Por: Dra. Melania Amorim
Fonte original: http://estudamelania.blogspot.com.br/2012/08/indicacoes-reais-e-ficticias-de.html
REAIS
PODEM ACONTECER, PORÉM FREQUENTEMENTE SÃO DIAGNOSTICADAS DE FORMA EQUIVOCADA
SITUAÇÕES ESPECIAIS EM QUE A CONDUTA DEVE SER INDIVIDUALIZADA, CONSIDERANDO-SE AS PECULIARIDADES DE CADA CASO E AS EXPECTATIVAS DA GESTANTE, APÓS INFORMAÇÃO
Algumas desculpas frequentemente utilizadas pelos profissionais para realizar uma DESNEcesárea (em ordem alfabética)
Fonte original: http://estudamelania.blogspot.com.br/2012/08/indicacoes-reais-e-ficticias-de.html
"A presente lista de indicações de cesariana circula na
Internet desde 2005, quando eu publiquei a primeira versão em uma comunidade do
Orkut ("Cesárea? Não, obrigada!"), e desde então tem sido amplamente
divulgada, crescendo lamentavelmente a cada dia, porque estou sempre me
deparando com gestantes querendo esclarecimentos ou mulheres que contam suas
próprias histórias ou histórias de amigas.
Recentemente, Ana Cristina Duarte, obstetriz e amiga, fez
alguns acréscimos e organizou a lista em ordem alfabética, motivo pelo qual lhe
dou os créditos da presente versão. É de domínio público, usem à vontade, mas
preferentemente remetendo à fonte, ou seja, Amorim & Duarte (2012), com
link para esta página da Web.
Não temos a pretensão de cobrir todas as possíveis indicações
de cesariana, apenas começamos a elencar sobretudo as "não
indicações" mais frequentes.
Para uma leitura mais aprofundada e baseada em
evidências, eu recomendo a série de artigos que publicamos na revista Femina,
"Indicações de Cesariana Baseadas em Evidências", em três partes:
Segue a lista (em constante atualização):
INDICAÇÕES REAIS E FICTÍCIAS PARA A CESÁREA
Algumas indicações de cesariana...
REAIS
1) Prolapso de cordão – com dilatação não completa;
2) Descolamento prematuro da placenta com feto vivo –
fora do período expulsivo;
3) Placenta prévia parcial ou total (total ou
centro-parcial);
4) Apresentação córmica (situação transversa) - durante o
trabalho de parto (antes pode ser tentada a versão);
5) Ruptura de vasa praevia;
6) Herpes genital com lesão ativa no momento em que se
inicia o trabalho de parto (em algumas diretrizes, somente se for a
primoinfecção herpética).
PODEM ACONTECER, PORÉM FREQUENTEMENTE SÃO DIAGNOSTICADAS DE FORMA EQUIVOCADA
1) Desproporção cefalopélvica (o diagnóstico só é possível
intraparto, através de partograma e não pode ser antecipado durante a
gravidez);
2) Sofrimento fetal agudo (o termo mais correto
atualmente é "freqüência cardíaca fetal não-tranqüilizadora",
exatamente para evitar diagnósticos equivocados baseados tão-somente em padrões
anômalos de freqüência cardíaca fetal);
3) Parada de progressão que não resolve com as medidas
habituais (correção da hipoatividade uterina, amniotomia), ultrapassando a
linha de ação do partograma.
Nota: o uso do partograma de Friedman é altamente
questionável. A curva de evolução do trabalho de parto tem grande variação,
recomendando-se atualmente a curva de Zhang, com percentis. Pela grande
variação do que é fisiológico, considera-se que não é necessário intervir para
apressar um parto quando mãe e bebê estão bem.
