Fonte: http://vida-estilo.estadao.com.br/blogs/ser-mae/carta-a-carolina-ferraz/
Por: Rita Lisauskas, em 13 de março de 2015, 08:17am.
Por: Rita Lisauskas, em 13 de março de 2015, 08:17am.
Carolina Ferraz, foto do Instagram da atriz.
Oi Carolina, tudo bem com você?
Fiquei sabendo pelos jornais e revistas que você está
grávida aos 46 anos e queria te dar os parabéns. A gente não se conhece, mas
temos algo em comum: fizemos tratamento para engravidar.Hoje em dia a ciência
permite que o que antes era impossível aconteça. Eu sou grata à medicina por
ter conseguido realizar meu sonho de ser mãe mesmo tendo um problema seriíssimo
nas trompas.
Mas não é por isso que te escrevo, não. Li que você
descartou, em entrevista, ter um parto humanizado dizendo não “ter essa coisa
filosófica” e que, por isso, vai ter seu filho no hospital. A expressão
“humanizado” tem sido usada indiscriminadamente e virado erroneamente sinônimo
de parto em casa. Mas humanizado é muito mais que isso, viu? Segundo o
dicionário Aurélio, humanizar é “tornar-se humano, adoçar, suavizar, civilizar,
compadecer-se”. E muitos hospitais, nas últimas décadas, têm praticado o oposto
disso. Acredito, inclusive, que as mulheres voltaram a ter seus filhos em casa
por causa dessas (más) práticas. Mas isso é assunto para outro post.
Queria te falar um pouquinho nesta carta sobre o parto
humanizado. Começo afirmando que ele pode sim ser feito também no hospital.
Basta que você encontre uma equipe médica que respeite suas vontades e o tempo
do seu bebê (confesso que essa é a parte difícil, mas não impossível. Se você
se ler bastante sobre o assunto e tiver sempre em mente que bebês sabem nascer
e que mulheres sabem parir, o seu médico não poderá nunca te convencer do
contrário). Não deixe que ninguém diga que por ter 46 anos você não pode ter um
parto normal e humanizado. Se sua gravidez estiver evoluindo bem, como parece
ser o caso, seu filho pode vir ao mundo da forma mais humana possível.
As mulheres que procuram um parto normal humanizado
querem apenas o que na maioria dos países de primeiro mundo é básico: que o
bebê nasça no tempo dele e não do médico (que muitas vezes não quer ser acordado
de madrugada e nem incomodado aos fins-de-semana). Querem escolher a posição de
parto (parir deitada e com as pernas para cima daquele jeito das novelas é
quase impossível, sabia?). Querem ter o direito de tomar (ou não) a anestesia,
não querem ser cortadas “para ajudar o bebê a passar” e querem gritar e gemer
sem ouvir o clássico machista: “na hora de fazer não doeu, né?” Elas querem
também que seus bebês sejam trazidos imediatamente para o peito em vez de serem
aspirados, limpos ou pesados (aconchego da mãe é melhor e mais importante que
ir direto para uma balança gelada, né não?). Essas mães desejam também que os
médicos esperem alguns minutos para cortar o cordão umbilical porque sabem que
o sangue que está lá pertence ao bebê e pode garantir que ele não tenha anemia
nos primeiros seis meses de vida. Querem poder regular a luz, já que o bebê
está há 9 meses em um útero escuro, escolher uma música tranquila (nada como
uma trilha sonora para estrear nesse mundo, hein?) e que o bebê não seja
carregado como um frango no abatedouro e nem leve um tapinha na bunda para
chorar. (A gente precisa nascer apanhando e chorando?). Ou seja, o parto
humanizado não é nada demais considerando que o corpo é da mulher e que o bebê
também é dela, não acha?
É claro que você pode considerar que nada disso é
importante, é um direito seu. É claro que você pode achar que nascendo bem,
tendo os olhos e nariz nos lugares certos, está de bom tamanho. Sem dúvida. Seu
corpo, seu filho, suas regras. Mas eu achei que devia dividir algumas coisas
que aprendi com você. É essa a conversa que eu tenho com todas as minhas amigas
grávidas. Claro que não somos amigas, mas sabe como é: a gente vê a pessoa na
TV durante tantos anos que se sente próxima. E é em nome dessa simpatia que
nutro por você que desejo do fundo do coração que você tenha uma boa hora e que
seu filho nasça com muita saúde e paz.
Abraços,
Rita.
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