMERJ de transformar o parto em um ato médico e desconsiderar tanto a atuação de outros profissionais no atendimento transdisciplinar ao parto e nascimento como o próprio DIREITO das mulheres de escolher COM QUEM querem ter os seus filhos e quem querem como acompanhantes nessa experiência única e transformadora do nascimento.

Melania Amorim, MD, PhD
Médica-obstetra
CRM - PB 5454CRM - PE 9627
Professora de Ginecologia e Obstetrícia da UFCG, Professora da Pós-Graduação em Saúde Materno-Infantil do IMIP, Pesquisadora Associada da Biblioteca Cochrane, Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq e Coordenadora do Núcleo de Parteria Urbana (NuPar) da Rede pela Humanização do Nascimento (ReHuNa)

quarta-feira, 18 de julho de 2012

O que as mulheres querem em seus partos?



Qual ambiente? Quais pessoas ao redor?
Que tipo de cuidado pra elas e seus bebês?



A gente não quer só parir.
A gente quer parir e fazer amor.

terça-feira, 17 de julho de 2012

Grandes frases de efeito da obstetrícia moderna

1 - Essa gravidez foi tão desejada, tão planejada, deu tudo certo até agora, por que esperar mais e arriscar um problema? Vamos marcar a cesárea?


2 - Depois daquela sua perda, dois anos atrás, acho que não deveríamos arriscar. Vamos marcar a cesárea?


3 - Olha, o seu bebê está alto e desencaixado. Da minha experiência, você não vai nem entrar em trabalho de parto. E aí, vamos marcar a cesárea?


4 - Seus exames estão ótimos, mas o seu ultrassom me preocupa. Parece que o bebê tem uma circular de cordão e isso pode gerar uma série de problemas no parto. E aí, vamos marcar a cesárea?


5 - Que bom, 37 semanas, o bebê está ótimo e já está pronto para nascer a qualquer momento. Só que eu não sei se consigo estar no seu parto. Vamos garantir e marcar essa cesárea?


6 - Puxa, seus exames estão excelentes, parabéns! Então, as festas estão chegando, feriado, os hospitais ficam bastante lotados, talvez não tenha vaga para você, se não marcarmos com antecedência. E aí, vamos marcar a cesárea?


7 - Até agora está tudo bem, mas eu estou vendo no seu exame que você está com ......................... [preencha o espaço em branco]. Não podemos mais esperar. Temos que marcar uma cesárea urgente para.. Deixa eu ver aqui.. Pode ser sexta feira? Não? Marcou escova? Ah, tá, é, tem razão. Que tal sábado? Espera, sábado eu tenho o batizado do filho do zelador. Uhm... Segunda feira 7h, combinados? Não podemos mais esperar.


8 - Eu prefiro parto normal, é bem melhor quando dá tudo certo. A recuperação da mãe é bem melhor, mas o bebê pode ter retardo mental, sabe como é.


9 - Eu prefiro parto normal, só que eu não me arrisco. Se tiver qualquer problema, eu opero!


10 - Eu já me arrependi de vários partos normais que atendi, mas nunca me arrependi de uma cesariana indicada.


Por: Ana Cristina Duarte, GAMA.




*E aí, qual foi a razão da sua cesárea?

quarta-feira, 11 de julho de 2012

SBT Repórter e a matéria sobre partos humanizados



"Na última segunda-feira, o SBT Repórter exibiu uma belíssima e exemplar matéria sobre partos humanizados.
Todo mundo que é ligado nesse assunto estava com o coração na mão aguardando o programa. Afinal de contas, nunca se sabe o que a mídia vai fazer em cima desse assunto tão importante e a gente sabe que o senso comum é o discurso do risco e da medicalização.
Então estávamos todas a postos, sintonizadas no canal do seu Silvio, torcendo para que fosse uma matéria esclarecedora.
E que grande emoção ao ver o profissionalismo com que a emissora tratou o tema...
Escolheu pessoas importantes no cenário da humanização para suas entrevistas, como a obstetriz Ana Cristina Duarte, que além de obstetriz é ativista e estudiosa do assunto, e a querida Luciana Benatti que, junto com seu marido, o fotógrafo Marcelo Min, produziram o belíssimo livro Parto Com Amor.
Que programa lindo... Profundamente emocionante e bastante esclarecedor.
Nem a opinião equivocada e claramente tendenciosa da Dra. Morandini, representante do CREMESP, atrapalhou. Pelo contrário. Contribuiu para deixar ainda mais claro o que é que os Conselhos de Medicina estão fazendo com o parto e nascimento: negando a autonomia e o protagonismo feminino, tentando substituir as mulheres e seus filhos por si próprios.
Particularmente, nada me emocionou mais do que a história da Renata, mineira, mãe de duas meninas, a primeira nascida por cesárea e a segunda nascida em casa, tendo sido o nascimento da última filha filmado por sua própria irmã.
Desconte-se o chavão da enaltação do policial militar como herói por ter auxiliado o parto da mulher, que tranquilamente pariu no carro inesperadamente, porque a beleza da matéria permite que descontemos os pequeníssimos equívocos. E compartilho aqui o que comentei na fan page do blog:

Será que deu pra entender que não é nada difícil falar de parto humanizado, de parto em casa, de parto na água? Será que deu pra perceber que foram as mulheres e suas histórias verídicas, honestas, sinceras, que tornaram o programa tão especial? E que isso tem acontecido cada vez mais? É tão fácil entender o porquê de tanta gente mobilizada, de tanta gente nas ruas nas Marchas, de tanta gente revendo seus próprios preconceitos, pegando o telefone à 1:30 da manhã pra dizer "Tô chorando, entendi agora o que vc quer dizer", de tanta mulher pedindo o retorno às suas próprias mãos de algo que não devia nem ter saído... Viu como, frente à beleza da naturalidade do nascimento e da interpretação dela como um evento familiar, a Dra. Morandini se tornou peça obsoleta e caricata dessa matéria? Ela, que representa o Conselho de Medicina. Viu como estão alicerçados em bases desatualizadas, fracas, baseadas em fins mesquinhos e biopolíticos? Deu pra ver, nessa matéria, de quem é o evento do nascimento e a quem pertence? Agora diz: tem como não ser transformador? Essa é uma parte da revolución de las madres. Com certeza. Uma revolução que trará benefícios a todos, inclusive aos que tentam se manter fixos na medicalização estrita do nascimento. Linda matéria mas, mais que bonita, IMPORTANTE.

Infelizmente, o horário não ajudou na popularização do programa.
Mas felizmente temos a internet!
Então se você não pode assistir no dia, reserve um horário na sua agenda e assista.
Deixe o lencinho ao lado, porque vai precisar.                                       
Se você não é um interessado no tema, ainda assim recomendo que assista, a título de curiosidade.
Não tem como não ser tocado por essas imagens e pela força e determinação de todas essas mulheres.
E é como diz Michel Odent: não temos como mudar o mundo se não mudarmos a forma de nascer.

UM ÚLTIMO PONTO: todo mundo reparou (ou vai reparar) como a Dra. Morandini não responde à pergunta sobre por que hoje no Brasil temos mais de 80% de cesáreas. Ela preferiu não respondeu e chamar o parto em casa de modismo.
As índias estão na moda. Nossas avós, de coque e saião, estão na moda. Mulheres nos recônditos brasileiros estão na moda. Tradicional mesmo é a cesárea.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

A Recepção do Recém-Nascido



" - Nasceu! Ouvi o chorinho, fiquei super emocionada. Levaram para os primeiros cuidados e um tempo depois me trouxeram ela, enrolada em uma espécie de charutinho."

É assim o relato da grande maioria das mulheres que tiveram seus filhos em hospitais, no sistema tradicional (e péssimo) de assistência. Seja no parto normal ou na cirurgia cesareana, os bebês nascem, às vezes são mostrados rapidamente para as mães, e são levados para os tais "primeiros cuidados" antes de voltarem, enrolados em panos, para suas mães. E depois dessa rápida apresentação mãe e bebê são novamente separados, eles vão para o  berçário ficar em "observação" enquanto a família observa e tira fotos através do vidro.
Essa rotina é encarada pela grande maioria das pessoas como algo "normal". Muitas nem se dão conta do choque que é para um bebê que acaba de sair de dentro do útero ser separado da sua mãe e passar por milhões de procedimentos. Aliás, a grande maioria das mulheres nem sabe que esses procedimentos existem! (quando a minha filha nasceu, eu não fazia ideia de nada disso). Além disso, a família não é informada de nada do que é feito com o RN e da necessidade dos procedimentos. Como aquilo tudo é feito em todos os nascimentos as pessoas acabam achando que é "necessário", visto até mesmo como um "cuidado". Algumas mulheres passam a vida sem ao menos saber que enquanto ela aguardava o  bebê ser "limpo e aquecido" ele passava na verdade por vários procedimentos.
Não é raro escutar uma mulher dizer "meu filho ficou o tempo inteiro comigo, não fomos separados!" e aí você pergunta "ué, nasceu e foi para o seu colo?não entregaram ao pediatra?não foi para o berçário?" e a pessoa responde "ah, sim...mas depois desses primeiros cuidados ficamos o tempo todo juntos".
Afinal, que " cuidados"  são esses? o que é feito com o RN logo após o nascimento?Esses procedimentos são mesmo necessários?