SITUAÇÕES ESPECIAIS EM QUE A CONDUTA DEVE SER INDIVIDUALIZADA, CONSIDERANDO-SE AS PECULIARIDADES DE CADA CASO E AS EXPECTATIVAS DA GESTANTE, APÓS INFORMAÇÃO
1) Apresentação pélvica (recomenda-se a versão cefálica
externa com 37 semanas mas se não for bem sucedida, discutir riscos e
benefícios com as gestantes: o parto pélvico só deve ser tentado com equipe
experiente e se for essa a decisão da gestante);
2) Duas ou mais cesáreas anteriores (o risco potencial de
uma ruptura uterina – variando de 0,5% - 1% - deve ser pesado contra os riscos
de se repetir a cesariana, que variam desde lesão vesical até hemorragia,
infecção e maior chance de histerectomia);
3) HIV/AIDS (cesariana eletiva indicada se HIV + com
contagem de CD4 baixa ou desconhecida e/ou carga viral acima de 1.000 cópias ou
desconhecida); em franco trabalho de parto e na presença de ruptura de
membranas, individualizar casos.
Algumas desculpas frequentemente utilizadas pelos profissionais para realizar uma DESNEcesárea (em ordem alfabética)
1. Abdominoplastia
prévia
2. Aceleração dos
batimentos fetais
3. Adolescência
4. Ameaça de
chuva/temporal na cidade
5. Anemia
falciforme
6. Ameaça de parto
prematuro (?)
7. Anemia
ferropriva
8. Anemia de
qualquer tipo (entendam, gestantes, a cesariana vai agravar a anemia, uma vez
que a perda sanguínea é cerca de 500ml no parto normal e 1.000ml na cesariana
9. Anencefalia
10.
Anticoagulação (uso de warfarin que já deveria estar suspenso a termo,
uso de heparina de baixo peso molecular, uso de heparina convencional)
11. Artéria
umbilical única
12. Asma
13. Assalto ou
outras formas de violência (gestante ou familiar foi vítima de assalto, então o
bebê pode ficar estressado)
14. Acidente
Vascular Cerebral (AVC) prévio
15. Bacia
"muito estreita"
16. Baixa
estatura materna
17. Baixo ganho ponderal materno/mãe de baixo
peso
18. Bebê alto,
não encaixado antes do início do trabalho de parto
19. Bebê
profundamente encaixado
20. Bebê que
não encaixa antes do trabalho de parto
21. Bebê
"grande demais" (macrossomia fetal só é diagnosticada se o peso é
maior ou igual que 4kg e não indica cesariana, salvo nos casos de diabetes
materno com estimativa de peso fetal maior que 4,5kg. Não se justifica
ultrassonografia a termo em gestantes de baixo risco para avaliação do peso
fetal).
22. Bebê
"pequeno demais"
23. Bebê
engolindo o líquido amniótico
24. Bebê
flagrado apertando o cordão durante a ultrassonografia, o que aparentemente
levou a bradicardia
25. Bilhete ou
telefonema do prefeito/secretário de saúde de município próximo – Bilhete de
qualquer político
26. Bolsa rota
(o limite de horas é variável, para vários obstetras basta NÃO estar em
trabalho de parto quando a bolsa rompe)
27. Calcificação da sínfise púbica (alegando-se
que ocorreria em TODAS as mulheres com mais de 35 anos, impedindo o parto
normal)
28.
Candidíase
29.
Cardiopatia (o melhor parto para a maioria das cardiopatas é o vaginal)
30. Cegueira
materna
31. Ceratocone
32. Cesárea
anterior
33. Chlamydia,
ureaplasma e mycoplasma
34. Circular
de cordão, uma, duas ou três “voltas” (campeoníssima – essa conta com a
cumplicidade dos ultrassonografistas e o diagnóstico do número de voltas é
absolutamente nebuloso)
35. Cirurgia
gastrointestinal prévia
36. Colestase
gravídica
37. Coleta de
sangue do cordão umbilical para congelamento e preservação de células-tronco
38. Colo
grosso, colo posterior, colo duro, colo alto e (paradoxalmente) colo curto
39. Colostomia
(sim, porque é melhor fazer uma incisão abdominal perto do estoma com fezes do
que um parto normal bem distante da área...)
40. Conização
prévia do colo uterino
41. Condilomas
(verrugas genitais) que não provocam obstrução do canal de parto.
42.
