Um hospital público de São Paulo aboliu neste mês a
prática chamada de manobra de Kristeller durante os partos após uma paciente
procurar o Ministério Público Federal para relatar as dores que sentiu durante
o procedimento.
De acordo com a Procuradoria, o Hospital Geral de
Pedreira, na zona sul da cidade, reconheceu que a manobra é uma violência obstétrica. A técnica consiste em pressionar com força a parte superior do
útero para agilizar a saída do bebê, o que pode causar lesões graves para a
mãe, como fratura de costelas e descolamento da placenta. Já os bebês podem
sofrer traumas encefálicos com o procedimento. O hospital estadual é gerido
por uma OS (organização social).
A paciente que procurou o MPF relatou que sentiu “dores
extremas” durante o procedimento. Segundo a denúncia, o médico que a atendeu
subiu duas vezes sobre a sua costela para “empurrar o bebê com os punhos
fechados”.
Assim que tiveram conhecimento do caso, as procuradoras
Luciana da Costa Pinto e Ana Previtalli recomendaram para a direção da unidade
que não fizesse mais a prática e que informasse os profissionais de saúde que o
procedimento não deve mais ser usado. A recomendação determinava ainda que os
funcionários tivessem um treinamento para oferecer um atendimento mais
humanizado para as parturientes. Na unidade de saúde, foram espalhados cartazes
de orientação aos pacientes e funcionários dizendo que a “manobra de Kristeller
é uma violência obstétrica e, portanto, é contra-indicada”.
Segundo o Ministério da Saúde, a manobra de Kristeller
deve ser evitada por ser “ineficaz e algumas vezes prejudiciais”. Mesmo não sendo recomendada, inclusive pelo
CFM (Conselho Federal de Medicina), o procedimento é muito comum nas
maternidades do país.
De acordo com a pesquisa “Nascer no Brasil”, da Fiocruz,
37% das mulheres tiveram ou o médico ou
o auxiliar de enfermagem pressionando a sua barriga durante o parto.
O levantamento, divulgado no ano passado, mostra que a
prática é tão comum nas maternidades públicas como nas privadas. A prática é mais comum ainda no Centro-Oeste
e no Nordeste onde as taxas foram ainda
superiores, ou seja, 45,5% e 40,6%, respectivamente.
As procuradoras acreditam que o combate à adoção da
técnica depende tanto dos profissionais de saúde quanto das parturientes. “Os
médicos que estão habituados a realizar a manobra de Kristeller devem, com
urgência, rever suas práticas”, alerta Ana Previtalli. Para Luciana da Costa
Pinto, “as mulheres precisam se informar de que se trata de procedimento
perigoso e que não deve ser realizado”. Em caso de ocorrência, as gestantesdevem denunciar os fatos na página eletrônica do MPF.
Em março, o MPF abriu um inquérito civil público para
investigar os casos de violência obstétrica, como a episiotomia e outrosprocedimentos sem o consentimento da parturiente.
Quem realizar a
técnica, segundo as procuradoras,
pode receber sanções administrativas perante os conselhos regionais de
medicina, além de ações cíveis e penais se houver danos à saúde da mulher ou do
bebê.
Procurada pelo Maternar, a Secretaria de Estado da Saúde
A informou que está redefinindo a linha de cuidados com as gestantes, com a
inclusão de novas diretrizes no plano de boas práticas de assistência ao parto
seguro, dentre elas, a restrição à manobra de Kristeller.
“O novo plano já está sendo elaborado e, inclusive, na
última segunda-feira (15) e na terça-feira (16) ocorreram dois seminários com
representantes da secretaria e de outros órgãos relacionados à saúde da mulher
para tratar do tema”, diz nota enviada pela pasta.
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