A verdade é que a grande maioria dos recém-nascidos necessita de pouco mais que vias aéreas livres e calor adequado para suportar os primeiros minutos de adaptação à vida extra-uterina. O sucesso da evolução humana e a taxa de sobrevivência excepcionalmente alta dos bebês humanos comprovam isso. Portanto, exceto se houver problemas específicos que exijam alguma atenção imediata, os bebês ao nascer devem ser colocados junto à mãe.

Apesar das evidências demonstrarem a "não-necessidade" dessas intervenções, a maioria dos pediatras seguem o protocolo dos hospitais. Protocolos ultrapassados, que realizam intervenções de rotina nos recém-nascidos (assim como nas gestantes) e os tratam todos iguais, independente de necessitarem ou não de cuidados e sem respeitar nem um pouquinho as individualidades do momento único do nascimento e a transição do bebê do ambiente intra-uterino para o extra-uterino.

Por isso, é preciso se informar a respeito de tudo, buscando informações baseadas em evidências científicas, atualizadas...para poder negociar com o pediatra ANTES DO PARTO, o que ela deseja e o que não deseja de intervenções em seu bebê. É importante marcar uma consulta com o pediatra que irá acompanhar o parto para resolver todas essas questões. Eu, por exemplo, não fazia ideia de que essas intervenções existiam, quando vi as fotos da minha bebê passando por tanta coisa eu perguntei "porque fizeram isso com ela?ela tava mal?" e o pai dela (que foi quem acompanhou tudo e tirou fotos) me respondeu "não, o pediatra disse que tinha que fazer isso sempre, é rotina...para ajudar a respirar, limpar, sei la!". Eu não conheci o pediatra com antecedência, eu não sabia nem o nome dele. Então, fica a minha dica. Conheçam as intervenções, conheçam o pediatra, marquem consulta, perguntem, troque de pediatra caso seja necessário. Isso é um direito. O parto é seu, o bebê é seu!

Então, para começar...é preciso conhecer as intervenções, né? Vamos a elas. Vou explicar um pouco sobre cada uma (lembrando: são todas feitas como ROTINA, ou seja, o bebê precisando ou não..vai passar por isso) e sobre as indicações reais para o uso de cada uma.


NASCEU...

Geralmente, o cordão umbilical é cortado no primeiro minuto após o nascimento. Alguns obstetras o cortam imediatamente após o corpo do bebê sair pelo canal do parto, com menos de 10 segundos de vida. o 1. Corte imediato (ou precoce) do cordão umbilical é o primeiro procedimento desnecessário e prejudicial pelo qual os bebês passam rotineiramente nos hospitais. Os obstetras que o fazem alegam que o contato com o sangue da mãe pode levar ao desenvolvimento da icterícia (doença que causa um tom amarelado na pele do recém-nascido). Porém, as pesquisas recentes demonstraram que a pausa para efetuar o corte do cordão não eleva nenhum risco de saúde para mãe ou o bebê,ao contrário, trás somente benefícios. A icterícia costuma desparecer naturalmente e também é comum casos de icterícia mesmo em bebês que nasceram por cesárea (o cordão é cortado imediatamente) e naqueles que tiveram o cordão clampeado no primeiro minuto de vida.
Os estudos compararam o efeito do clampeamento do cordão umbilical precocemente (como é feito de rotina) versus o tardio (somente após o cordão parar de pulsar) em termos de efeito neonatais relacionados sobretudo aos estoques de ferro e anemia 4 meses após o nascimento. Os estudos demonstraram que o clampeamento tardio do cordão umbilical resulta em maiores estoques de ferro nas crianças de 4 meses de idade e menor prevalência de anemia neonatal. A carência de ferro pode acarretar, além de fraqueza muscular e batimentos cardíacos acelerados, problemas significativos no desenvolvimento neurológico da criança, podendo causar inclusive danos permanentes. A simples realização da ligadura tardia do cordão no momento do parto (ou na cesareana) pode beneficiar milhares de crianças, inclusive o SEU BEBÊ.
É importante lembrar que todo o sangue do cordão umbilical é do bebê, não circula sangue materno no cordão umbilical. Quando o cordão é cortado precocemente (quando ainda está pulsando, ou seja, ainda está transferindo sangue para o bebê) o bebê é privado de até 40% do SEU PRÓPRIO SANGUE. Se o cordão permanece ali, intacto, ligado ao bebê e a placenta...ele vai continuar a transferir todo o sangue do bebê para ele e vai aos poucos parando de pulsar, quando o bebê tiver recebido 100% do seu sangue, o cordão fica "murcho", para de pulsar, e pode ser cortado sem trazer nenhum dano ao bebê.
Além disso, o bebê capta oxigênio utilizando os pulmões pela primeira vez no momento que nasce e inspira o ar (até então todo o oxigênio vinha através do cordão umbilical). Não cortar o cordão precocemente permite que o bebê continue a receber oxigênio do cordão umbilical, dessa forma ele tem a chance de aprender  a respirar aos poucos, sem um corte abrupto.