Constipação (prisão de ventre)
43. Cordão
curto (impossível a mensuração antes do nascimento)
44. Cálculo
renal (nefrolitíase)
45. Data
provável do parto (DPP) próximo a feriados prolongados e datas festivas
(incluindo aniversário do obstetra)
46. Datas
significativas como 11/11/11 ou 12/12/12 (ainda bem que a partir de 2013
precisaremos esperar o próximo século mas ainda inventam outras...)
47. Diabetes
mellitus clínico ou gestacional
48.
Diagnóstico de desproporção cefalopélvica sem sequer a gestante ter
entrado em trabalho de parto e antes da dilatação de 8 a 10 cm
49. Disfunção
da sínfise púbica
50. Dorso à
direita, dorso posterior, ou dorso em qualquer outro lugar
51. Edema de
membros inferiores/edema generalizado
52.
Eletrocauterização prévia do colo uterino
53.
Endometriose em qualquer grau e localização
54. Enxaqueca
materna
55. Epilepsia
e uso de qualquer droga antiepiléptica
56. Escoliose
57.
Espondilite anquilosante – Qualquer espondiloartropatia
58.
Estreptococo do Grupo B (EGB) no rastreamento com cultura anovaginal
entre 35-37 semanas
59. Exérese
prévia de pólipos intestinais por colonoscopia
60. Falta de dilatação antes do trabalho de parto
61. Falta de
vagas nos hospitais se a gestante não marcar a cesárea
62. Feto com
“unhas compridas”
63. Feto morto
64.
Fibromialgia
65. Fratura de
cóccix em algum momento da vida
66.
Gastroplastia prévia (parece que, em relação ao peso materno, se correr
o bicho pega, se ficar o bicho come)
67. Gestação
gemelar com os dois conceptos, ou o primeiro, em apresentação cefálica
68. Gestante
saudável demais, correndo o risco de ter um parto fácil e muito rápido, podendo
parir antes de chegar ao hospital, com risco de morte do bebê
69. Gravidez
não desejada
70. Gravidez
prolongada
71. Grumos no
líquido amniótico
72.
Hemorroidas
73. Hepatite B
e Hepatite C
74. Hérnia de
disco, operada ou não, em qualquer segmento da coluna vertebral
75. Hérnia
inguinal, hérnia incisional e hérnia umbilical
76.
Hiperprolactinemia
77.
Hipertireoidismo
78.
Hipotireoidismo
79. História de
cesárea na família
80. História
de câncer de mama ou câncer de mama na gravidez
81. História
de depressão pós-parto
82. História
de natimorto ou óbito neonatal em gravidez anterior
83. História
de trombose venosa profunda
84. História
familiar de fibrose cística do pâncreas
85. HPV com ou
sem NIC
86. Idade
materna “avançada” (limites bastante variáveis, pelo que tenho observado, mas
em geral refere-se às mulheres com mais de 35 anos)
87. Incisura
nas artérias uterinas (pesquisada inutilmente, uma vez que não se deve realizar
oplervelocimetria em uma gravidez normal)
88.
Incontinência urinária de esforço ou estar fazendo muito xixi no final
da gravidez
89. Infecção
urinária
90. Inseminação
artificial, FIV, qualquer procedimento de fertilização assistida (pela ideia de
que bebês “superdesejados” teriam melhor prognóstico com a cesárea) – motivo
pelo qual esses bebês aqui no Brasil muito raramente nascem de parto normal
91.
Insuficiência istmocervical (paradoxalmente, mulheres que têm partos
muito fáceis são submetidas a cesarianas eletivas com 37 semanas SEM retirada
dos pontos da circlagem)
92.
Insuficiência Renal Aguda ou Crônica
93.
Laparotomia prévia
94. Lesão medular
(habitualmente acarretando paralisia: tetraplegia, paraplegia, hemiplegia,
diplegia, dependendo do nível da lesão): essas mulheres em geral são
cadeirantes e podem ter partos sem dor, mas o diagnóstico não é indicação de
cesárea!
95. Líquido
amniótico em excesso
96. Lúpus
eritematoso sistêmico (LES)
97. Magreza da
mãe
98.