Bom, mas vamos voltar para a "realidade obstétrica" do nosso país...e continuar a falar sobre o que fazem com os bebês. Após ter o cordão cortado imediatamente, o bebê é levado para uma mesa onde todos os outros procedimentos de rotina serão realizados. Algumas equipes mostram "rapidamente" (tipo, 3 segundos) o bebê para a mãe antes disso. (no meu caso, a minha bebê foi imediatamente levada, eu não a vi).

2. Aspiração das vias aéreas

O procedimento de aspiração rotineira para remover secreções das vias orais e nasais do RN tem uma utilidade um tanto duvidosa. Segundo os pediatras que o fazem os possíveis benefícios são a melhora da troca gasosa e redução da possibilidade de aspirar secreções. O que eles não contam é que os potenciais riscos da pratica incluem arritmias cardíacas, laringoespasmo (oclusão da glote devido a contraçäo dos músculos da laringe), e vasoespasmo da artéria pulmonar. A grande maioria dos bebês nascem bem e não precisam ser aspirados. Eles são perfeitamente capazes de limpar suas próprias vias áereas (tossindo, espirrando). Além disso, os bebês que nascem por parto vaginal, ao passar pelo canal de parto, os pulmões do bebê são massageados, provocando a expulsão natural dos líquidos. A aspiração, tanto a orotraqueal  (pela boca) quanto a nasotraqueal (pelo nariz) causam  muito desconforto para o bebê, basta que você imagine um cateter (sonda) sendo enfiado no seu nariz e indo até a sua traqueia, "aspirando" tudo que tiver lá e depois sendo puxado para fora novamente. Agora, imagine passar por esse procedimento no seu primeiro minuto de vida, após sair de um ambiente quentinho, escuro, protegido. Sem dúvida não é uma boa maneira de se chegar ao mundo né?


Aspiração das nasotraqueal

Aspiração das vias orais

E se o procedimento for necessário? Nesses casos devem-se utilizar pêras de aspiração ao invés de cateteres, dessa forma é menos provável que aconteçam arritmias.

3. Aspiração Gástrica

A prática de aspiração gástrica rotineira foi introduzida após uma sugestão não-testada, de que a angústia respiratória de lactentes de mães diabéticas frequentemente era causada por regurgitação e, sendo assim, a aspiração desse vômito poderia ser evitada por aspiração gástrica. A introdução do tubo no bebê recém-nascido pode causar bradicardia, laringoespasmo e pertubação do comportamento alimentar. Não existe nenhuma justificativa para a realização da aspiração gástrica rotineira. Porém, o procedimento continua a ser realizado todos os dias em diversos hospitais publicos e privados do país. Uma pesquisa baseou-se em prontuários de 277 recém-nascidos que nasceram de gestações de baixo risco e foram considerados vigorosos (ou seja, nasceram muito bem, obrigada!) no ano de 2006 em dois diferentes hospitais do país. Constatou-se que a aspiração gástrica foi feita em 94% e 86% dos bebês, respectivamente, enquanto a aspiração de vias aéreas ocorreu em 96% e 91% dos recém-nascidos. Portanto, mães e pais, não fiquem aí pensando que é "exagero, não devem fazer isso em todos!!"



4. Credé - Aplicação do Colírio de Nitrato de Prata

Esse procedimento consiste em pingar uma gota de colírio de nitrato de prata em cada olho do recém-nascido de forma rotineira. Esse procedimento foi introduzido em 1881, para o controle da oftalmia gonocócica do recém-nascido (uma espécie de conjuntivite bastante grave, que é contraída no momento do nascimento, a partir do contato com secreções genitais maternas contaminadas com a bactéria), que era comum naquela época. O procedimento então passou a ser utilizado em todos os hospitais e continua sendo assim até hoje. A questão é que, bebês que nascem por cesareana, por exemplo, não passaram pelo canal vaginal, portanto, não tem chances de adquirir a doença. Alguém por favor me explica, POR QUE ELES TAMBÉM RECEBEM O COLÍRIO ROTINEIRAMENTE? (minha filha recebeu..e nasceu por cirurgia cesareana!!) E tem mais, o colírio de nitrato de prata resulta em um alto índice de conjuntivite química e é ineficaz contra a Chlamydia (que em muitas regiões é a causa mais comum de oftamia neonatal atualmente). Além disso, medicamentos tópicos aplicados aos olhos dos recém-nascidos podem reduzir a abertura ocular e inibir respostas visuais. Isso pode atrapalhar a interação visual entre a mãe e o bebê durante a primeira hora de vida. Infelizmente, o colírio de nitrato de prata (Credé) é recomendado (ainda) pelo Ministério da Saúde, e alguns estados têm legislação específica para o seu uso, mas ninguém pode ser OBRIGADO a deixar seu RN ser submetido a esse método ultrapassado que não previne a oftalmia por clamídia e ainda promove conjuntivite química. É absurdo. O que se pode fazer é solicitar ao obstetra (no caso de não ser um obstetra humanizado) que faça a cultura andovaginal para gonorréia durante o pré-natal. Com o resultado negativo em mãos, é possível argumentar com o pediatra durante a consulta pré-natal e exigir que seu bebê NÃO receba o colírio. Se o uso for necessário, o colírio de nitrato de prata pode ser substituído pela eritromicina, que previne tanto a oftalmia gonocócica quanto a por clamídia, ou seja, é mais eficaz.  Além disso, mesmo que seja necessário o uso do colírio ele pode ser aplicado 1h após o nascimento do bebê. A primeira hora de vida do bebê não deve ser perturbada, mãe e bebê devem ser deixados em paz. 

5. Vitamina K

A administração de vitamina K nos recém-nascidos é uma forma de profilaxia contra a doença hemorrágica do recém-nascido.Na década de 50 (antes da vitamina K começar a ser utilizada de forma profilática) aproximadamente 4 a cada 1.000 nascidos apresentavam a doença. Até o presente momento, preconiza-se a administração de vitamina K em todas as crianças, pois as conseqüências desta hemorragia podem ser graves, justificando uma ação preventiva eficaz. A administração de Vitamina K é realizada nos hospitais através de uma injeção intramuscular na coxa do RN. Apesar de eficaz, esse procedimento é invasivo e muito doloroso. Podem-se obter índices semelhantes de proteção contra a doença administrando a vitamina K via oral, em doses repetidas (no dia do nascimento, e após 1 ou 2 semanas de vida). Deve ser ressaltado que os recém-nascidos com maior risco para doença hemorrágica, a saber, prematuros com baixo peso ao nascimento, com complicações perinatais, filhos de mães que usaram anti-convulsionantes, anticoagulantes e tuberculostáticos na gestação, devem receber a profilaxia na forma intramuscular. Ou seja, lactentes de alto risco devem receber a vitamina K intramuscular. E lactentes de baixo risco (bebês a termo, saudáveis, sem nenhuma complicação) podem receber a vitamina K via oral. O uso dessa forma de profilaxia exige que os pais se responsabilizem pela conclusão do tratamento, administrando as outras doses via oral em casa, no tempo estabelecido. Leia, pergunte, pesquise e converse com o pediatra. Sim, você tem opção!