Malformação cardíaca fetal
99. Mecônio no
líquido amniótico (só indica cesariana se houver associação com padrões
anômalos de frequência cardíaca fetal, sugerindo sofrimento fetal)
100. Mioma uterino
(exceto se funcionar como tumor prévio)
101. Miscigenação
racial (pelo “elevado risco” de desproporção céfalo-pélvica)
102. Neoplasia
intraepitelial cervical (NIC)
103. Nó verdadeiro
de cordão (impossível o diagnóstico antenatal, sorry)
104. 98. Obesidade materna
105. 99. Paciente “não tem perfil para parto
normal”
106. Paciente “não
ajuda para o parto normal” (momento vidente ON: “no fundo ela quer cesárea”)
107. Parto
“prolongado” ou período expulsivo “prolongado” (também os limites são muito
imprecisos, dependendo da pressa do obstetra). O diagnóstico deve se apoiar no
partograma. O próprio ACOG só reconhece período expulsivo prolongado mais de
duas horas em primíparas e uma hora em multíparas sem analgesia ou mais de três
horas em primíparas e duas horas em multíparas com analgesia. Na curva de Zhang
o percentil 95 é de 3,6 horas para primíparas e 2,8 horas para multíparas)
108. “Passou do
tempo” (diagnóstico bastante impreciso que envolve aparentemente qualquer idade
gestacional a partir de 39 semanas)
109.
Perineoplastia anterior
110. Pé nas
costelas
111. Pé torto
congênito
112. Placenta grau
III ou II ou I ou qualquer outra classificação placentária
113. Placentas
baixas não oclusivas do colo do útero
114. Plaquetopenia
115. Pólipos
uterinos
116. Possível
falta de vaga em maternidade para um parto normal, caso a gestante não marque a
cesárea
117. Pouco líquido
no exame ultrassonográfico (sem indicação no final da gravidez em gestantes
normais)
118. Praticar
musculação ou ser atleta
119. Pressão alta
120. Pressão baixa
121. Problemas
oftalmológicos, incluindo miopia, grande miopia, ceratocone e descolamento da retina
122. Profissão
professora
123. Prolapso de
valva mitral
124. Prótese total
de quadril
125. Prurido
gestacional
126. Qualquer
malformação fetal incompatível com a vida
127. Qualquer
procedimento cirúrgico durante a gravidez
128. Queloide ou
tendência a queloide podendo complicar uma episiotomia (e a cesárea não? E para
que fazer episiotomia?)
129. Reação
vasovagal
130. Sedentarismo
131. Septo
uterino/cirurgia prévia para ressecção de septo por via histeroscópica
132. Ser bailarina
133. Sono fetal
(bebê que dorme durante o trabalho de parto)
134. Suspeita
ecográfica de mecônio no líquido amniótico
135. Síndrome de
Down e qualquer outra cromossomopatia
136. Síndrome de
Ovários Policísticos (SOP)
137. Tabagismo
138. Trabalho de
parto prematuro
139. Trânsito
urbano muito intenso
140. Tricomoníase
141. Trombofilias
142. Trombose
venosa profunda
143. Varizes
uterinas
144. Uso de
antidepressivos ou antipsicóticos
145. Uso de
aspirina e outros antiagregantes plaquetários (ex.: clopidogrel)
146. Útero bicorno
147. Útero
retrovertido
148. Vaginose
bacteriana
149. Varizes na
vulva e/ou vagina
150. Violência
urbana, impedindo obstetra (famoso) de sair de casa à noite ou alegada como
pretexto para que as gestantes também não sigam o perigoso percurso até a
maternidade
Nota: infelizmente isto não é piada. Agradeço a
contribuição das gestantes, dos colegas e dos políticos que me mandam
bilhetinhos estapafúrdios indicando cesarianas por motivos os mais exóticos, e
recentemente a Gisele Leal que compilou mais indicações informadas pelas
mulheres dos grupos do Facebook.
Soube de mais algum pretexto estapafúrdio para cesariana?
Escreva para melania.amorim@gmail.com ou poste em meu perfil no Facebook:
Melania Amorim."
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