6. Separação Mãe-Bebê. Tempo de "observação" no berçário (incubadora).

Na maioria dos hospitais em nosso país, os bebês depois de passarem por todos os procedimentos de rotina já listados acima, são apresentados a mãe (é nessa hora que geralmente os pais tiram as fotos em família) e já vão para o berçário, onde são pesados, medidos, muitas vezes já dão até banho...e depois ficam em "observação" (mesmo nascendo perfeitamente saudáveis) por X horas estipuladas no protocolo de cada hospital (já vi hospitais que deixam 2 horas, 3 horas, até 12 horas!). O bebê é deixado em berço aquecido ou incubadora, sozinho, em um "mundo estranho"...apenas por rotina. A minha filha ficou 3 horas no berçário...enquanto isso, eu pedia para que meus parentes fossem até o berçário e tirassem fotos dela através do vidro, e trouxessem para eu ver, para eu saber como ela era, como ela estava, onde ela estava. E o pior dessa separação, é que muitos hospitais introduzem as fórmulas enquanto os bebês estão no berçário, prejudicando o aleitamento materno e a saúde do bebê (foi o caso da minha filha, tomou NAN ainda no hospital). O Ministério da Saúde e a Organização Mundial da Saúde enfatizam cada vez mais a importância do contato pele a pele assim que o bebê nasce, e a amamentação imediata, além do alojamento conjunto durante todo o tempo. Não há nenhuma necessidade em levar o bebê para o  berçário e deixa-lo horas lá. Aliás, há sim... a necessidade do hospital faturar um pouquinho mais...pelo uso dos equipamentos por X horas.

Período de "observação" no berçário

Bom, é isso. Essas são as intervenções de rotina praticadas em todas as maternidades do país. Existem ainda algumas outras como "banho de luz", exame de sangue, etc...que alguns hospitais fazem rotineiramente, mas não são todos. 

E depois disso tuuuuuuuuuuuuuudo....você finalmente, recebe o bebê limpinho, cheiroso, de fraldinha e roupinha, dormindo...em um bercinho que é colocado ao lado da sua cama, no quarto do hospital.

RN enfim no quarto, após todos os procedimentos. 4hs após o nascimento.


É assim que você quer que seu  bebê seja recebido? É assim que você quer que ele conheça o mundo, depois de tanto tempo de gestação, de proteção dentro do útero? De sonhos e desejos para oferecer sempre o melhor a ele/ela?

Informem-se mulheres, mães, pais!
Corram atrás, o  bebê é de vocês, é direito de vocês saber tudo que será feito, porque será feito, e recusar qualquer procedimento que você não concorda! Eu fico muito triste em saber que a minha filha passou por todas essas intervenções desnecessariamente. Exceto a foto da aspiração gástrica, todas as outras desse post são da minha filha, quando nasceu.
Eu não tinha conhecimento, eu não tinha essas informações. Eu nem ao menos sabia que ela tinha passado por tudo isso...quando esperava para conhece-la, o que me disseram foi "levaram para limpar e todas as outras coisas e já lhe trazem". Eu só vi os absurdos quando peguei a máquina fotográfica, horas após o nascimento....e vi as imagens. Mesmo assim eu não sabia o que era aquilo tudo e porque tinha sido feito. Hoje eu sei. Agora tenho informação.E eu não permitirei de forma alguma que isso aconteça ao meu próximo filho/a.

Passo a informação a diante, para que você também não permita!



Referências:

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2. Tyson, J., Silverman, W. and Reisch, J., Immediate care of the newborn infant.
3. von Kries, R. (1998) Neonatal vitamin K prophylaxis: the Gordian knot still awais untying, BMJ, 316, 161-2.
4. von Kries, R. (1993). Neonatal vitamin K prophylaxis. Report on Scientific and Standardization Subcommittee on Perinatal Haemostasis. Thromb. Haemostas., 69, 293-5.
5. Puckett, R.M and Offringa, M., Vitamin K for preventing haomorrhagic disease in newborn infants [protocol].
6. Anderson G, Moore E, Hepworth J, Bergman. N. Early skin-to-skin contact for mothers and their
healthy newborn infants. Cochrane Database Syst Rev  2003;(2):CD003519.
7. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Pré-natal e puerpério: atenção qualificada e humanizada. Manual técnico. Série A: Normas e manuais técnicos. Série Direitos sexuais e reprodutivos – Cad. 5. Brasília; 2005. 
8. Monteiro CA, Szarfarc SC, Mondini L. Tendência secular da anemia na infância na cidade de São Paulo (1984-1996). Rev Saude Publica. 2000;34:62-72.
9. Osório MM, Lira PI, Ashworth A. Factors associated with Hb concentration in children aged 6-59 months in the State of Pernambuco, Brazil. Br J Nutr. 2004; 91:307-14. 
10. van Rheenen P, Brabin BJ. Late umbilical cordclamping as an intervention for reducing iron deficiency anaemia in term infants in developing and industrialised countries: A systematic review. Ann Trop Paediatr 2004;24:3–16.